"É importante perguntar se a UE quer levar a Venezuela para a guerra civil", diz embaixadora venezuelana na União Europeia.
O Parlamento Europeu reconheceu Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela e pediu aos governos e instituições da União Europeia que façam o mesmo até que novas eleições credíveis sejam convocadas.
Com 439 votos a favor (104 contra e 88 abstenções) expressos, quinta-feira, em Bruxelas, os eurodeputados foram o primeiro órgão político comunitário a enviar uma forte mensagem contra o regime do Presidente Nicolás Maduro, o que chocou a embaixadora da Venezuela para a União Europeia, Claudia Salerno.
"O Parlamento Europeu não se pode considerar como uma instituição acima do Conselho de Segurança da ONU. É importante perguntar se a União Europeia está disposta a dar passos para levar a Venezuela para guerra civil. Essa é a pergunta que se deve colocar e não se a Venezuela quer fazer mudanças. O país tem feito, nos últimos vinte anos, mudanças importantes no funcionamento institucional e sempre a pedido do povo, que se expressou pelo voto", disse, em entrevista a Ana Lazaro, correspondente da euronews em Bruxelas.
A euronews entrevistou, também, um dos membros da oposição a Maduro, que se encontra em Bruxelas. Antonio Ledezma, ex-presidente da Câmara de Caracas (capital da Venezuela), saudou o resultado da votação, mas deixou um aviso sobre a estratégia diplomática europeia.
"Se vão criar um grupo de trabalho, seja qual for o modelo em que o estão a conceber, devem ter a noção clara de que nós apenas o aceitamos se for para definir os termos para o fim da usurpação. Não queremos falsas negociações para dar mais tempo a Nicolás Maduro. Qualquer que seja a diligência deve ser para pôr fim a esta tirania", disse Antonio Ledezma.
O chamado grupo de contacto pedido pelos eurodeputados teria como missão dialogar com autoridades dos países sul-americanos e outros atores-chave para desenhar o processo que conduza às eleições.
Enviar tropas "é prematuro" diz Marcelo Rebelo de Sousa
Portugal tem sido um dos Estados-membros que mais insiste nesta solução.
O Presidente da República português considerou, hoje, que "certamente o Governo português já pensou" num plano para proteger os cidadãos portugueses e lusodescendentes na Venezuela, se necessário, mas afastou "qualquer especulação" sobre o envio de forças.
"Todos os governos que têm lá cidadãos têm a obrigação de pensar naquilo que teriam de fazer se houvesse uma situação que todos esperamos que não exista. Certamente o Governo português já pensou nisso", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas, no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Questionado sobre a hipótese de um envio de forças para a Venezuela, o chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas respondeu que "até agora não se colocou nenhuma questão dessas", que implicaria naturalmente o seu conhecimento, e que, "portanto, qualquer especulação sobre a matéria é prematura".
Em seguida, admitiu que "possa haver uma confusão entre as duas realidades", um eventual envio de forças para a Venezuela e um plano de proteção dos portugueses e lusodescendentes.
"São duas coisas completamente diferentes, mas nenhuma delas está na ordem do dia", acrescentou.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
A repressão dos protestos antigovernamentais da última semana provocou 35 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.
Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300 mil portugueses ou lusodescendentes.