Brexit: Cenário de não acordo é cada vez mais "real"

Brexit: Cenário de não acordo é cada vez mais "real"
De  Damon EmblingIsabel Marques da Silva
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Depois dos sorrisos, na terça-feira, em Bruxelas, o ministro britânico para o Brexit, Dominic Raab, regressou a Londres para os ltimos preparativos do documento que o governo britânico vai divulgar, na quinta-feira. Trata-se de conselhos às empresas e aos cidadãos para o chamado Brexit duro.

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Depois de muitas frases otimistas sobre a saída do Reino Unido da União Europeia ser um desafio que vai chegar a bom porto, a realidade das negociações mostra que o processo do Brexit pode ter um desfecho mais negro.

Os líderes das equipas de trabalho pelo Reino Unido, Dominic Raab, e pela União Europeia, Michel Barnier, tentam evitar o cenário do Brexit sem acordo entre as partes.

Depois dos sorrisos na terça-feira, em Bruxelas, Dominic Raab regressou a Londres para os últimos preparativos do documento que o governo britânico divulga, quinta-feira. Trata-se de conselhos às empresas e cidadãos para se prepararem para esse cenário, o chamado Brexit duro, com um potencial catastrófico a muitos níveis.

O jornalista da euronews Damon Embling pediu ao analista Pieter Cleppe, do centro de estudos Open Europe, em Bruxelas, para explicar o que o cenário de Brexit sem acordo quer dizer na prática.

"Sem acordo significa que não há qualquer tipo de entendimento acerca de coisa nenhuma. Isto é, que ambas as partes nem sequer chegam a um acordo mínimo para garantir coisas tão importantes como os aviões continuarem a voar entre as duas zonas, por exemplo", explicou o analista.

"Penso que se chegará a um acordo, simplesmente, porque as consequências de não haver acordo são muito graves. Poderá levar à perda de mais de um milhão de postos de trabalho nos restantes 27 países da União Europeia e de meio milhão de postos no Reino Unido. Ninguém quer isso", acrescentou.

Um dos principais problemas é o tipo de fronteira que existirá entre a Irlanda do Norte, território britânico, e o resto da ilha da Irlanda, que continuará a ser um Estado-membro da União.

O governo de de Dublin já se está a preparar para um Brexit sem acordo, mas Pieter Cleppe refere que apesar "do governo da Irlanda pretender contratar cerca de mil novos funcionários de controlo fronteiriço, o primeiro-ministro, Leo Varadkar, já admitiu que não é possível ter todas essas pessoas nos seus devidos postos até março".

De ambos os lados do Canal da Mancha temem-se os efeitos ao nível dos portos de desembarque de mercadorias, nomeadamente o holandês em Roterdão e o belga em Zeebrugge, bem como o porto inglês de Dover.

"No final das contas, o governo do Reino Unido poderá decidir, unilateralmente, renunciar a todos os controlos e deixar entrar no país os bens que vêm do exterior. Mas há sempre a preocupação do impacto nas exportações britânicas, por exemplo no mercado das peças para automóveis. Grandes fabricantes desse setor dependem da importação e exportação de componentes produzidos em vários países, pelo que as suas cadeias de fornecimento seriam seriamente perturbadas pela necessidade de muito mais controlos", referiu o analista.

O ministro britânico para o Brexit vai tentar selar um acordo com a Comissão antes da cimeira da União Europeia, a 18 e 19 de outubro, onde os líderes dos restantes 27 países farão o ponto da situação.

Sobre eventuais consequências "positivas" do Brexit, Pieter Cleppe disse que a Grã-Bretanha quer "recuperar a soberania sobre a sua política comercial para poder fazer novos acordos e isso acabará, também, por beneficiar a União Europeia".

"Mas penso que vai demorar muito até que possamos fazer a avaliação correta sobre se o Brexit foi uma coisa boa ou não", acrescentou.

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