A estranha onda de calor na Antártida em março de 2022

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Um evento que "redefine o que pensávamos ser possível para o sistema climático", afirmou à euronews o cientista Jonathan Wille.

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A Antártida foi palco de um estranha onda de calor em março de 2022.

"Ao nível do que sabemos sobre o clima antártico, é algo totalmente sem precedentes. O nosso registo de temperaturas para a Antártida não é tão antigo como o do resto do mundo civilizado, mas este é um evento que vai de par com a onda de calor no Noroeste do Pacífico em Junho de 2021. Um evento que, de certa forma, redefine o que pensávamos ser possível para o sistema climático", afirmou à euronews, Jonathan Wille, climatólogo da Universidade de Grenoble Alpes, especialista do clima polar.

A estação de investigação Concordia, na Antártida, situa-se a mais de mil quilómetros da costa e a mais de três mil metros de altitude. Habitualmente, a área é descrita como um deserto profundamente congelado. Mas, em meados de março, tudo mudou.

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O climatólogo Jonathan Willeeuronews

"Faz-nos lembrar os Alpes franceses"

À medida que a temperatura subia dos habituais 55 graus negativos para os 11,5 graus negativos, o cientista Julien Witwicky tirou fotografias da queda de neve sobre o gelo antigo. "Tivemos uma acumulação de dez centímetros de neve. É mais neve do que a que cai normalmente num ano. Em vez de caminhar facilmente sobre neve dura, afundámo-nos no pó durante vários dias. Faz-nos lembrar mais os Alpes franceses do que a Antártida", disse o cientista Julien Witwicky, do Instituto Polar Francês.

"Mesmo que o fenómeno possa não ser causado diretamente pelo aquecimento global, podemos imaginar que haja uma ligação entre as duas coisas ", acrescentou Julien Witwicky. 

Uma queda de neve invulgar que pode estar relacionada com uma tendência mais geral. A estação alemã Kohnen, que também se encontra em altitude e no interior do continente da Antártida, registou um aumento de 20% na queda de neve nos últimos 20 anos. E, no ano passado, a estação costeira alemã Neumayer registou um aumento de 50% da queda de neve em relação à média.

"É algo que faz parte das previsões no âmbito do aquecimento global. Quando a atmosfera fica mais quente, pode conter mais humidade e mais humidade significa mais queda de neve", afirmou Olaf Eisen, professor da Universidade de Bremen e do Instituto Alfred Wegener.

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A estação de investigação Concordia na Antártida.euronews

Blocos de gelo cada vez mais instáveis

No mês passado, a plataforma de gelo Conger, que equivale ao tamanho da cidade de Roma, desmoronou-se após anos de instabilidade. Os oceanos e o ar mais quentes contribuem para o desgaste dos blocos de gelo, que se tornam cada vez mais instáveis.

"O que posso dizer, porque estou no terreno, é que, durante mais de quinze anos, temos visto todos estes blocos de gelo que se libertam do gelo continental, com um efeito direto sobre o nível do oceano. Esse fenómeno vai aumentar e continuar. Porque a água está a aquecer e nós não vamos mudar essa tendência na próxima década, é uma certeza", afirmou Alain Hubert, presidente da Fundação Polar Internacional.

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Em março, a extensão de gelo marinho ficou 26% abaixo da médiaEuronews

Os dados do Copernicus para a Antártida

Os últimos dados do serviço de alterações climáticas do Copernicus mostram que a extensão de gelo marinho na Antártida ficou 26% abaixo da média, em março de 2022, o segundo nível mais baixo de sempre. Nos mares Ross e Amundsen, o gelo marinho foi particularmente reduzido.

Uma vasta área da Antártida Oriental sofreu uma onda de calor no mês passado. Uma massa de ar quente varreu o continente. As temperaturas na estação de investigação Concordia passaram dos habituais 55 graus Celsius negativos para um novo máximo de sempre 11,5 graus negativos.

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Anomalia de temperatura na AntártidaEuronews

O quinto mês de março mais quente de que há registo

O mês de março de 2022 foi 0,39 graus Celsius mais quente do que a média de Março de 1991-2020, segundo os dados do Serviço de Alterações Climáticas do Copernicus. Tratou-se do quinto mês de Março mais quente de que há registo no planeta. A temperatura média europeia para março de 2022 foi 0,43°C mais baixa do que a média de 1991-2020. O mês de março foi o terceiro março mais frio dos últimos dez anos.

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