Primeira-ministra da Estónia: "devemos dar perspetivas" à Ucrânia porque a "esperança dá força"

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De  Efi Koutsokostaeuronews
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"Eles estão literalmente a lutar pela Europa. Por isso, devemos também propor-lhes uma trajetória tangível para se juntarem à nossa família europeia", disse à euronews Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia.

Os líderes europeus reuniram-se em Paris para discutir o eventual reforço das sanções contra Moscovo e medidas para a defesa e independência energética da União Europeia. A euronews entrevistou Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia, Estado-membro da UE que faz fronteira com a Rússia.

euronews: “É uma das pessoas que defendem uma maior presença militar na fronteira. Teme que a Estónia seja o próximo alvo se Putin vencer na Ucrânia?”

"Não temos medo, mas estamos a preparar-nos"

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia: “A questão correta seria: será que a NATO é o próximo alvo quando Putin for bem sucedido na Ucrânia? Fazemos parte da NATO. O Artigo 5º do Tratado diz que um ataque contra um dos membros é um ataque contra todos. Ou seja, se formos atacados, significa que os EUA, a França ou a Alemanha são atacados. Penso que isso é demasiado ambicioso mesmo para a Rússia. Por isso, não temos medo, mas estamos a preparar-nos. A nossa postura, até agora, é a postura de dissuasão. Mas, temos de avançar para o plano de defesa, para estarmos prontos a defender-nos, quando ou se for necessário”.

"O nosso objetivo é acabar com esta guerra"

euronews: “O risco de o conflito na Ucrânia se alastrar para a Europa é um risco real?"

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia: “Claro. Estamos a tentar ajudar a Ucrânia através de todos os meios possíveis de que dispomos para que protejam e defendam o seu país. O nosso objectivo é acabar com esta guerra, fazer tudo para travar a guerra, para que ela não vá mais longe. É claro que nenhum de nós pode prever o futuro. É díficil saber se se trata de uma boa decisão ou não. Mas o que tentamos fazer, é pôr fim a esta guerra na Ucrânia e evitar que ela se alastre".

Podemos dar perspetiva (...) dar esperança aos ucranianos. Porque a esperança também dá força. Penso que é nosso dever moral dar essa esperança.
Kaja Kallas
primeira-ministra da Estónia

euronews: “Disse no Parlamento Europeu que a União Europeia tem o dever moral de fazer da Ucrânia um estado membro. Mas porquê? Como é que uma candidatura à União ajudaria a Ucrânia em plena guerra?”

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia: “Eu disse que é preciso dar à Ucrânia uma perspectiva europeia. Dar esperança à Ucrânia. Eles estão literalmente a lutar pela Europa. Por isso, devemos também dar-lhes uma trajetória tangível para se juntarem à nossa família europeia. É um ponto que também vamos debater. Claro que isso não acontecerá de um dia para o outro. Há passos a dar no caminho. Nós já passámos por isso, conhecemos bem a parte prática. Penso que a Europa tirará proveito de uma Ucrânia mais próspera, mais estável, mais orientada para o Estado de direito".

"Paciência estratégica" para que as sanções tenham efeito

euronews: Mas nem todos os seus colegas têm a mesma opinião em relação a um alargamento da União Europeia, nesta altura. Não é melhor dizê-lo claramente aos ucranianos, em vez de fazer promessas vazias?

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia: Não devemos fazer promessas vazias. É claro, mas podemos dar perspetiva, dar alguns passos tangíveis para dar esperança aos ucranianos. Porque a esperança também dá força. Penso que é nosso dever moral dar essa esperança. É o mínimo que podemos fazer.

euronews: "Durante esta crise a União Europeia tomou sanções sem precedentes contra a Rússia e ficou muito próxima dos aliados da NATO, mas como é que a União Europeia pode dar-se ao luxo de tomar outras medidas? O que é que está em cima da mesa neste momento?"

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia: “É verdade que a Europa tem estado muito unida e tem sido muito rápida a a implementar e elaborar sanções. Até agora, a Europa não era uma organização particularmente ágil. Por isso, penso que surpreendemos Putin. Surpreendemos o mundo, mas também nos surpreendemos a nós próprios por sermos tão fortes e rápidos neste domínio. Já vamos no quarto pacote de sanções, depois das primeiras sanções que datam de 2014. É claro que estamos a explorar novas formas de exercer pressão sobre a máquina de guerra de Putin e de retirar as finanças a essa máquina de guerra para que ele não possa continuar com esta guerra. As sanções estão a doer, mas, precisamos de ter paciência estratégica para que as sanções tenham realmente efeito".

Estamos a falar da guerra de Putin e do Kremlin, e não dos falantes de russo. Não podemos confundir o Putin com o povo russo. É preciso manter esta distinção.
Kaja Kallas
primeira-ministra da Estónia

O preço da liberdade e o preço do gás

euronews: “Mas qual é o preço que os cidadãos europeus terão de pagar? O que é que lhes diria?

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia: “Podemos dizer que o gás pode ser caro, mas a liberdade não tem preço. Eu venho de um país onde não tínhamos liberdade. Eu nasci na União Soviética. Sei muito bem o que isso significa. Diz-se que só compreendemos o valor da liberdade quando ela nos é retirada. Por isso, é muito difícil explicar essa realidade aos países ou às pessoas que não passaram por isso. Mas, claro, vai ser difícil. Temos de ser honestos com os nossos cidadãos e assumir que enfrentamos tempos difíceis. E até agora, as discussões na União Europeia estão centradas em visar a máquina de guerra de Putin sem que as pessoas sejam demasiado afetadas porque precisamos do apoio do povo para as decisões. Se as sanções são algo que o povo não pode suportar, é difícil mantê-las em vigor.

euronews: “Este conflito desencadeou tensões dentro do seu país, porque existe uma minoria de língua russa que se queixa há anos de não ter sido tratada em pé de igualdade".

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estónia: Essas queixas não têm estado tão presentes nos últimos tempos. Temos cerca de trezentos mil falantes de russo, mas não são um grupo homogéneo. Na maioria são cidadãos estónios e também sentem o laço emocional com a Estónia. Neste momento, devido a esta guerra, temos também a minoria ucraniana. Há tensões entre esses grupos e temos de ter cuidado. Estamos a falar da guerra de Putin e do Kremlin, e não dos falantes de russo. Não podemos confundir o Putin com o povo russo. É preciso manter esta distinção”.

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