Ex-polícia julgado por crimes da ditadura na Argentina

Mario Alfredo Sandoval lê os seus argumentos de defesa, durante o julgamento, na Argentina
Mario Alfredo Sandoval lê os seus argumentos de defesa, durante o julgamento, na Argentina Direitos de autor AFP
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Um ex-polícia de Buenos Aires está a ser julgado pela tortura e desaparecimento de um jovem em 1976. Sandoval é suspeito de muitas outras atrocidades

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Começou na Argentina o julgamento de Mario Sandoval, um antigo inspetor da polícia de Buenos Aires acusado da morte e tortura de um estudante e ativista, Hernan Abriata, durante a ditadura, em 1976.

Em sua defesa, perante o tribunal, Sandoval acusou a família Abriata de mentir.

"Pergunto-me, como puderam os membros da família Abriata alterar a sua declaração, ajustando-a conscientemente para fins ilegais sem se preocuparem com a verdade para acusarem e procurarem condenar uma pessoa inocente, neste caso, eu", disse.

Durante quatro décadas e meia a família reuniu provas e testemunhos. A advogada, Sol Hourcade, espera que sejam suficientes e requer a pena máxima de 25 anos de prisão.

"O que esperamos é que todas as provas recolhidas durante a fase de investigação possam ser produzidas e que o tribunal chegue eventualmente à condenação de Mario Alfredo Sandoval. Entendemos que as provas demonstram a sua responsabilidade no que aconteceu a Hernan Abriata, em 30 de outubro de 1976".

Monica Dittmar, a companheira de Hernan Abriata testemunha no processo contra Sandoval e contou à agência de notícias francesa, AFP: "Eu estava com Hernan quando bateram à porta", acrescentando que Sandoval foi o primeiro agente de segurança do Estado a entrar na sala.

"Quando levaram a Abriata", prosseguiu referindo-se ao agente da polícia, "ele mostrou-me as suas credenciais".

Mario Sandoval é suspeito de ter participado em centenas de sequestros atos de tortura e desaparecimentos. Tem sido acusado por sobreviventes da notória Escola de Mecânica da Armada (ESMA), que serviu como a maior instalação de detenção e tortura do país.

Cerca de 5.000 pessoas foram enviadas para lá e a maioria desapareceu, levadas por avião em "voos da morte" e despejadas no Rio da Prata. Apenas cerca de 100 pessoas detidas na ESMA sobreviveram.

Os sobreviventes dizem que Sandoval, aparentemente apelidado de "bife grelhado" por torturar prisioneiros amarrados a uma estrutura de cama metálica com eletricidade, era particularmente ativo na ESMA.

Mario Alfredo Sandoval fugiu para França em 1985, dois anos após a queda da junta militar, e construiu ali uma nova vida como consultor de defesa e segurança. Foi professor em várias instituições, incluindo a Sorbonne e o Instituto de Altos Estudos Latino-Americanos, em Paris.

Foi encontrado por um estudante na Sorbonne depois de alguns ex-prisioneiros da ESMA o terem reconhecido a partir de fotografias e foi preso em casa, nos subúrbios de Paris.

Embora tenha adquirido a nacionalidade francesa em 1997, a Argentina obteve com sucesso a sua extradição, porque não era francês na altura dos alegados crimes.

Sandoval tinha apresentado uma petição ao Conselho de Estado francês, sem sucesso, numa tentativa de impedir a sua extradição.

Desde que a acusação de figuras da ditadura foi retomada em 2006, após uma década de amnistias controversas, mais de 1.000 pessoas foram condenadas por crimes contra a humanidade.

Estão em curso processos e investigações contra mais 500 pessoas.

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