"Temos de continuar e eu já vivi o suficiente. Não tenho medo", diz residente de Kiev

Casal passeia o filho de seis meses junto a uma barricada em Kiev
Casal passeia o filho de seis meses junto a uma barricada em Kiev Direitos de autor AP Photo/Rodrigo Abd
De  Anelise Borgescom tradução de Francisco Marques
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Reportagem da Euronews na capital da Ucrânia mostra como os residentes que ali resistem se começam a habituar ao dia a dia em plena invasão russa

PUBLICIDADE

Mais um dia, mais um bombardeamento numa zona residencial de Kiev, mais mortos, mais feridos, mas ainda assim há quem ainda consiga desfrutar a ida a um café como antes da guerra ou quem simplesmente passeie pela cidade.

A enviada especial da Euronews à capital da Ucrânia andou pela cidade e descobriu alguns residentes que resistem ao medo dos bombardeamentos das forças afetas ao Kremlin. Outros só querem amaldiçoar os invasores. Um em especial.

A jornalista Anelise Borges esteve de manhã junto a um bloco de apartamentos residenciais, mais um, alvo de mísseis russos. As autoridades dizem ter morrido uma pessoa no local onde estivemos e que dezenas ficaram feridas.

Anna, uma residente de Kiev já com 81 anos e muita vida para contar, diz à nossa repórter que os invasores "bombardearam tudo". "Os russos são nossos irmãos, mas bombardearam-nos", diz, contando ter visto "três ambulâncias" junto do prédio alvejado.

Uma outra mulher, sem se identificar, dizia-nos ter ficado sem palavras. "Apenas os quero amaldiçoar. Em especial, o Putin", destacou.

Na última semana, Kiev foi alvejada muitas vezes com artilharia pesada, mas os residentes que se mantém na capital estão a fazer o melhor para se aguentarem e alguns até parecem começar a habituar-se a este novo normal da cidade: as bombas.

Caminhando pelas ruas da caital, Anelise Borges cruza-se com um rapaz de um serviço de entregas que continua a trabalhar enquanto se ouvem as bombas a cair não muito longe. "Por estes dias, as pessoas têm encomendado cigarros e comida para gatos", contou este entregador à nossa jornalista.

Depois, Anelise Borges cruza-se com Eugene, um idoso que caminha tranquilamente pela rua.

"Porque anda pela cidade? Não é perigoso?", questiona a jornalista da Euronews.

"Temos de continuar e eu já vivi o suficiente. Não tenho medo", responde o ucraniano, com um estranho sorriso a colorir-lhe a face rosada.

Numa estação de metro de Kiev, encontrámos várias pessoas a abrigarem-se após soar mais uma sirene de alerta para ataques aéreos.Outras estão por ali simplesmente à espera do metro seguinte.

"O serviço tem sofrido perturbações, mas alguns transportes públicos surpreendentemente ainda funcionam", constata a nossa enviada especial.

Tal como alguns cafés como o “Buena Vista Bar”, no centro da cidade, ainda a servir os clientes apesar de a guerra estar ali tão perto.

"Muitos jornalistas vêm aqui. Muitos residentes locais também. Ficam todos surpreendidos por estarmos abertos e por poderem vir aqui tomar um café como faziam antes antes da guerra. É como se regressassem a esses tempos e agora até vamos começar também a fazer croissants. Vamos ter um forno e ainda vai ser mais confortável vir aqui", conta-nos Eugene Petrichenka, de trás do balcão.

É um novo normal que parece emergir lentamente na capital da Ucrânia, onde a violência da guerra está cada vez mais presente na vida daqueles que insistem em continuar a viver na cidade apesar do risco que agora enfrentam todos os dias.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Refugiados ucranianos na primeira pessoa

Joe Biden tenta virar Xi Jinping contra Vladimir Putin em conversa de duas horas

Crise humana em Mariupol