Debater racismo na Europa é um desafio difícil?

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De  Isabel Marques da SilvaAna Lázaro
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A revista quis chamar a atenção para o domínio dos brancos em muitos setores, em muitos países europeus, e nas próprias instituições da União Europeia, que tem sede em Bruxelas. O executivo europeu admite serem necessárias mudanças.

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Uma capa da revista LE VIF causou escândalo na Bélgica, por ter escurecido a cara de personalidades conhecidas em vários setores no país.

A prática cultural de pintar a cara de um branco para parecer negro, mais conhecida pelo termo inglês "blackface", é antiga, em peças de teatro e carnavais, e muito criticada nas últimas décadas.

Mas a direção da revista diz que o objetivo era exatamente criticar o racismo que impede uma maior ascensão de afro-descendentes a posições de grande estatuto e poder na sociedade.

“Entre nós, o "blackface" é usado com a intenção de fazer uma caricatura, é uma forma de estigmatização. Mas não é, absolutamente, o que queríamos fazer. Não há qualquer intenção de zombar, de ser malicioso, pelo contrário, somos totalmente anti-"blackface". Mas temos de ser realistas e admitir que foi essa a interpretação do público e que "o tiro nos saiu pela culatra" porque queríamos, precisamente, fazer o oposto", explicou Anne Sophie Bailly, chefe de redação, em entrevista à euronews.

Algumas personalidades brancas que usaram o "blackface", em festas ou carnavais, acabaram por ter de pedir desculpas publicamente, como foi o caso do primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau. Ativistas anti-racismo explicam que já não existem desculpas aceitáveis para usar esta caricatura, que consideram degradante.

O "blackface" é um dos vestígios mais concretos da história colonial e de história da escravatura, que sempre pretendeu fazer a uma desumanização das populações negras e afro-descendentes. Logo, esta escolha de capa é muito chocante", disse
Stéphanie Ngaluga
Ativista anti-racismo, Bélgica

"Muitas pessoas, incluindo eu, ficaram incomodadas com esta capa da LE VIF por ter recorrido ao "blackface", um dos vestígios mais concretos da história colonial e de história da escravatura, que sempre pretendeu fazer a uma desumanização das populações negras e afro-descendentes. Logo, esta escolha de capa é muito chocante", disse Stéphanie Ngaluga,  ativista anti-racismo.

Promover a diversidade nas instituições

O artigo visava falar do movimento "Black Lifes Matter", que começou nos Estados Unidos para denunciar a violência policial sobre a população afro-descendente e que chegou à Europa. 

A revista quis chamar a atenção para o domínio dos brancos em muitos setores, em muitos países europeus, e nas próprias instituições da União Europeia, que tem sede em Bruxelas. O executivo europeu admite serem necessárias mudanças.

"A capa não é realmente bem sucedida. Mas penso que tema sobre o qual se fala no artigo é muito importante. Existe um sério problema de muitas pessoas continuarem a achar que ser europeu significa ser branco. E existe na Comissão Europeia um excesso de funcionários brancos. Penso que é uma tarefa importante debater e analisar o tema porque algo tem de ser feito para representar toda a população da Europa ”, disse Ylva Johansson, comissária europeia de Assuntos Internos, num discurso, segunda-feira, sobre a integração dos migrantes no mercado de trabalho europeu.

A Comissão Europeia criou uma pasta para a Igualdade e promete apresentar um novo plano de ação.

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