A viagem dos Hanan: da Síria para a Grécia e daí para a Irlanda

A viagem dos Hanan: da Síria para a Grécia e daí para a Irlanda
De  Isabel Silva
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Apostolos Staikos, da equipa da euronews na Grécia, conheceu a família síria Hanan e seguiu um pouco do seu percurso da Grécia para uma nova vida na Irlanda. Uma história semelhante à de milhares de outros refugiados mas que, para muitos, ainda é um sonho longíquo.

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Em abril de 2017, na cidade grega de Livadia, a euronews conheceu a família Hanan, que fugiu da Síria em busca de asilo na Europa.

Antes de aí chegarem, os Hanan passaram nove meses difíceis no campo de refugiados de Ritsona (centro da Grécia), mas a família acabou por ser abrangida pelo Programa de Alojamento de Requerentes de Asilo e de Candidatos à Relocalização, financiado pela Comissão Europeia e supervisionado pela agência da ONU para os Refugiados.

"Agora vivemos uma vida normal, como todas as pessoas. Tudo é bom aqui. Os meus filhos vão à escola. Tenho uma casa, com cozinha, com casa de banho... Pode dizer-se que é uma vida normal", disse Hanash Hanan.

O marido, Yousef, de 44 anos, era dono de uma fábrica que produzia produtos lácteos e que empregava mais de 40 funcionários em em Idlib.

Quando a família chegou à Grécia, Yousef escolheu a Irlanda como nova pátria para viver com a esposa e os quatro filhos.

"Tenho alguns amigos na Irlanda. Eles querem ajudar-me e por isso vou poder ir para lá. Já tenho a autorização oficial, mas não sei quando iremos. Ouvi dizer que pode demorar dois ou três meses", disse o ex-empresário.

Dez meses depois a equipa da euronews visitou novamente a família Hanan, mas em Atenas, já com processo de asilo pronto para irem para a Irlanda.

Nesse dia, reuniram-se a um grupo de refugiados que, acompanhado por um representante da Organização Internacional para as Migrações, se dirigiu ao aeroporto para a viagem com destino a Dublin, capital da Irlanda.

"Já passou tanto tempo. Enfrentámos problemas tão grandes e vivemos de forma miserável durante muito tempo. Já passámos 23 meses na Grécia. Estamos contentes de aqui estar mas é uma felicidade que se estava a perder", disse Yousef Hanan antes de entrar no autocarro para o aeroporto Eleftherios Venizelos.

Enquanto Yousef diz adeus à Grécia, recorda os piores momentos de sua estadia no país: os nove meses no campo de refugiados de Ritsona, onde a sua esposa deu à luz o filho mais novo.

"Éramos cinco pessoas, eu e o resto da minha família, a viver numa tenda, numa pequena barraca. Sofremos muitos com a chuva durante o todo o inverno. Foi muito mau, não consigo esquecer esses dias", disse.

Já no aeroporto, o grupo de 37 refugiados foi saudado por Betty Eyripioti, uma britânica que se casou com um grego e vive no país há mais de 30 anos.

Depois de abraçar alguns refugiados, disse à euronews: "Não é a primeira vez que vejo um grupo de refugiados no aeroporto. A minha reação automática é dizer-lhes algumas palavras para os tranquilizar, dizer-lhes que serão bem-vindos onde quer que vão. E que não devem ter medo!".

Ajuda a começar uma nova vida é a missão da Organização Internacional para as Migrações, segundo a assessora Christine Nikolaidou: "A essência da relocalização não é colocar os refugiados num avião e levá-los para outro Estado-membro da União Europeia".

"O objetivo é oferecer-lhes uma oportunidade para construir uma nova vida com segurança e dignidade", acrescentou.

Hanan Hanash tira mais algumas fotografias dos filhos na Grécia e partilha os seus medos e expetativas: "Estou feliz porque este é o fim da minha viagem. Mas estou triste porque vou deixar muitos amigos na Grécia e na Síria. Também estou muito animada com a ideia de começar uma nova vida para os meus filhos. Tenho a certeza... Quero que esse recomeço traga um futuro melhor para meus filhos".

O jornalista da euronews, Apostolos Staikos explica que "cerca de 60 mil refugiados e migrantes que vivem na Grécia esperam poder fazer o mesmo que este grupo, apanhando um avião com destino a uma nova pátria. A família Hanan conseguiu. O caminho pela frente não é fácil, mas um longo período de incerteza chegou ao fim".

A euronews não pôde acompanhar os Hanan na viagem, mas combinou procurá-los em Dublin, daqui a alguns meses para uma possível reportagem sobre a sua nova vida na Irlanda.

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