"Ninguém quer um retorno aos horrores da guerra"

Juan Manuel Santos entrevistado por Ana Lázaro Bosch
Juan Manuel Santos entrevistado por Ana Lázaro Bosch
De  Joao Duarte Ferreira
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Presidente colombiano Juan Manuel Santos faz o balanço de oito anos no poder em entrevista exclusiva à euronews

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No poder desde 2010, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, está prestes a passar o testemunho. A segunda volta das eleições presidenciais tem lugar no dia 17 de junho. A euronews aproveitou a passagem de Juan Manuel Santos por Bruxelas para fazer um balanço dos últimos oito anos de presidência.

Ana Lázaro Bosch (euronews): O seu mandato enquanto presidente da Colômbia está prestes a chegar ao fim . Sem dúvida de que um dos legados da sua presidência é o acordo de paz com as FARC. Vê isso como um processo irreversível?

Juan Manuel Santos: Ninguém quer um retorno aos horrores da guerra. O Tribunal Constitucional emitiu um decreto no qual diz que durante os próximos três governos, nenhum presidente ou parlamento poderá aprovar leis que vão contra o cumprimento dos acordos.

euronews: Mas, precisamente, a Colômbia está prestes a votar na segunda volta das eleições e um dos candidatos, Iván Duque, afirma que pretende modificar o acordo. Acha que isto pode comprometer todo o processo?

JMS: Ele começou, em conjunto com o seu partido político, por dizer que pretende destruir completamente o acordo. No entanto, eles têm vindo a mudar de posição e agora só querem fazer algumas alterações. Que alterações são estas? Se for para melhorar o acordo, então tudo bem; mas se for para mudar tudo, eles não o poderão fazer.

euronews: O outro candidato vem da esquerda, Gustavo Petro, e algumas pessoas dizem que a Colômbia poderá seguir o caminho do Chavismo. Será possível?

JMS: Essa ideia começou a circular há algum tempo, eles até disseram que eu estava a tentar colocar o país sob o jugo do que descreveram como o Castro-Chavismo. Foi uma ameaça que muitos promoveram a fim de criar medo. Tudo isto com o objetivo de obter um resultado eleitoral.

euronews: Gostava de lhe perguntar qual foi o preço deste acordo de paz? Porque se por um lado lhe mereceu o Prémio Nobel da Paz, por outro, também gerou muitas críticas a nível interno; por vezes das próprias vítimas.

JMS: Não foi tanto das vítimas. As vítimas têm-me apoiado. Isso foi uma lição importante; isso ensinou-me que as vítimas são as mais generosas porque não querem que mais colombianos sofram o que eles sofreram... As críticas são normais porque num processo deste tipo há que tomar uma decisão: onde definir a linha entre justiça e paz? Vai haver sempre aqueles que querem mais justiça e aqueles que querem mais paz. Há sempre quem critique. O importante é que o processo avance e que seja irreversível.

euronews: Gostava de falar das relações entre a Colômbia e a Venezuela. De momento, existe um milhão de venezuelanos que fugiram para a Colômbia. Como é que este fluxo é gerido?

JMS: Com os venezuelanos, abrimos os nossos corações e braços porque temos que prestar apoio.
Mas com o regime que é a origem desta crise humanitária, a maior crise da história da Venezuela, somos implacáveis.

euronews: Outra questão em aberto na Colômbia é a erradicação da cultura da coca. O senhor trabalhou neste sentido, o que pensa que o seu sucessor teria que fazer?

JMS: Estamos envolvidos na luta contra a cultura da coca há 30 anos, fumigações, erradicações forçadas, outros sistemas. Mas enquanto as famílias de camponeses não tiverem uma alternativa, eles regressam à coca porque não têm mais nada. Agora com o processo de paz, o estado pode chegar a áreas onde antes não era possível. Se aproveitarmos isso, e estamos a fazê-lo, se incentivarmos os camponeses a substituirem voluntariamente uma cultura por outra, por exemplo, eu troquei a coca e agora produzo cacau, café ou milho, então isso transforma-se numa solução estrutural.

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