"Químicos para toda a eternidade". As substâncias que preservam os alimentos podem fazer-nos mal

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De  Cyril Fourneris
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São conhecidos como PFA e estão em inúmeros objetos do quotidiano, como as embalagens dos alimentos. Bruxelas quer reduzi-los, mas várias empresas na União Europeia continuam a recorrer a eles para tornar os produtos antiaderentes, impermeáveis e resistentes a manchas.

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Consideradas "químicos para toda a eternidade", as substâncias per e polifluoroalquílicas, também conhecidas como PFA, são uma família de milhares de substâncias químicas encontradas em objetos do quotidiano, como, por exemplo, embalagens de alimentos. 

Recentemente, nove Organizações Não-Governamentais (ONG) europeias analisaram cerca de 40 tipos de embalagens de alimentos vendidos na União Europeia. Cerca de 30 tinham sido tratados com PFA, devido às suas propriedades impermeabilizantes.

"Em embalagens de papel ou cartão, são usados como anti-gordura ou anti-manchas, para evitar a formação de uma auréola gorda no saco de batatas fritas, por exemplo, ou para evitar sujar os dedos. Por isso, tem uma vantagem muito limitada em relação a um possível risco de contaminação do corpo do consumidor", explica François Vaillerette, da ONG francesa "Générations Futures".

Químicos nocivos para a saúde

A potencial nocividade destas substâncias é debatida pela comunidade científica. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar leva o risco a sério e, em10 anos, dividiu o valor de referência toxicológica, isto é, a dose tolerável de PFA por 1 700.

A dupla de investigadores na área da toxicologia na alimentação, Muriel Mercier-Bonin, do Instituto Nacional de Investigação para a Agricultura, Alimentação e Ambiente francês, e Hervé Robert, da Universidade de Toulouse, explicam à Euronews porquê.

"No período perinatal, pode haver exposição da mãe e portanto consequências para a descendência", revela Muriel.

Hervé acrescenta que "temos casos de aparecimento de cancros, efeitos sobre a glândula tiroide, e efeitos que reduzem o sistema imunitário. Pensamos mesmo que durante as recentes campanhas de vacinação, os efeitos podiam ter sido atenuados se estivéssemos expostos a este tipo de composto".

Contactados pela Euronews, vários fabricantes mostraram-se indisponíveis para uma entrevista, à  exceção da Tetra Pak, líder mundial em design de embalagens alimentares, que tem vindo a aumentar esforços para produzir produtos mais amigos do ambiente.

De acordo com a diretora de marketing para França e o Benelux, Sarah Nerbonne, "a Tetra Pak tem milhares de referências de embalagens. Não existem PFA nas embalagens Tetra Pak. Exceto por algumas, em quantidades de tal forma reduzidas, que estão muito abaixo do que interessa hoje em dia às autoridades europeias".

A empresa está empenhada na eliminação progressiva de PFA "num futuro próximo". 

Outros produtores de embalagens podem vir a ser obrigados por lei a fazê-lo na próxima década, uma vez que a Comissão Europeia anunciou, no final de abril, que estava a considerar uma proibição gradual de certas utilizações de substâncias PFA, como parte de uma revisão importante da legislação sobre produtos químicos atualmente em negociação entre Bruxelas e os Estados-membros.

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