Pedro Abrunhosa: "Como se pode decretar que alguém é ilegal?"

Carla Bruni é uma das convidadas de Pedro Abrunhosa em "Espiritual"
Carla Bruni é uma das convidadas de Pedro Abrunhosa em "Espiritual" Direitos de autor Pedro Abrunhosa DR
De  Teresa BizarroPedro Macedo
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O músico português lança "Espiritual". O oitavo álbum da carreira surge com uma temática bem atual e transversal: a crise dos refugiados. À Euronews, explicou a inspiração para o disco e o convite a vozes internacionais

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Pedro Abrunhosa concedeu uma entrevista exclusiva à Euronews para desconstruir o mais recente álbum. "Espiritual" chega às lojas neste último dia de novembro e assume-se, nas palavras do artista português, como "um mergulho mais profundo numa altura transitória em que se confunde conteúdos com informação."

O primeiro single, "Amor em Tempo de Muros", é uma parceria com a mexicana Lila Downs. Abrunhosa defende que embora atravessemos um "tempo de muros que outros nos impõem, na realidade podemos viver em tempos de amor."

"Estes dois mundos coexistem e nós fazemos parte deles. É preciso é escolher de que lado se está. O pior que se pode fazer não é não saber que isto está a acontecer, é fazer de conta que não se sabe", diz o autor de "Espiritual", que se volta a rodear pelos Comité Caviar.

Uma realidade transversal

A escolha de Lila Downs é explicada pela vontade do músico em ter "uma voz em espanhol para fazer a música, alguém daquela zona e que fosse emblemático".

"A Lila Downs está muito envolvida na questão da fronteira e da migração, portanto ela representa aquele universo", justifica Abrunhosa.

O artista juntou neste "Espiritual" um rol de convidados de diferentes origens: uma mexicana Lila Downs), uma norte-americana (Lucinda Williams), um brasileiro (Ney Matogrosso) e três cantoras europeias (Carla Bruni, Ana Moura e Elisa Rodrigues).

A mensagem subliminar de Abrunhosa para esta diversidade geográfica relaciona-se com os focos dispersos da atual crise de refugiados.

"Neste momento, há uma realidade de refugiados que cruza o mundo. É transversal. Desde o Médio Oriente à África subsariana, desde o Oriente, com os Rohyngia, a esta tremenda questão que é a fronteira mexicana com os Estados unidos que acaba por servir como peneira de toda a fome, guerra, ódio e desamor que existe no sul. Era uma realidade que se adivinhava. 'Amor em Tempo de Muros' é uma forma de dizer que há quem se preocupe e que essa questão diz respeito a todos nós", assume.

Para Abrunhosa, "não se percebe como é que se pode construir um muro para impedir alguém de alcançar a felicidade". "Como é que se pode sequer decretar que alguém é ilegal. Eu não entendo isso. O conceito de ilegal não faz parte do vocabulário de Humanidade", defende.

O toque francês

A adesão de Carla Bruni ao projeto foi "imediato" revela-nos o músico português. "Mandei a canção e imediatamente houve adesão. É sempre preciso muita ginástica logística, mas a adesão foi pronta", garante.

O dia de gravação de "Balada Descendente" com a francesa, em Paris, também "foi curioso", na ótica do português.

"Carla Bruni estava a chegar do desfile do Dolce & Gabbana, em Milão, e houve uma transmutação da personagem. Ela vinha de uma função e entregou-se literalmente às mãos do produtor -- eu, neste caso. Muito generosamente, ainda com muito 'jet lag', ela fez a canção com uma leveza e uma rapidez muito grandes, deixando-se trabalhar na voz e na postura", revelou.

O álbum surge como "exatamente o oposto" da "época de entretenimento em que vivemos", e daí o nome "Espiritual".

"É viver as coisas pela essência e a bondade, e não pela aparência. Parece-me que estamos a correr um risco voraz de nos mostrarmos pelo que temos e não pelo que somos. E isto não é uma frase feita, é de facto assim", afirma Pedro Abrunhosa.

A canção do diabo

A Euronews escutou o novo álbum de Abrunhosa com atenção antes da entrevista e no meio das 15 canções incluídas em "Espiritual" existe uma que destoa da temática do amor, a número 12. Perguntámos ao músico, quem "É o Diabo"?

"É um personagem que entrou na história portuguesa pela porta dos fundos. Revela esta realidades que infelizmente grassam no mundo que são a corrupção e o uso indevido de dinheiros públicos. É uma canção que não consegui deixar de escrever. 'Eu sou dono disto tudo, sou um diabo de veludo'. É muito difícil não querer ironizar com estes diabos que andam por aí à solta", explica-nos Abrunhosa.

"Espiritual" surge como um contraponto aos tempos atuais, à "afirmação pelo carro, pela posse, pelas férias, pela 'selfie' e pela desatenção à formação interior e aos nossos valores profundos.

"Nesses valores incluo o respeito, não só pelo o outro, mas pelo conhecimento e pelo saber. É um mergulho mais profundo numa altura transitória em que se confunde conteúdos com informação", concretiza.

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Os concertos confirmados

Pedro Abrunhosa tem apenas cinco concertos de promoção a "Espiritual" confirmados na respetiva páginal oficial na internet, todos em território português e com destaque para o espetáculo no Porto na noite de Passagem de Ano.

A 13 e 14 de dezembro, o músico apresenta-se no teatro José Lúcio da Silva, em Leiria. A 12 de janeiro, Abrunhosa sobe ao palco no Teatro Virgínia, de Torres Novas, e ainda antes de fevereiro, a 26, o portuense atua no Teatro Pax Julia, em Beja.

"Espiritual" pode ser escutado na íntegra nas plataformas digitais Spotify e Apple Music.

Informação oficial de Pedro Abrunhosa:

Editor de vídeo • Teresa Bizarro

Outras fontes • Edição de texto: Francisco Marques

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