Hélène Grimaud: A pianista que se inspira com lobos

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O Concerto Número 1 para piano e orquestra de Johannes Brahms foi a peça eleita por Hélène Grimaud para interpretar no Japão, país que a famosa pianista francesa muito aprecia e onde atuou entre 19 e 23 de novembro.

“Os japoneses parecem-me pessoas bondosas e inocentes. Têm um certo ar de criança. Eles podem maravilhar-nos de uma forma excecionalmente gentil e respeitosa”, destacou Hélène Grimaud à euronews, acrescentando a “atenção ao detalhe” dos nipónicos antes de enaltecer a “atmosfera” do país do sol nascente: “É propícia a também nós sermos generosos e altruístas.”

Para Hélène Grimaud, que celebrou 44 anos a 7 de novembro, o que se revela “sempre tocante é quando os japoneses se libertam e deixam de retrair as emoções”. “Aí, deixam cair as defesas e é como se houvesse uma torrente de excitação, de sentimentos, de sorrisos. Ficamos a sentir-nos muito próximos deles”, disse a pianista.

A loucura de Robert Schumann, que foi mentor e bom amigo de Brahms, ressoa de forma dolorosa nos primeiros momentos deste Concerto número 1. A pianista explica-nos que “esta música” revela “essa tragédia de uma forma pessoal e irresistível”. “Há uma força telúrica do início ao fim. O segundo movimento surge como uma oração, ou melhor ainda, tem um caráter religioso, se não mesmo místico, e no final, há uma força, um ritmo… É como se a Terra estivesse a abrir-se e nós a renascer, a voltarmos à vida… é extraordinário!”, exulta.

Apaixonada e intensa, Hélène Grimaud defende que, “por vezes, a música é tão bela que dói. “Não tenho dúvidas disso, mas essa é a magia dela. A música torna-nos mais sensíveis e, de repente, estamos a viver como se cada célula do nosso corpo se abrisse aos sentimentos. É, também esse, um dos objetivos da música”, considerou.

Tal como para os artistas do Romantismo, a busca pelo absoluto e a harmonia com a natureza estão no coração e no íntimo de Hélène. Pianista famosa, mas também escritora reconhecida, ela é ainda uma etologista especializada no comportamento dos lobos, tendo fundado, inclusive, em 1999 um Centro de Conservação da espécie, em South Salém, Nova Iorque, onde protege cerca de três dezenas de animais.

“A Natureza em si mesma é uma fonte de inspiração. Isto vai para lá dos lobos, inclui os animais em geral e as plantas. Como artista e como ser humano, a natureza é a minha derradeira musa e, de cada vez que nos encontramos com uma espécie em que a linguagem é o menos importante, acontece o mesmo: há um contraponto à música, uma correspondência. A linguagem perde importância, mas tudo o resto está lá “, explicou-nos Hélène Grimaud, antes de concluir: “Como os românticos não se cansam de nos dizer: não existe amor sem ecologia. É por aí também que passa, entre outras coisas, o respeito pelo ‘Próximo’ – e este “próximo” com ‘P’ maiúsculo.”

Nesta reportagem, Hélène Grimaud surge a atuar na sala de concertos da Tóquio Opera City Tower, curiosamente, construído em 1997 e ainda hoje um dos arranha-céus mais altos do Mundo com cerca de 230 metros e 54 andares. A acompanhar a pianista francesa esteve a Orquestra Sinfónica da cidade de Birmingham, sob o comando do maestro Andris Nelsons.

Em setembro, Grimaud lançou o mais recente registo discográfico, gravado em Viena e que inclui a interpretação pela francesa dos Concertos Número 1 e 2 de Brahms (Deutsche Grammophon). Já em outubro, na pele de escritora, lançou o livro “Regresso a Salem” (Albin Michel).

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