Não há pirâmides nem elefantes na nova encenação da ópera "Aida"

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De  Andrea Buring
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A encenadora holandesa Lotte de Beer quis eliminar os estereótipos associadas à obra emblemática de Giuseppe Verdi.

Uma nova produção da ópera "Aida" de Giuseppe Verdi (1813-1901) subiu ao palco na ópera de Paris. O espetáculo decorreu à porta fechada devido às restrições ligadas à pandemia mas poderá ser visto na televisão.

Na nova encenação de Lotte de Beer não há pirâmides, nem faraós, nem elefantes. A encenadora holandesa quis eliminar os estereótipos.

“O ponto de partida da encenação foi a espécie de distorção que existia no século XIX entre uma Europa, composta por potências ocidentais dominantes, e pessoas, que iriam ser colonizadas, e nesse sentidos dominadas. A ideia era  abordar as tensões entre esses dois mundos", contou o barítono francês Ludovic Tézier. 

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A soprano norte-americana Sondra Radvanovsky veste a pele de Aidaeuronews

O poder cénico das marionetas

As personagens principais, Aida e Amonasro, são representadas por marionetas. 

"Durante o espetáculo, as marionetas movem-se como se fossem a outra face das personagens, algo que em alemão, se designa como Doppelgänger. As marionetas são, ao mesmo tempo, assustadoras, fascinantes e comoventes por serem incapazes de estar verdadeiramente vivas”, afirmou o barítono francês.

“É quase como se eu fosse a narradora a contar a história do ponto de vista de uma outra pessoa”, sublinhou a soprano norte-americana Sondra Radvanovsky, que interpreta o papel principal.

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O tenor alemão Jonas Kaufmann desempenha o papel de amante numa nova produção de "Aida".euronews

Entre Hollywood e Bergman

A ação de "Aida" (1871) desenrola-se no tempo dos faraós e conta a história de amor entre uma escrava etíope e um militar egípcio, num contexto de conflito armado.

“É uma história de engano, de ciúme, de amor perdido, onde jovens arrastados pelos seus sentimentos cometem atos irracionais", disse à euronews o tenor alemão Jonas Kaufmann, que veste a pele do amante de Aida.

“Para mim, um aspeto fabuloso desta ópera é o facto de dar ares de mega-produção de Hollywood, e ao mesmo tempo ter momentos muito íntimos e cheios de suspense, momentos psicológicos como num filme de Bergman", frisou Ludovic Tézier.

"Gostaria de conhecer o próximo capítulo!"

No final, o herói é condenado por traição e preso numa pirâmide. Aida segue o amante até a morte.

“Há um momento em que os amantes têm visões, provavelmente devido à falta de oxigénio. Abrem-se as portas do paraíso e as almas torturadas encontram o caminho para o céu. É uma cena um pouco exagerada, propositadamente, até que ouvimos a música e tudo faz sentido”, contou Jonas Kaufmann.

“Gostaria de saber se a Aida quis mesmo escolher a morte, se tem medo da morte ou se a aceita de braços abertos. E se houver uma forma de transcendência, gostaria de saber se ela acredita na vida após a morte e se acredita que os dois ficarão juntos num lugar superior. Gostaria de conhecer o próximo capítulo!", concluiu Sondra Radvanovsky.

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O barítono francês Ludovic Tézier na ópera de Pariseuronews
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