A amarga espera pelos familiares que combatem os invasores russos no leste da Ucrânia

Um soldado ucraniano na linha da frente, perto de Bakhmut, Donetsk, Ucrânia
Um soldado ucraniano na linha da frente, perto de Bakhmut, Donetsk, Ucrânia Direitos de autor AP Photo/Libkos
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De  Francisco MarquesNora Shenouda
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Reportagem da Euronews em Mukachevo, cidade no ocidente ucraniano, a 40 quilómetros da Hungria

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Novas sepulturas de soldados ucranianas surgem alinhadas no cemitério de Mukachevo, na Transcarpátia, mais de um ano após o início da invasão russa na Ucrânia, ainda em curso.

São sepulturas colocadas no espaço onde jazem soldados que morreram na II Guerra Mundial, no Afeganistão ou na Crimeia.

Encontrámo-nos no cemitério com Alexander, um jovem de 20 anos que está de luto pelo pai. Perdeu-o há três meses.

"O meu pai pôde vir a acasa pela primeira vez apenas nove meses após o início da guerra. Quando voltou disse-me: ' tens de ser tão forte quanto eu sou'. Foi como se ele pressentisse... Era para ter voltado para o Fim de Ano, mas infelizmente morreu uma semana depois de ter voltado para a linha da frente. O carro onde seguia passou por cima de uma mina", contou-nos Alexander, acrexcentado ter sido "um choque para a família": "Não podíamos acreditar".

A este jovem de 20 anos agora só resta a mãe, um irmão e uma irmã, ambos mais novos. Alexander já não vai ser mobilizado para a guerra porque se tornou no ganha-pão da família.

Embora os residentes de Mukachevo já se tenham adaptado à guerra, muitos dizem que o que estão a sofrer não pode ser esquecido nem perdoado.

É o caso de Klára Halus, uma professora reformada. Tem dois filhos e dois netos a combater a invasão russa.

"Mentalmente, ver isto tudo… Eu não os trouxe para este mundo para agora irem para a guerra. Nem sequer os criei para andarem sobre cadáveres. Quando ligo a TV, espero a notícia de que a guerra acabou. Se a ouvir, tenho a certeza de que vou enlouquecer de to feliz que vou ficar", disse-nos Klára Halu.

A professora reformada não se verga à tristeza. Klára tornou-se voluntária numa organização religiosa e todos os dias visita a nora, Diana, que tem o marido e o filho na guerra.

A nora de Klára confessa-nos estar muito preocupada com os dois.

"O meu filho mais velho é muito inteligente. Ajuda muito. Sabe fazer tudo. A minha filha pergunta quando é que isto vai acabar. Chora muito. Ela quer que o meu marido, o pai dela, volte para casa", conta-nos Diana Halus.

Em Mukachevo, os residentes fazem compras após o trabalho. Vão à igreja e passeiam-se pelo centro da cidade. Homens em idade militar são vistos de uniforme. Alguns tiram fotografias com a família antes de terem de voltar para a guerra.

"Embora não existam combates na região da Transcarpátia, na cabeça destas pessoas não existe paz", conta-nos a enviada especial da Euronews a esta cidade no ocidente da Ucrânia, a cerca de 40 quilómetros da fronteira com a Hungria.

A jornalista Nora Shenouda explica-nos que aqui "os adolescentes tiveram de crescer de um dia para outro e as mulheres tiveram de aprender a virar-se sem a ajuda dos maridos". "Os residentes adaptaram-se às condições da guerra, no entanto todos com quem falámos só querem uma coisa: paz. E tão rápido quanto possível", conclui.

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