Virginijus Sinkevičius quer acordo ambicioso para preservar a biodiversidade

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Virginijus Sinkevičius, comissário europeu para o ambiente, falou com a Euronews sobre o perigo do colapso da biodiversidade e as possíveis soluções.

O colapso da biodiversidade é uma crise quase invisível, que coloca em perigo a nossa segurança alimentar, a nossa saúde e a qualidade da atmosfera em que vivemos. Para além disso, ameaça fazer desaparecer milhões de espécies vivas. Para discutir este perigo e também as soluções, falámos com o comissário europeu para o ambiente, Virginijus Sinkevičius.

Grégoire Lory, Euronews: Comissário, olá e obrigada por responder às nossas perguntas.

Virginijus Sinkevičius, Comissário Europeu para o Ambiente: É um prazer. Obrigada pelo convite.

GL: Deixe-me começar pelo recente acordo, estabelecido pelas instituições da União Europeia, para proibir produtos que contribuem para a desflorestação. Como é que este acordo vai impactar a vida diária das pessoas e que importância terá para a biodiversidade?

VS: Agora, os europeus saberão que ao comprar, por exemplo, chocolate ou café nas lojas, que estes produtos provêm de terra que não está associada à desflorestação. E penso que, faz parte da nossa credibilidade, assegurar que nós, e os nossos padrões de consumo, aqui na Europa, não conduzem a perdas florestais em todo o mundo. Mas temos também uma legislação credível que assegura que o nosso comércio, ou o nosso consumo, não impulsiona esses processos.

GL: A biodiversidade está no centro das preocupações internacionais devido à COP15 da ONU, em Montreal, na qual você estará presente, mas o encontro não está a ter tanta atenção como a conferência do clima, a COP-27, que se realizou no mês passado no Egito. Como é que pode explicar esta falta de interesse?

VS: Creio que não é falta de interesse, mas sim, talvez mais uma falta de consciência e compreensão. Na questão climática, estamos provavelmente dez anos à frente, do que estamos com as políticas de biodiversidade. O clima é muito mais fácil de negociar e compreender. Em primeiro lugar, existe este objetivo global de 1.5 graus, que toda a gente compreende bem.

Em segundo lugar, penso que o acordo de Paris fez com que aumentasse a sensibilização em torno do clima porque foi um acordo histórico. E, por isso, penso que existe sempre uma atenção adicional por parte dos meios de comunicação social, dos decisores políticos, da sociedade civil, que nos perguntam se estamos a cumprir as enormes promessas que fizemos e que foram motivo de esperança. Tudo combinado, basicamente é isto. Para a biodiversidade, ainda não chegámos lá. Ainda precisamos de um objetivo global, algo semelhante aos 1,5 graus acordados. As sociedades ainda não compreendem o que é a biodiversidade. As pessoas podem ter opiniões completamente diferentes e, demasiadas vezes, dizem que se trata apenas de algo sobre o ambiente. Para ser honesto, trata-se, em primeiro lugar, dos seres humanos e da saúde do nosso planeta.

GL: Face a tantas crises atuais, não existe uma espécie de fadiga climática?

VS: Sim, é possível. E, provavelmente, às vezes, parece que não existe uma atenção imediata, mas o assunto não desapareceu.

A covid-19 teve um impacto trágico na nossa sociedade, devido ao número de mortos, mas tivemos a sorte de ter uma vacina. Agora, temos uma situação de guerra, o que, obviamente, absorve a nossa atenção. Mas existe também uma pressão acrescida ao nível económico, com as contas de energia a subir, a inflação a aumentar. Mas um dia existirá um tratado de paz, mais cedo ou mais tarde.

Para a crise da biodiversidade, para a crise climática, não haverá vacina ou um tratado de paz. Portanto, temos de fazer avançar essas políticas. Por vezes, podem não receber atenção imediata. Por vezes, podem ser muito complicadas, mas penso que já provámos, muitas vezes, que a decisão de 2019, de introduzir o Acordo Verde Europeu, foi a correta. E mesmo agora, num contexto de guerra e crise energética, vemos que a solução é, de facto, o Acordo Verde, o desenvolvimento das energias renováveis e precisamos de assegurar que os projetos serão lançados o mais rapidamente possível.

GL: Quais são os objetivos da União Europeia para esta COP15?

VS: Em primeiro lugar, precisamos de um acordo global, que terá de ser ambicioso. É preciso ter o objetivo 30 por 30, que penso que pode ser igual ao acordo de 1.5 graus, ou, como no momento em Paris em que acordámos proteger 30% dos territórios terrestres e 30% dos territórios marinhos. Isso não será suficiente. Em segundo lugar, precisamos de assegurar que, pelo menos 20% dos esforços de restauração da natureza, serão desenvolvidos até 2030 e 2040. Precisamos de parar a perda da biodiversidade, até 2050, e esse tem de ser o nosso objetivo global.

Em último lugar, mas não menos importante, surge o financiamento. Esta será, como sempre, uma questão complicada, que exigirá muito esforço de todas as partes. Mas creio que o mais imporante é assegurar que não exista uma lacuna entre o financiamento e a implementação dos objetivos acordados, porque estamos dois anos atrasados. Estamos a falar do enquadramento até 2030, que foi acordado em 2020.

GL: Sobre o financiamento, não tem medo de ver a mesma discrepância entre o Norte e o Sul do globo, como vimos durante a COP 27?

VS: Inevitavelmente, existirá , essa divisão. E como sempre, um lado dirá: ‘se quer que façamos mais, terá de colocar mais em cima da mesa’.

Por outro lado, temos uma situação económica muito diferente daquela que tínhamos há dois anos. Por outro lado, temos uma situação económica muito diferente daquela que tínhamos dois anos. Portanto, é, muito difícil pôr dinheiro adicional em cima da mesa. Orgulho-me de que a União Europeia, tenha uma vez mais,  uma posição credível. Comprometemo-nos a duplicar os nossos fundos para a biodiversidade e fizemo-lo. E estou também muito agradecido à França, à Alemanha, que também o fez. Precisamos que outros países desenvolvidos também o façam. Mas o que é muito claro, e temos de ser realistas, é que o dinheiro angariado, nunca será suficiente, mas temos de o utilizar de forma eficaz.

GL: Quanto dinheiro é necessário e de onde é que ele poderá vir?

VS: Como disse, é difícil dizer quanto dinheiro é necessário. Existem estimativas diferentes. E como eu digo, todo o dinheiro provavelmente não seria suficiente. Há países que pedem 100 mil milhões por ano. Penso que, neste momento, é absolutamente irrealista. Se olharmos de onde vem o dinheiro, vem de contribuições e fundos nacionais ou europeus, vem principalmente dos orçamentos para o desenvolvimento.

Agora, temos de assegurar que, utilizando o atual mecanismo de financiamento, também exploramos possibilidades de outras fontes: filantropos, bancos de investimento, especialmente os internacionais. Penso que todos eles têm de desempenhar um papel crucial, acrescentando financiamento adicional, também do setor privado. Portanto, existe potencial para um financiamento adicional. Penso que o atual mecanismo de financiamento poderá ser aberto a isso. Este será também um dos tópicos durante as negociações.

GL: Comissário Sinkevičius, obrigado por responder às nossas perguntas.

VS: Muito obrigado e obrigado por me receberem.

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