Dançar na prisão e esquecer, por momentos, a condição de recluso: É esse o objetivo do programa "corpoemcadeia", de Catarina Câmara, que duas vezes por semana dá workshops de dança contemporânea na prisão do Linhó, perto de Lisboa. Para já, o balanço é muito positivo.
"Dançar é um gesto subversivo, um gesto de rebelião, mas uma rebelião construtiva. Não é ruído. Ao dançarem, sentem uma estranheza e é essa estranheza que lhes permite mover o que está cristalizado dentro deles, como uma desorganização criativa", diz a bailarina e professora de dança responsável pelo projeto.
Efeitos positivos
A administração da prisão realça os efeitos positivos que o programa está a ter, nomeadamente no comportamento dos reclusos que participam. O diretor da prisão, Carlos Moreira, realça que alguns dos participantes passaram de 20 infrações disciplinares por ano para nenhuma.
Já para os reclusos, é um escape: Manuel "Beto" Antunes, de 30 anos, diz: "Quando estamos aqui, é como se não estivéssemos presos. Contactamos com pessoas de fora, sentimo-nos livres. Quando começamos a dançar, não pensamos que estamos presos".
Fábio Tavares, outro dos reclusos, diz que se tornou uma pessoa diferente: "Damos mais valor à vida, mais valor ao próximo, ficamos a saber respeitar o próximo e livrar-nos das emoções negativas que fazem mal a nós e aos outros.
O projeto envolve cerca de uma dezena dos 500 reclusos da prisão do Linhó, uma cadeia em que estão presos, sobretudo, jovens condenados a penas pesadas. É uma ideia que está a dar frutos, com alguns reclusos a planear continuar com a dança, mesmo acabado o cumprimento da pena. É o caso de Fábio Tavares, com quem a conceituada coreógrafa Olga Roriz já se ofereceu para trabalhar.