Histórias de sucesso da aquicultura sustentável na Europa

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De  Denis Loctier
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A euronews visitou duas pescarias na Europa que criaram negócios bem sucedidos a partir da aquicultura não poluente.

Será possível alimentar a crescente população mundial sem destruir os ecossistemas nem agravar as mudanças climáticas? Atualmente, a agricultura consome todo o espaço de terra utilizável, polui a água e ameaça a biodiversidade. Será que a aquacultura é uma alternativa mais sustentável?

A euronews visitou duas pescarias na Europa que criaram negócios bem sucedidos a partir da aquicultura não poluente.

A história da empresa irlandesa Kush Seafarms começou no início dos anos 1980, quando dois professores, John Harrington e o irmão, começaram a tentar criar mexilhões em corda.

"Esta área é única. Vales esculpidos desde a Idade do Gelo, águas muito profundas protegidas por montanhas. É um local ideal para a cultura suspensa. Na baía de Kenmare produzimos cerca de mil toneladas de mexilhões em corda", disse à euronews, John Harrington, Diretor da Kush Seafarms, na Irlanda.

A maior produtora de marisco biológico da Irlanda

A euronews visitou a empresa familiar situada no sudoeste da Irlanda, que se tornou na maior produtora de marisco biológico do país. O marisco cresce em cordas numa área natural protegida, em águas ricas em fitoplâncton.

"Algumas pessoas têm a impressão de que aquicultura não é natural. Nada poderia estar mais longe da verdade. Não adicionamos nada à água, o fitoplancto é natural. Criámos um habitat para os mexilhões, eles comem o fitoplancto que de outra forma se perderia e seria inútil", sublinhou John Harrington.

Cultura sem pesticidas nem fertilizantes

Os mexilhões são cultivados sem fertilizantes nem pesticidas. A água é testada todos os meses, para verificar o nível de pureza. Os trabalhadores suspendem cordas vazias debaixo de água no mês de junho. Dezoito meses depois, os mexilhões estão prontos para serem colhidos.

"Podemos tirar os mexilhões da água, trazê-los para casa, colocá-los na panela e fervê-los. Não é preciso purificá-los ou fazer o que quer que seja. São produtos naturais, limpos, criados em águas limpas", afirmou o produtor irlandês.

Todos os trabalhadores da empresa são oriundos da região.

Cordas recicláveis e materiais biodegradáveis

A empresa reduz o desperdício graças ao uso de cordas recicláveis e outros materiais biodegradáveis e mantém um volume de produção sustentável. Numa altura em que os consumidores estão mais preocupados com a proteção da natureza, a certificação biológica é uma vantagem.

“Um quilo de mexilhões produz 200 gramas de CO2, enquanto a carne bovina produz 34 quilos kg de CO2. As novas gerações procuram alimentos com menos pegada ao nível do carbono: querem fazer escolhas que protejam o planeta, além serem melhores para a saúde.", sublinhou o diretor da pescaria.

O papel da Agência de Desenvolvimento de Frutos do Mar na Irlanda

A empresa irlandesa vende os mexilhões em França, Itália, Espanha, Holanda e Alemanha.

A nível europeu, a Irlanda é líder na área da aquicultura sustentável. O país produz anualmente cerca de 30 mil toneladas de peixes e marisco com certificação biológica.

O crescimento do setor tem sido apoiado pela Agência de Desenvolvimento de Frutos do Mar (BIM Ireland) que trabalha diretamente com as empresas locais.

A agência irlandesa dá apoio na área da inovação, certificação e formação de competências, e recorre aos subsídios da União Europeia na área do mar e da Pesca.

"Temos este ambiente imaculado onde o produto é cultivado, ostras, mexilhões ou salmão. Não são apenas palavras, o nosso produto é certificado. A nossa certificação biológica é de 100 por cento no caso do salmão. 70 por cento dos nossos mexilhões são certificados.Temos uma produção de nicho com um valor elevado e um volume baixo. Quando se prova os nossos frutos do mar, sentimos que é algo muito diferente.", disse à euronews Richard Donnelly, responsável da BIM Ireland.

Hungria produz trutas biológicas em lagoa

Apesar de não possuir costa, a Hungria, produz tantos frutos do mar biológicos como a França ou a Dinamarca. A euronews visitou um complexo turístico nas montanhas do nordeste do país, que alberga a pescaria em lagoa mais antiga da Hungria. Inaugurada nos anos 1930, dedica-se à criação de trutas.

"Eu vim trabalhar para aqui como engenheiro de pesca na fábrica de trutas de Lillafüred em 1982. Sou gerente desta pequena instalação há 38 anos. No início era funcionário público. Em 1991, alugámos o espaço e desde então temos uma gestão independente", contou György Hoisty, gerente da empresa húngara.

À medida que a produção foi aumentado, a empresa familiar começou a recrutar pessoas.

"Atualmente, a fábrica de Lillafüred produz 60 toneladas de peixe. 60 a 65% da produção é vendida ou processada aqui. 20 a 25% vai para outros restaurantes da área e 10 a 12% servem para reabastecer os locais de pesca”, acrescentou o responsável.

Para poder crescer de forma saudável, as trutas precisam de viver em águas limpas e ricas em oxigénio. Para fazer face à seca, a empresa foi uma das primeiras da Hungria a construir um sistema de circulação que permite purificar e enriquecer a água com oxigénio.

Graças à tecnologia, os resíduos nocivos e os restos de ração são removidos sete vezes ao dia.

Peixe saudável com melhor sabor

“Em anos de seca, a produção caía drasticamente. As nascentes não conseguiam fornecer água com oxigénio suficiente para os peixes. Por isso, desenvolvemos um sistema de circulação das águas para garantir e aumentar a nossa produção. Hoje, a água que flui à volta dos nossos peixes é praticamente potável. O que permite manter o sabor natural da carne do peixe. O peixe não fica com o sabor do lago ou das algas”, frisou György Hoisty.

Graças à abordagem sustentável, a pescaria controla todo o ciclo do processo. Cria e comercializa trutas em todas fases de desenvolvimento, a partir das ovas de peixe.

O produto principal é a truta recém pescada, defumada a frio nos locais da empresa ou cozida no restaurante da pescaria. Mesmo durante a crise da Covid 19, o restaurante permaneceu aberto com entrega de refeições.

"Não há muita diferença entre os peixes de viveiro e os peixes selvagens em termos de sabor. Os peixes de viveiro podem ter um pouco mais de gordura, mas são cultivados num ambiente muito mais seguro, verificado com regularidade, para que não haja risco de contrairem uma doença inesperada. Os clientes confiam em nós. Sabem que esta pescaria tem uma longa tradição e que colocamos na mesa peixes da melhor qualidade", disse Marcell Boros, chefe de cozinha do restaurante húngaro Vendéglő a Pisztrángoshoz.

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