A Igreja espanhola face aos casos de pedofilia

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De  Carlos Marlasca
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Congresso dos Deputados espanhol encarregou Provedor de Justiça independente de documentar casos de abusos

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Durante muito tempo, Fernando García-Salmones teve dificuldade em aceitar o que via no espelho. 

Na escola, quando tinha apenas 14 anos, um padre, entretanto falecido, chamado José María Pita da Veiga, destruiu a sua inocência e, como diz a vítima, "o abutre fez com que o pequeno rato se sentisse culpado".

Fernando García-Salmones, vítima de abuso sexual: "O padre veio ter comigo num dia de chuva para me pedir que viesse secar no seu quarto e foi aí que tudo começou."

O abuso durou quase um ano. Muitos dos efeitos secundários são inapagáveis.

Fernando García-Salmones, vítima de abuso sexual:"Há uma destruição da capacidade de amar, uma diferenciação completa entre sexualidade e afecto, desconfiança, um sentimento permanente de culpa, um medo devastador da solidão."

Em Outubro de 2018, o jornal El País lançou a primeira investigação em Espanha, quando havia apenas registo de 34 vítimas. 

Três anos depois, abriu uma base de dados abrangente, com mais de 1700 sobreviventes de abusos. 

Por vezes são necessários anos para que os jornalistas verifiquem as informações mas, para os primeiros passos, foi uma ferramenta fundamental.

Julio Nuñes, jornalista do El País:"O principal impulsionador foi a criação de uma caixa de correio. Criada pelo jornal El País, foi o cordão umbilical que ligava as vítimas a alguém que pudesse verbalizar a sua história e verificá-la."

A Conferência Episcopal Espanhola diz não ter autoridade sobre as diferentes ordens onde ocorreram os casos de abuso e admite que a resposta tem sido "lenta", mas assegura que está a ser feito tudo o possível, incluindo a criação de duzentos gabinetes para assistência às vítimas.

José Gabriel Vera, diretor de comunicação da Conferência Episcopal Espanhola:"O que quer que a sociedade faça, o que quer que a Igreja faça, é uma dor que carregam nos seus corações e que deve ser respeitada. Por parte da Igreja, a proposta é encontrar-se com cada uma das vítimas cara a cara para conhecer o seu caso, a sua história, o seu nome, saber como podem ser ajudadas. Quer de um ponto de vista pastoral, que é o papel da Igreja, quer de um ponto de vista jurídico."

A Igreja Espanhola contabiliza um total de 506 casos.

Em Março do ano passado, o Congresso dos Deputados espanhol encarregou um Provedor de Justiça independente de começar a trabalhar num relatório sobre casos de pedofilia na Igreja Católica e o papel das autoridades públicas. É a primeira investigação oficial realizada em Espanha.

Para atingir o objectivo, foi constituído um painel de peritos independentes. O compromisso vai para além do que foi acordado com os representantes políticos.

Ángel Gabilondo, Provedor de Justiça:"É também um relatório para as próprias vítimas, para que possam reconhecer-se a si próprias, ver a sua própria situação e ver que serão tomadas medidas para exigir responsabilidade e para obter elementos de compensação."

O Provedor de Justiça espera que a Igreja espanhola cumpra a promessa de colaborar e ajudar a estabelecer um quadro completo dos crimes.

Nome do jornalista • Carlos Marlasca

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