Caranguejo azul da América dizima espécies autóctones na Catalunha

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O crustáceo norte-americano feroz invadiu o Mediterrâneo e dizima as espécies locais. Mas, está a tornar-se numa boa iguaria.

O Delta do Ebro é a maior zona húmida da Catalunha e alberga centenas de espécies. Mas o caranguejo azul está a dizimar as espécies autóctones.

Durante séculos, a associação "Irmandade de San Pere" pescou na Encanyissada, a maior lagoa do delta do Ebro. Mas há alguns anos, as capturas diminuíram de forma súbita. Em vez de peixe, os pescadores encontraram o caranguejo azul. Um crustáceo norte-americano feroz que invadiu a zona e dizimou as espécies locais.

"O que acontece é que come todas as crias, todos os ovos, e destrói as nossas redes! Come tudo! Comeu todo o peixe autóctone", contou !a euronews Raul Paulino.

Com o desaparecimento das outras espécies, os pescadores locais passaram a vender caranguejo azul. "Nos primeiros anos, era uma espécie abundante, mas não tinha um preço elevado. Agora é o oposto, há menos mas vale mais. Mas isso é a vida do pescador", acrescentou o pescador.

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Caranguejo azuleuronews

Comer caranguejo azul para travar invasão

Os investigadores locais dizem que autorizar a pesca profissional dos novos caranguejos é a melhor forma de travar a propagação da espécie invasora oriunda das Américas. A Catalunha concentrou esforços num comité especial de co-gestão que visa dar aconselhamento científico, melhorar os métodos de captura e racionalizar o comércio do caranguejo azul.

O que se passa na Catalunha é seguido de perto por outras regiões espanholas cada vez mais afetadas pela propagação do caranguejo azul. A Comissão Geral das Pescas do Mediterrâneo lançou um programa regional de investigação para analisar e resolver o problema.

"Temos de resolver problemas com conhecimento. E esse conhecimento vem de todas as partes envolvidas: os pescadores, a administração das pescas, os cientistas, mas também as ONG", sublinhou Pere Abelló, investigador em biologia de crustáceos, do ICM-CSIC.

Os métodos inovadores e as infra-estruturas de pesca desenvolvidas na Catalunha parecem estar a dar frutos. Mas são necessários mais estudos para ter a certeza de que o caranguejo azul está sob controlo.

Uma coisa é certa, a espécie invasora vinda das Américas, em barcos comerciais, veio para ficar.

"É preciso dizer que, neste momento, uma erradicação desta espécie é praticamente impossível devido às suas características. Mas o nosso objetivo é conseguir controlar a população, diminuí-la para níveis mínimos, para permitir a recuperação das outras espécies e para que os pescadores voltem a tirar partido de todos os recursos que tinham antes", afirmou Verónica López, bióloga de pesca, do IEPAAC.

Uma iguaria local, boa e com um preço adequado

O que mais parece ajudar a lutar contra a invasão do caranguejo azul é o sabor do crustáceo. Neste caso, a pesca intensiva pode ser uma vantagem para o ambiente, para o setor da pesca local e para os consumidores. Albert Guzmán tornou a espécie invasora numa nova iguaria local.

O caranguejo azul não faz parte da cozinha mediterrânica tradicional, mas o chefe afirma que combina bem com outros frutos do mar, servida como prato principal ou em caldos, petiscos, aperitivos, molhos e paellas.

"Costumávamos utilizar espécies diferentes, muito mais caras, como lagostas ou o caranguejo-aranha, que não é nativo vem da Galiza. E agora temos o caranguejo azul que tem um sabor e gosto semelhantes. Por isso, temos um bom produto de alta qualidade a um preço adequado para restaurantes acessíveis, o que também é uma coisa boa", frisou Albert Guzmán.

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Uma iguaria vinda de foraeuronews

A ostra perlífera imbricata radiata invadiu a Grécia

Na parte grega do Mediterrâneo, no Golfo de Elefsina, a oeste de Atenas, a euronews acompanhou um pescador que captura outra das espécies invasoras que povoam o Mediterrâneo, moluscos bivalves, originários da região Indo-Pacífica.

A chamada ostra perlífera imbricata radiata chegou às águas Mediterrâneo devido à abertura do Canal de Suez, uma das rotas mais importantes que permite a passagem de várias espécies alienígenas.

"É a chamada ostra perlífera, imbricata radiata. Além de ser comestível, poderá a dada altura oferecer-nos as suas pérolas. As ostras podem ser consumidas cruas, cozidas a vapor, fritas, com massa ou risoto", disse à euronews Giórgos Grívas, pescador de ostras.

Os pescadores gregos vendem as ostras a peixarias locais onde são vendidas a 5 euros por quilo. Mas, o comércio é limitado devido à falta de regulamentação. A ostra perlífera imbricata radiata é considerada uma espécie exótica.

O investigador John Theodorou quer alterar a situação. Os estudos que realizou sugerem que a legalização e comercialização destes moluscos na Grécia são compatíveis com a pesca sustentável.

"É algo muito importante, porque é uma forma alternativa para os pescadores aumentarem os rendimentos e alivia a pressão sobre os stocks naturais de outros mariscos, uma pressão causada pela sobrepesca e pelas alterações climáticas", disse à euronews John A. Theodorou, professor da Universidade de Patras.

Os investigadores da Universidade de Patras estão a eleborar novas normas para toda a cadeia de valor, das especificações de pesca, ao armazenamento e transporte.

As receitas com as ostras invasoras já estão a ser estudadas em escolas de culinária. Em breve serão servidas em toda a costa grega.

"As pessoas gostam imenso desta refeição! Eu até chamaria às ostras um superalimento, são ricas em proteínas com o mínimo de hidratos de carbono e gordura, e têm muito sabor, um sabor delicioso", disse Eleni Liakea, professora de Turismo.

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A ostra perlífera imbricata radiata invadiu a Gréciaeuronews

“Não podemos erradicar esta espécie: temos de co-evoluir com ela”

A legalização também pode ser vantajosa para a aquicultura. Em Sagiada, perto da Fronteira albanesa na Grécia ocidental, Spyros Stasinos e o pai cultivam toneladas de moluscos em cordas submersas.

A única espécie invasora que dá problemas é ascídia translúcida que precisa de ser constantemente retirada das cordas. As ostras, uma das principais capturas, são vistas como um produto que pode ser vendido, se o quadro legal for alterado.

"Não podemos cultivá-las legalmente, nem vendê-las. Por isso, basicamente, recolhemo-las para o nosso próprio consumo, quando temos festas ou convidados especiais ", contou à euronews Spyros Stasinos, proprietário de um viveiro de mexilhões e ostras.

Os viveiros de moluscos são excelentes vizinhos para a pesca. Ajudam a manter a água limpa ao eliminarem o excesso de nutrientes, o que permite oferecer produtos do mar locais e saudáveis, como sublinha o responsável local pelo setor da pesca.

"Cresce depressa, sabe bem, há mercado. Por isso, penso que é uma questão de tempo para podermos comercializar este novo recurso. Não podemos erradicar esta espécie: temos de co-evoluir com ela, como sociedade e como setor de produção", concluiu Costas Perdikaris.

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