Começa na Bélgica o julgamento de um ruandês que denunciava as famílias a abater pelas milícias interahamwe, durante o genocídio no Ruanda, em 1994.
Após 25 anos de dúvida, dor, paciência, Martine Beckers vai assistir ao julgamento, na Bélgica, da pessoa responsável pelo assassinato da irmã, do cunhado e da sobrinha, durante o genocídio no Ruanda. O julgamento é um passo importante para o conhecimento da verdade, mas não é um fim em si mesmo.
"Eu espero, mas sem grande esperança, que a pessoa que teve o principal papel neste assassinato reconheça a sua culpa. Quero poder perceber. Espero, simplesmente justiça, afirma.
A vida de Martine mudou num domingo de Abril de 1994. Recebeu uma chamada de manhã a informá-la que a sua família, que vivia há 17 anos no Ruanda, estava morta. Claire, a irmã, tinha um negócio de gelados em Kigali. Isaías, o marido de Claire, era engenheiro civil e tinha decidido trabalhar com a esposa por medo. Finalmente Katia, com 18 anos, era uma jovem desportista. Os familiares de Martine não tiveram tempo para fugir.
Ela conta: "As milícias, chamadas Interahamwe, chegaram e assassinaram-nos. A minha irmã foi a primeira, com uma bala na cabeça.
Este é apenas o julgamento da pessoa que denunciou a família. Mas para Martine, a pessoa acusada não é a única responsável pela morte dos seus familiares. Ela também culpa os capacetes azuis da ONU, instalados a 500 metros da casa e ainda as autoridades belgas pela incapacidade de os proteger.
"A minha irmã tinha muito medo. Esperava que os soldados que estavam acantonados próximo da casa dela - os soldados belgas da MINUA, a força das Nações Unidas - viessem salvá-la; que a embaixada ou o consulado pudessem intervir para a proteger, mas eles não fizeram nada".
Segundo as Nações Unidas, entre abril e julho de 1994, 800 mil pessoas foram mortas no Ruanda, principalmente da etnia Tutsi.