Vladimir Putin ordena cessar-fogo unilateral na Ucrânia durante o Natal ortodoxo

Patriarca Kirill com Vladimir Putin na Páscoa ortodoxa de 2019
Patriarca Kirill com Vladimir Putin na Páscoa ortodoxa de 2019 Direitos de autor Alexander Zemlianichenko/AP/Arquivo
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De  Francisco Marques
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Após apelos do líder da igreja ortodoxa de Moscovo e de Toda a Rússia, e do homólogo turco, Presidente da Rússia manda calar as armas na "operação militar especial"

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O Presidente da Rússia ordenou um cessar-fogo unilateral na guerra da Ucrânia entre o meio dia de sexta-feira e a meia noite de sábado, respetivamente, a véspera e o dia de Natal para a igreja ortodoxa. A instrução do líder do Kremlin foi divulgada pelas agências de notícias russas, Ria Novosti e Tass.

A decisão de Vladimir Putin surge após um apelo nesse sentido pelo Patriarca Kirill, o líder da igreja ortodoxa de Moscovo e de Toda a Rússia, e numa semana marcada por um ataque ucraniano contra uma base militar russa nos territórios ocupados de Donetsk, onde terão morrido quase 90 soldados das forças fiéis ao Kremlin.

Os ortodoxos celebram o nascimento de Jesus 14 dias depois dos católicos romanos e, em vésperas dessa data sagrada, Kirill apelou a todas as partes envolvidas na guerra a um cessar-fogo para que os crentes pudessem assistir às missas de celebração natalícia..

No entanto, do lado ucraniano não está esquecido o apoio do patriarca russo à invasão da Ucrânia, logo a 27 de fevereiro, e reiterado em setembro quando abençoou os cidadãos russos mobilizados pelo Kremlin para reforçar a designada "operação especial militar" no país vizinho.

O conselheiro do Presidente Zelenskyy, Mykhailo Podolyak, apelidou o apelo do líder religioso russo como uma "armadilha cínica" e um ato de "propaganda".

"A Igreja Ortodoxa Russa (ROC, na sigla anglófona) não é uma autoridade para a ortodoxia global e atos como uma 'guerra propagandista'. A ROC apelou ao genocídio de ucranianos, incitou assassinatos em massa e insiste numa ainda maior militarização da Federação Russa. Por isso, a declaração da ROC sobre umas 'tréguas de Natal' é uma armadilha cínica e um elemento de propaganda", escreveu Podolyak, no lançamento de várias publicações pelas redes sociais.

O conselheiro de Zelenskyy diz ser "totalmente inaceitável" negociar com Putin ou com a Federação Russa, que acusa de atacar territórios estrangeiros e de matar civis. "A Federação russa tem de abandonar os territórios ocupados e só então haverá uma 'trégua temporária'. Guardem a hipocrisia para vocês mesmos", rematou Podolyak, dirigindo-se ao Kremlin.

A deputada ucraniana Inna Sovsun, antiga ministra adjunta da Educação, revelou-se irónica numa outra publicação nas redes sociais a propósito das tréguas do Kremlin.

"Oh! Tão giro. Os russos estão agora a pedir um cessar-fogo para o Natal ortodoxo. Os mesmos russos que bombardearam cidades ucranianas no dia e na noite de ano Novo", escreveu a também antiga ministra adjunta ucraniana da Educação (2014-2016).

Erdogan fala com Putin e Zelenskyy

Entretanto, esta quinta-feira, a presidência turca deu conta de conversas telefónicas de Recep Tayyp Erdogan com Vladimir Putin e Volodymyr Zelenskyy.

O presidente turco terá pedido ao homólogo russo um cessar-fogo unilateral na Ucrânia e a visão para uma solução justa no conflito, como base para um processo de paz entre as duas partes.

O Kremlin revelou que Putin respondeu a Erdogan sublinhando o papel destrutivo que diz estar a ser protagonizado pelo ocidente ao fornecer armas à Ucrânia e informações operacionais e sobre alvos a atingir.

O líder russo terá ainda assim mostrado abertura para o diálogo desde que o governo ucraniano cumpra as exigências do Kremlin e respeite o que Putin descreve como a "nova realidade territorial".

Erdogan também falou ao telefone com o Presidente da Ucrânia e manifestou-se disponível para mediar uma paz duradoura entre Kiev e Moscovo.

Pelas redes sociais, Volodymyr Zelenskyy mostrou-se "satisfeito" por saber que "a Turquia está pronta para participar na implementação da proposta de paz" ucraniana.

Os líderes turco e ucraniano debateram ainda a cooperação em termos de segurança, sobretudo na central nuclear de Zaporíjia, onde "não deve haver invasores", especificou Zelenskyy. O acordo de exportação de cereais também foi abordado entre as partes.

Outras fontes • Tass, Interfax, Anadolu

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