Movimento das sardinhas em Itália luta contra extrema-direita

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De  Valérie GauriatElza Gonçalves
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A 14 de dezembro, dezenas de milhares de manifestantes reuniram-se numa das maiores praças de Roma.

O movimento das sardinhas, em Itália, começou, há poucas semanas, depois de um grupo de pessoas, em Bolonha, ter apelado a uma manifestação contra o partido de extrema-direita de Matteo Salvini.

A 14 de dezembro, dezenas de milhares de manifestantes reuniram-se numa das maiores praças de Roma. "Saímos de décadas de obscurantismo, medo e ira. Em 2020, gostaríamos de entrar numa década de luzes, alegria, vontade de estarmos juntos, de construir, com solidariedade e um tecido social mais forte", disse à euronews Mattia Santori, cofundador e figura emblemática do movimento italiano. "Os cérebros ativaram-se. A democracia reanimou-se. Agora sabemos que não estamos sozinhos e que estamos apenas no início", sublinhou o economista e treinador italiano, diante de uma multidão, em Roma.

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Mattia Santori, cofundador do movimento das Sardinhas, em Itáliaeuronews

'Sardinhas' querem ocupar espaço público

Depois da manifestação de Roma, houve vários protestos por todo o país. Num mês, mais de 300 mil pessoas saíram à rua em várias cidades. Os manifestantes exprimem descontentamento face às ideias da extrema-direita. Mas, ninguém sabe exatamente para onde vai o movimento. Para já, o primeiro objetivo das 'Sardinhas' é ocupar o espaço público sem etiquetas partidárias, como disseram à euronews os manifestantes presentes em Roma. "Os políticos já não veem à rua, então, nós tentamos que a rua vá até aos políticos", disse à euronews Marino Aranci, dono de uma livraria.

"Somos de Urbino, no centro de Itália, a pátria de Rafael, do renascimento italiano. Esperamos que o movimento das Sardinhas leve ao despertar das consciências", afirmou o advogado italiano Giuliano Melini. "Estamos aqui para denunciar a deriva soberanista, populista e racista, para dizer 'não' ao ódio. Não é este o mundo que queremos deixar aos nossos filhos", disse Donatella Schiavi, professora de história e filosofia. "Não se pode fazer política com frases do tipo 'Os italianos primeiro' ou "Todos para fora", nem com o ódio que transformou o nosso povo. Antes dizíamos: 'os italianos são boas pessoas'. Tínhamos a impressão que essas pessoas tinham desaparecido, mas, na realidade, elas estão aqui, somos nós, as pessoas boas", exclamou Cristina Cecchetti, agente imobiliária italiana.

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Marino Aranci, manifestante italiano contra a extrema-direitaeuronews

'Sardinhas' criticam racismo em Italia

A euronews falou com Stephen Ogongo, coordenador do movimento das sardinhas em Roma. Originário do Quénia, o jornalista faz parte de uma associação de luta contra o racismo. Após a última campanha antirracismo da associação, os responsáveis da rede social Facebook decidiram eliminar os conteúdos racistas da página do partido de Matteo Salvini. Uma decisão acolhida com uma série de insultos contra Stephen Ogongo. Uma das mensagens contra o militante dizia: "Regressa para o Congo, para os teus chimpanzés".

"O mais importante é despertar a consciência das pessoas, para que se dêm conta de que a situação é grave. Há uma pessoa que está a tentar criar um ódio artificial. Há o perigo do populismo e do regresso do fascismo. O movimento é também uma forma de chamar a atenção para a necessidade de colocar o ser humano e o respeito pela dignidade humana no centro da política", disse Stephen Ogongo.

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Stephen Ogongo, coordenador do movimento das Sardinhas em Romaeuronews

Para onde vai o movimento das Sardinhas?

A euronews esteve numa conferência de imprensa do movimento de contestação à extrema-direita italiana. A pergunta que todos colocam é: 'para onde vão as Sardinhas'? "É uma questão difícil. Neste momento, estamos na primeira fase: compreender toda a energia que existe em Itália. Agora que sabemos que ela existe, temos de saber para onde vamos dirigir essa energia", considerou Mattia Santori. "Não podemos pensar que as Sardinhas, que eu, Mattia Santori, ou que um movimento como este podem resolver os problemas. Seria totalmente populista. As pessoas têm de perceber que a política faz-se a partir de baixo, da vida, e que não são necessárias manifestações de Sardinhas", acrescentou o cofundador do movimento.

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manifestação em Romaeuronews

O impacto político de uma iniciativa cidadã

Após a manifestação de Roma, 150 delegados do movimento reuniram-se para debater formas de contrariar as ambições da Liga de Matteo Salvini, nas eleições regionais. A região de Emilie Romagne, tradicionalmente à esquerda, vai às urnas. O resultado do voto pode influenciar os equílbrios políticos do país. "O primeiro objetivo deste encontro é voltar o mais rapidamente possível às praças e implicar os territórios em que não houve movimento. Não fizemos nada de especial. Trabalhámos simplesmente com pessoas que querem transmitir uma mensagem alternativa ao populismo e ao soberanismo, de uma forma muito espontânea e livre", anunciou Mattia Santori aos jornalistas que aguardavam o fim da reunião, em Roma.

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Manifestantes espanhóis no protesto das 'Sardinhas' em Romaeuronews

De Itália para o mundo

A mensagem do movimento das sardinhas ecoa para além das fronteiras italianas. A euronews falou com um grupo de espanhóis que se encontravam na manifestação em Roma. "Participámos na manifestação porque estamos cansados desta política vulgar, de desprezo, onde se fala de forma demagoga, sem conseguir resolver os problemas. É o que se passa em Itália, e, infelizmente, é o que começa a passar-se em Espanha. O nosso desejo é que as sardinhas italianas nadem até outras partes da Europa e cheguem a toda a Europa, e, mesmo, ao mundo inteiro", resumiu Clara Berna, professora de Flamenco, em Espanha.

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