Fabien Neretsé enfrentou o primeiro dia do julgamento sobre o seu papel no genocídio de Ruanda, quinta-feira, num tribunal de Bruxelas. O ex-engenheiro nega ter denunciado o esconderijo de um grupo de tutsis assassinados por milícias hutu.
Fabien Neretsé enfrentou o primeiro dia do julgamento sobre o seu papel no genocídio de Ruanda, quinta-feira, em Bruxelas. O ruandês de 71 anos, que vivia em França, nega as acusações de ter denunciado o local onde se escondiam tutis, acabando 13 deles assassinados pelas milícias hutu, em 1994.
Entre eles estava uma cidadã belga casada com um ruandês e mãe de uma jovem. A irmã da vítima belga vê agora Neretsé responder por alegados crimes de guerra e genocídio.
"Havia um plano para o extermínio de todos os tutsis no país. Esse plano foi posto em prática e foi nesse contexto que essa família foi assassinada, juntamente com outras famílias que estavam no mesmo local", explicou Eric Gillet, um dos advogados da acusação.
Por seu lado, o advogado do ex-engenheiro agrónomo acusado nega que o seu cliente fizesse parte de algum plano premeditado para o que ocorreu há 25 anos, ao longo de três meses de massacres.
"Houve atos genocidas de ambos os lados. Mas o meu cliente, de acordo com a nossa tese, não pode ser processado com base no crime de genocídio. Além disso, ele é inocente, ele nega todos os fatos imputados", afirmou Jean Flamme, advogado de defesa de Fabien Neretsé.
Mais de 100 testemunhas
Martine Beckers nunca desistiu de tentar obter justiça para a família Bucyana, constituída pela sua irmã Claire, o cunhado Isaïe e a sobrinha Katia, que viviam no bairro de Nyamirambo, em Kigali, capital do Ruanda.
"Esta é uma situação muito desagradável de se viver. Mas estou nesta luta há muito tempo e quero terminá-la de maneira honrada", disse Martine Beckers à euronews.
O julgamento conta com mais de 100 testemunhas que serão ouvidas pelo juíz e por um grupo de jurados selecionado pelo tribunal.
O crime de genocídio no sistema criminal belga prevê prisão perpétua como pena máxima. A decisão judicial deverá ser conhecida até o final do ano.
Estima-se que 800 mil pessoas morreram durante o genocídio de Ruanda, a grande maioria delas do grupo étnico tutsi.
Um Tribunal Penal Internacional para o Ruanda que julgou altas patentes e políticos foi dissolvido em 2015.