Os refugiados cristãos que têm de aprender sueco

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Agora estão em segurança. Robert e a família fugiram do norte da Síria rumo à Suécia. Encontraram abrigo em Södertälje, uma cidade industrial cujo nome é bem conhecido junto das minorias cristãs que abandonam a Síria e o Iraque. Um terço dos 90 mil habitantes desta localidade tem raízes no Médio Oriente.

As autoridades suecas recebem cada vez mais pedidos de autorização de residência permanente de refugiados daquela parte do mundo. Estima-se que, até ao final de 2014, mais de 50 mil pessoas procurem asilo neste país escandinavo.

Robert deixou para trás a cidade de Al-Hasakah, onde trabalhava como engenheiro e tinha a sua empresa de informática. Foi acolhido por Ayoub Stefan, um padre ortodoxo, que explica que “os cristãos que vêm do Iraque estão a sofrer muito. Não existe um governo, não há um sistema civilizado. É muito difícil continuar a viver lá. Já mataram tanta gente…”

Milhões de refugiados procuram abrigo em campos nos países vizinhos. Apenas uma pequena percentagem tenta alcançar a Europa. Mas esta comunidade cristã começou a instalar-se em Södertälje há mais de 50 anos. A igreja de São Gabriel situa-se num bairro desfavorecido, onde a taxa de desemprego é a mais elevada do país. Um refugiado iraquiano afirma que, no Médio Oriente, os cristãos têm duas opções: dar dinheiro para serem deixados em paz ou morrer. “No início, pagávamos… Mas como eles continuavam a pedir, comecei a ter dificuldades. Raptaram-me a mim e à minha filha. Quis a sorte que o carro colidisse com outro – abri a porta e fugi”, conta Kheder Elias.

O padre Stefan visita regularmente Robert. A vontade de se integrar na sociedade sueca fez com que esta família se empenhasse em aprender rapidamente a língua. Merella tem dez anos e Adella, 14. Ambas já fizeram vários amigos e sempre que há um aniversário, por exemplo, nada parece distinguir esta das famílias suecas. “Quando cheguei à Suécia, todos os dias aprendia em média dez palavras novas. Falava muito com os meus primos que já vivem aqui há algum tempo, já falam sueco muito bem”, revela Adella.

Ibrahim é um outro exemplo. Veio da Síria há seis meses. Rapidamente entrou para um clube de futebol local que se chama “The Assyrian Super Stars”. Muitos dos jogadores são cristãos, também há muçulmanos… Uma convivência que se está a dissipar nos países de onde vêm, como sublinha Ibrahim: “Há uma pressão concreta contra os cristãos na Síria. As mulheres cristãs sofrem agressões sexuais. Os homens são discriminados quando usam um fio com uma cruz ao peito, por exemplo. São considerados intrusos sem fé…”

Ibrahim chegou através do pai, que obteve uma autorização de trabalho. Aho veio ilegalmente da Síria, passando pela Turquia, Grécia e Letónia. “Tive de pagar mais de 12 mil euros aos traficantes para chegar à Suécia”, diz.

A Catedral Ortodoxa Síria e o Centro Cultural Sírio de Södertälje já foram alvo de fogo posto. Os políticos locais exigem uma estratégia à câmara socialista. Nas últimas eleições legislativas, a Suécia assistiu à subida expressiva da extrema-direita. A chegada de refugiados continua a aumentar, como aponta Afram Yakoub, da Federação Assíria da Suécia: “Todos os dias nos chegam notícias de dez a vinte famílias que deixam o Iraque. Os cristãos estão a ser erradicados daquela área de uma forma muito eficaz. Aquilo que pedimos aos políticos e aos governos é que os ajudem a ficar no Médio Oriente.”

Voltamos ao encontro de Ibrahim, na escola que frequenta. O seu sonho é tornar-se arquiteto ou engenheiro e ficar na Suécia para sempre. Mas a integração é um longo caminho. Lena Boström, a sua professora de sueco, declara que “no início, explico-lhes como funciona a sociedade sueca. Fazemos várias visitas para descobrir a capital, Estocolmo; ensino-lhes como lidar com situações quotidianas. Muitos correm o risco de se fechar no mundo deles. Mas é importante participar na sociedade onde vivem.”

As autoridades suecas fornecem um serviço de aconselhamento, concertado entre o Instituto de Emprego e as universidades, para facilitar a integração profissional de refugiados que tenham uma licenciatura como Robert. Proporcionalmente, a Suécia é o país da União Europeia que mais refugiados acolhe. Agora o estatuto de porto seguro é cada vez mais questionado pelo reforço eleitoral dos partidos anti-imigração.

BONUS 1: Boel Godner

A cidade sueca de Södertälje acolhe muitos refugiados da Síria e do Iraque. A euronews falou com a autarca Boel Godner. Para ouvir a entrevista em inglês, clique nesta ligação

BONUS 2: Afram Yakoub

Para ouvir a entrevista completa a Afram Akoub, clique na seguinte ligação

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