"O universo não tem fronteiras mas não é infinito"

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De  Euronews
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Jean-Jacques Dordain, diretor da Agência Espacial Europeia, admite que, num contexto de crise económica, se presta atenção a cada euro gasto na exploração espacial. O convidado desta edição do “I talk” responde às questões dos europeus e simplifica os mistérios do universo com uma imagem: a de uma formiga em cima de uma bola.

Eis as perguntas e respostas que pode ver no programa:

Carlos, Espanha: “No atual contexto de crise económica que atravessa a Europa, é razoável investir tanto dinheiro público na exploração do Espaço?”

Jean-Jacques Dordain, diretor da Agência Espacial Europeia: “Quatro mil milhões de euros divididos pelo número de habitantes na Europa, são 10 euros por ano e por habitante. É caro, mas não há nenhum cidadão na Europa que possa viver sem os satélites mesmo que não se aperceba disso. O Espaço influncia o quotidiano. Não nos limitamos a olhar para as estrelas. É o Espaço que melhora a vida na Terra.”

Alex Taylor, euronews : “Explique-nos o funcionamento do orçamento da ESA.“

Jean-Jacques Dordain: “A Agência Espacial Europeia é uma agência intergovernamental com 20 países: 18 estados-membros da União Europeia e dois que não estão na União: a Suíça e a Noruega. Por isso, o orçamento da ESA é constituído por 3 mil milhões de euros que vêm directamente dos estados-membros e mil milhões que vêm da Comissão Europeia porque também trabalhamos em nome da Comissão, nomeadamente com os programas Galileo e GMS.”

Charline, Bélgica: “Há algum projeto para ir a outros planetas, além de Marte, nos próximos anos?”

Jean-Jacques Dordain: “Temos projetos para Marte e estamos a preparar duas missões para lá, uma em 2016 e outra em 2018.”

Alex Taylor: “Quando diz ‘nós’, fala nos europeus. Podemos ir sozinhos ou precisamos dos americanos e dos russos?”

Jean-Jacques Dordain: “Estamos a fazê-lo em cooperação com os russos porque não se trata de chegar a esses planetas para ser o primeiro a colocar a bandeira – isso é passado. Agora, a exploração dos planetas faz-se em cooperação internacional com todas as potências espaciais. Nós – e quando falo de nós falo nos europeus – cooperamos com os americanos, os russos, os chineses, os japoneses. Efetivamente temos projetos para pousar em Marte com uma missão que partirá em 2018. Esta missão é importante porque será a primeira a permitir escavar o solo de Marte a, pelo menos, dois metros de profundidade. Se ainda houver sinais de vida em Marte, tudo aponta para que estejam em profundidade. O que procuramos é esse rasto de vida, seja qual for essa vida – porque sabemos que houve muita água em Marte e que houve uma atmosfera. Por isso, trata-se de saber se houve vida em Marte.”

Martin, Reino Unido: “Recentemente, tem-se falado muito, na imprensa, sobre mais cooperação económica na Europa e a necessidade de mais Europa. Pensa que isso também se aplica à exploração e investigação do Espaço? O futuro da Europa passa pela união no Espaço? Ou podemos trabalhar melhor sozinhos?“

Alex Taylor: “Tem os mesmos problemas entre os diferentes membros que a União Europeia ao nível dos orçamentos?”

Jean-Jacques Dordain: “Sabe, a cooperação é sempre difícil. É mais fácil não cooperar mas, pelo menos no Espaço, mostramos que a cooperação conduz ao sucesso porque hoje todas as actividades espaciais na Europa passam-se em cooperação, seja no contexto da Agência Espacial Europeia, da União Europeia ou das cooperações bilaterais ou trilaterais entre certos estados membros. Praticamente, já não existem programas nacionais neste domínio porque os satélites atravessam as fronteiras. Por isso, com os meios espaciais, podemos ter uma visão muito mais global da Terra. Logo, a cooperação internacional é essencial e o espaço dá uma imagem da Europa que tem sucesso.”

Mathieu, França: “Para que serve a ESA no dia-a- dia?”

Jean-Jacques Dordain: “Serve para três coisas. Em primeiro lugar, para alargar as fronteiras do saber. Quando olhamos para os planetas, seja Vénus ou Marte, não são apenas os planetas que nos interessam mas o futuro da Terra, que é um planeta entre outro. Ao estudar Marte e Vénus obtemos muita informação sobre a Terra. O efeito de estufa foi descoberto na atmosfera de Vénus antes de o termos compreendido na Terra. Em segundo lugar, a competitividade porque desenvolvemos tecnologias realmente únicas, o que permite desenvolver a competitividade industrial. E, em terceiro lugar, serviços para todos os cidadãos: serviços de meteorologia, de navegação, de telecomunicações. Não há um único cidadão na Europa que possa viver sem os satélites mesmo que não o saiba.“

Nurtay, Cazaquistão: “A galáxia tem fronteiras ou é infinita? Desde criança que me coloco esta questão, mas até agora nunca obtive uma resposta.“

Jean-Jacques Dordain: “Uma galáxia é um aglomerado de estrelas e, por isso, tem obrigatoriamente uma fronteira e um fim. Talvez a questão não deva limitar à galáxia mas ao Universo que é um aglomerado de galáxias. O universo não tem fronteiras mas não é infinito. Não é fácil explicar mas os especialistas disseram-me que bastava imaginar uma formiga a andar em cima de um bola. A formiga não vai encontrar uma fronteira mas está em cima de uma superfície limitada e, por isso, creio que é assim que devemos representar o universo. Agora, gostaria de tranquilizá-lo, não conhecemos, no mínimo, 97 por cento do universo. O nosso conhecimento sobre o universo é muito, muito limitado. Por isso, o que afirmo hoje não me deve ser criticado daqui a cem anos.”

Sarang, da Finlândia: “A crise atual terá um impacto no lançamento do Galileo e, se sim, qual será o atraso que poderá provocar?”

Jean-Jacques Dordain: “Não haverá atraso, já lançámos quatro satélites Galileo. O Galileo é uma realidade, quatro satélites estão atualmente em órbita e comprometi-me em lançar 18 satélites Galileo antes do final de 2014 e vamos fazê-lo. A crise económica não tem consequências a esse nível porque os contratos industriais são assinados. Em segundo lugar, o valor económico da constelação Galileo é enorme pois vai melhorar muito os transportes. A crise económica obriga-nos a prestar atenção a cada euro que gastamos e é o que fazemos com a Comissão Europeia.”

Alex Taylor: “Há vida inteligente, além de nós, algures no universo?”

Jean-Jacques Dordain: “Tenho a certeza que sim porque, estatisticamente, não há nenhuma razão para que haja apenas um sítio no Universo onde haja vida. Há quinze anos, ainda não tínhamos visto planetas para além do sistema solar. Atualmente, descobrimos um a cada duas semanas. Agora temos a certeza que há muitos planetas no universo e ficaria surpreendido se não houvesse vida algures noutro planeta. Certamente não será a mesma forma de vida que na Terra, mas deverá haver uma forma de vida. Sim, acredito.”

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