Reportagem da Euronews em Mukachevo, cidade no ocidente ucraniano, a 40 quilómetros da Hungria
Novas sepulturas de soldados ucranianas surgem alinhadas no cemitério de Mukachevo, na Transcarpátia, mais de um ano após o início da invasão russa na Ucrânia, ainda em curso.
São sepulturas colocadas no espaço onde jazem soldados que morreram na II Guerra Mundial, no Afeganistão ou na Crimeia.
Encontrámo-nos no cemitério com Alexander, um jovem de 20 anos que está de luto pelo pai. Perdeu-o há três meses.
"O meu pai pôde vir a acasa pela primeira vez apenas nove meses após o início da guerra. Quando voltou disse-me: ' tens de ser tão forte quanto eu sou'. Foi como se ele pressentisse... Era para ter voltado para o Fim de Ano, mas infelizmente morreu uma semana depois de ter voltado para a linha da frente. O carro onde seguia passou por cima de uma mina", contou-nos Alexander, acrexcentado ter sido "um choque para a família": "Não podíamos acreditar".
A este jovem de 20 anos agora só resta a mãe, um irmão e uma irmã, ambos mais novos. Alexander já não vai ser mobilizado para a guerra porque se tornou no ganha-pão da família.
Embora os residentes de Mukachevo já se tenham adaptado à guerra, muitos dizem que o que estão a sofrer não pode ser esquecido nem perdoado.
É o caso de Klára Halus, uma professora reformada. Tem dois filhos e dois netos a combater a invasão russa.
"Mentalmente, ver isto tudo… Eu não os trouxe para este mundo para agora irem para a guerra. Nem sequer os criei para andarem sobre cadáveres. Quando ligo a TV, espero a notícia de que a guerra acabou. Se a ouvir, tenho a certeza de que vou enlouquecer de to feliz que vou ficar", disse-nos Klára Halu.
A professora reformada não se verga à tristeza. Klára tornou-se voluntária numa organização religiosa e todos os dias visita a nora, Diana, que tem o marido e o filho na guerra.
A nora de Klára confessa-nos estar muito preocupada com os dois.
"O meu filho mais velho é muito inteligente. Ajuda muito. Sabe fazer tudo. A minha filha pergunta quando é que isto vai acabar. Chora muito. Ela quer que o meu marido, o pai dela, volte para casa", conta-nos Diana Halus.
Em Mukachevo, os residentes fazem compras após o trabalho. Vão à igreja e passeiam-se pelo centro da cidade. Homens em idade militar são vistos de uniforme. Alguns tiram fotografias com a família antes de terem de voltar para a guerra.
"Embora não existam combates na região da Transcarpátia, na cabeça destas pessoas não existe paz", conta-nos a enviada especial da Euronews a esta cidade no ocidente da Ucrânia, a cerca de 40 quilómetros da fronteira com a Hungria.
A jornalista Nora Shenouda explica-nos que aqui "os adolescentes tiveram de crescer de um dia para outro e as mulheres tiveram de aprender a virar-se sem a ajuda dos maridos". "Os residentes adaptaram-se às condições da guerra, no entanto todos com quem falámos só querem uma coisa: paz. E tão rápido quanto possível", conclui.