Qatar e FIFA proíbem álcool nos estádios do Mundial e geram receios de outros recuos

Frigorífico da Budweiser no centro de imprensa em Doha, no Qatar
Frigorífico da Budweiser no centro de imprensa em Doha, no Qatar Direitos de autor AP Photo/Hassan Ammar
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De  Francisco Marques
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O país anfitrião do Mundial tem sido criticado devido às restrições de direitos humanos, prometeu ser tolerante durante o torneio, mas esta proibição de última hora pode abrir porta à revisão de outras aberturas

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O Qatar e a FIFA decidiram proibir, a dois dias do início do Mundial, a venda de bebidas alcoólicas dentro do perímetro dos estádios onde vão decorrer os jogos a partir de domingo. E este volte-face está a gerar receios de que outras promessas de tolerância, por exemplo aos adeptos estrangeiros da comunidade LGBT, possam também ser revistas.

Para já, um dos principais patrocinadores do torneio da FIFA, a cervejeira americana Budweiser viu-se obrigada a retirar todas as bebidas alcoólicas dos estádios e do respetivo perímetro durante a competição, o que poderá certamente afetar pela negativa as receitas previstas pela empresa.

A proibição da venda de bebidas alcoólicas nos locais onde vão decorrer, a partir deste domingo, os jogos do Mundial, foi conhecida esta sexta-feira. Primeiro, foi o jornal The Times a avançar a notícia. Depois, a confirmação da FIFA, num comunicado.

"Após discussões entre as autoridades do país anfitrião e a FIFA, a decisão foi tomada no sentido de limitar a venda de bebidas alcoólicas ao FIFA Fan Festival e outros destinos dos adeptos e locais licenciados, removendo os pontos de venda de cerveja do perímetro dos estádios do Mundial da FIFA 2022 no Qatar", lê-se na página do organizador.

A FIFA assegura no entanto que a decisão "não tem nenhum impacto na venda da Bud Zero". O consumo da cerveja sem álcool do patrocinador do Mundial "continua a ser possível em todos os estádios do mundial do Qatar",acrescenta a FIFA.

A Budweiser limitou-se a revelar que a decisão foi tomada "fora do controlo" da companhia e espera agora que a venda da Bud Zero compense a limitação imposta.

A Associação Inglesa de Adeptos de futebol (FSA, na sigla original) reagiu com críticas a uma decisão anunciada praticamente em cima do dia do íncio do Mundial e alerta para a eventual mudança de outras regras de tolerância com o que o Qatar se comprometeu quando decidiu organizar esta competição internacional.

"Alguns adeptos gostam de uma cerveja durante os jogos, outros não, mas o verdadeiro problema é o volte-face no último minuto que levanta uma questão maior: a total falta de comunicação e de transparência do comité organizador em relação aos adeptos", denuncia a FSA.

A associação alerta para o facto de que, se eles podem mudar de opinião em relação a isto a qualquer momento, sem nenhuma explicação, os adeptos deverão ter compreensíveis receios se eles irão manter também outros compromissos relacionados com a o acolhimento, transporte e diferenças culturais".

Em declarações à France Press, Ronan Evain, o diretor-geral da FSA, reforça as preocupações, questionando "se isto significa que tudo é revogável", dando como exemplo  "a segurança dos adeptos LGBT quando estão nos estádios a apoiar as suas equipas ou a possibilidade de se beijarem na rua", atos proibidos pela lei em vigor no Qatar, mas que se esperam sejam tolerados durante o Mundial.

As tendas vermelhas e brancas da Budweiser já foram afastadas das entradas dos estádios porque "estavam muito visíveis". "Foi uma ordem que veio de cima", referiu uma fonte anónima da organização à AFP.

Os bilhetes de acesso aos espaços VIP dos estádios continuam a oferecer pacotes onde se incluem "cerveja, champanhe, vinho e bebidas espirituosas", a valores entre os 900 e os 29 mil euros.

Na zona principal da FIFA destinada aos adeptos, as bebidas alcoólicas podem ser adquiridas a partir das 18h30  locais. Nas zonas privadas destinadas a adeptos, as regras variam e o centro de imprensa em Doha, para o Mundial, integra um bar.

No Qatar, beber álcool é legal para os não muçulmanos com mais de 21 anos, mas com regras muito apertadas. A importação de álcool é proibida e os turistas apenas podem beber na maioria dos hotéis, onde uma cerveja ou um copo de vinho pode custar cerca de 10 euros e um cocktail mais de 15 euros.

No Mundial anterior, na Rússia, onde é reconhecido uma grave problema de alcoolismo, o consumo de álcool era permitido nos estádios apesar de várias outras competições internacionais anteriores terem proibido o consumo de álcool nos locais dos eventos.

Em 2014, o Brasil levantou durante o Mundial a proibição de consumo de álcool que tinha em vigor nos estádios de futebol.

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