A cultura do carvão e o peso dos lóbis na Polónia

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De  Sophie ClaudetValérie Gauriat
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O país recebeu a recente cimeira do clima, mas longe de cortar nas emissões de carbono, pretende expandir a sua indústria mineira.

Na Polónia, 60% da energia e 80% da eletricidade provêm do carvão. A poluição atmosférica, ligada em grande parte da combustão do carvão, mata 50 mil pessoas por ano num país de 38 milhões de habitantes.

Nesta edição de Insiders, a repórter da euronews Valérie Gauriat viajou pela Polónia para perceber porque razão o país está viciado no carvão.

"As empresas mineiras polacas patrocinaram a Cop24"

Sophie Claudet: "No início da reportagem, ouvimos algumas pessoas a queixarem-se da poluição, mas a maioria das pessoas entrevistadas não parece preocupada com o ar poluído apesar de a poluição matar cinquenta mil pessoas por ano na Polónia. Algumas cidades polacas fazem parte da lista de cidades mais poluídas do mundo, ao lado de Pequim e Nova Deli. Os polacos não querem saber do clima. O problema vem do governo? O que se passa?

Valerie Gauriat: "Há algum ceticismo da parte da população. Falámos com um representante sindical que afirma que não existe consenso científico sobre as mudanças climáticas. Há também a academia de ciências da Polónia que discorda do Painel Internacional sobre as mudanças climáticas em relação à ligação entre o carvão e o aquecimento. Há de facto ceticismo, mas mais do que isso há um fatalismo climático. As pessoas estão habituadas às minas de carvão há décadas que é assim. Vemos que os movimentos ambientalistas começam a surgir e a Cop 24 foi uma oportunidade para dar voz a esses ativistas que enfrentam o lóbi poderoso do carvão. Ironicamente, as empresas mineiras polacas patrocinaram a Cop24".

"As pessoas têm orgulho nas tradições mineiras"

Sophie Claudet: "Vemos que há uma ligação quase romântica ao carvão da parte de alguns polacos. A reportagem mostra uma festa de mineiros onde vemos que os participantes se sentem parte de uma história e de um grupo.

Valerie Gauriat: "As pessoas têm orgulho nas tradições mineiras. Os mineiros são desconsiderados em certas regiões como Varsóvia mas noutras regiões totalmente dependentes do carvão como a Silésia, é impossível encontrar uma família que não tenha uma ligação às minas de carvão, alguém que trabalhe numa mina ou numa empresa industrial ligada às minas. Não é tanto a mina de carvão em si, a questão é que há uma relação pessoal e íntima com as minas que faz parte da identidade dessas pessoas. Por outro lado, há quem acredite que o carvão é o símbolo da independência da Polónia. Na Polónia o consumo de carvão é superior à produção e por isso o país importa carvão da Rússia, o que é mal visto pela população. Há quem pense que abandonar o carvão é abandonar a identidade e a independência política".

Política ambiental polaca gera controvérsia

Sophie Claudet: "Uma sondagem recente afirma que os mineiros na Polónia são tão respeitados como os professores universitários e mais respeitados dos que os médicos e os professores. A Polónia diz que quer diminuir a percentagem de carvão usada para produzir energia e que está a investir nas energias renováveis. Essa vontade é visível no terreno?"

Valerie Gauriat: "Sim, existem alguns projetos, mas para a Polónia, o conceito de energia renovável está associado sobretudo ao nuclear. Houve uma grande debate recentemente porque o governo quer destruir as turbinas eólicas no território e instalar turbinas eólicas. É muito controverso e ninguém sabe o que se vai passar?"

Sophie Claudet: "A Polónia faz parte da União Europeia e tem tirado partido dessa adesão mas não está a respeitar os princípios europeus em relação às emissões de carbono, à necessidade de reduzir as emissões. A Polónia poderá ser sancionada, pagar multas ou ter conflitos no seio da União Europeia?"

Valerie Gauriat: "A Polónia foi condenada pelo Tribunal Europeu de Justiça devido à poluição e à qualidade do ar. Mas em relação às emissões de CO2, a Polónia afirma que respeita as regras. A Polónia subscreveu o acordo de Paris da Cop21 e diz que vai respeitar as regras, mas resta saber se vai concretizar os objetivos fixados para 2030. O que sabemos é que não irá mais longe do que isso. De qualquer modo, na COP24 não houve progressos. Houve um acordo em relação aos objetivos de Paris para que não seja preciso ir mais longe e nesse sentido a Polónia tem a sua posição assegurada".

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