A energia nuclear é "limpa"? Uma parte dos países da UE diz que sim

A energia nuclear é "limpa"? Uma parte dos países da UE diz que sim
Direitos de autor euronews
Direitos de autor euronews
De  Hans von der Brelieeuronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Muitos países do Leste da Europa querem investir no nuclear. A Comissão Europeia deverá anunciar, em breve, se a energia nuclear vai integrar a lista das energias consideradas limpas.

A União Europeia quer atingir a neutralidade climática em 2050, mas, no terreno, os países europeus adotam estratégias diferentes para reduzir as emissões de CO2.

A Polónia, a República Checa, a Eslováquia, a Hungria, a Bulgária e a Roménia querem investir fortemente no nuclear. Países como a Áustria, a Alemanha e Portugal insistem nas vantagens das energias renováveis. A questão suscita um enorme debate na Europa. A Comissão Europeia quer criar um sistema de classificação ambiental e deverá anunciar, em breve, se o nuclear será classificado como energia limpa ou sustentável. Um anúncio que deverá ter um impacto nas decisões de investimento das empresas do setor energético.

O caso da Roménia

Na era comunista, a Roménia construiu duas centrais nucleares em Cernavoda, na margem do rio Danúbio. A Roménia quer renovar as centrais nucleares, que funcionam com base numa tecnologia canadiana, e construir mais dois reatores, o que representa um investimento de cerca de seis mil milhões de euros. Para o ex-presidente da organização europeia de lobi nuclear FORATOM, a energia nuclear é fundamental para atingir as metas de redução de CO2.

"Para atingir as metas climáticas, temos de desenvolver as energias renováveis e continuar o programa nuclear. É impossível atingir as metas sem o nuclear. Hoje, o nuclear representa entre 18 a 20% do total. 30 a 35% de nuclear seria um número viável se seguirmos a tendência atual, até 2050", afirmou à euronews Teodor Chirica, presidente do conselho da Nuclearelectrica, na Roménia, e ex-presidente da organização europeia de lobi nuclear FORATOM.

euronews
Teodor Chirica, presidente do conselho da Nuclearelectrica, na Roménia, e ex-presidente da organização europeia de lobi nuclear FORATOM.euronews

Comissão Europeia quer classificar fontes de energia

A Roménia aguarda a decisão da Comissão Europeia sobre a classificação das fontes de energia. Para Teodor Chirica, a energia nuclear deve ser incluída na lista das energias "limpas".

“Uma das posições é político-ideológica e a outra tem uma base científica. Se, na pior das hipóteses, a classificação da Comissão Europeia excluir a energia nuclear, isso não significa que não poderemos apostar na energia nuclear. O problema é que não teremos acesso a financiamento e isso pode afetar a parte económica do projeto”, afirmou o ex-presidente da organização europeia de lobi nuclear FORATOM.

Investimento no nuclear pode prejudicar renováveis

A euronews falou com uma figura histórica do pequeno movimento anti-nuclear da Roménia. Para Lavinia Andrei, o uso de fundos públicos para financiar o nuclear distorce o mercado e prejudica o desenvolvimento das energias renováveis.

“Se canalizar o dinheiro para a energia nuclear está a criar uma desvantagem noutros setores como o das energias renováveis. A empresa que gere a rede energética afirmou que a rede não tem capacidade suficiente para gerir o nuclear e as renováveis ”, afirmou a presidente da fundação Terra Mileniul III.

A Roménia enfenta ainda outro desafio. Devido às alterações climáticas, os rios têm menos água e é preciso água para arrefecer as centrais nucleares. O problema afeta o rio Danúbio e já levou à interrupção da produção de energia numa central no verão. A empresa romena afirma que alterou o sistema de bombeamento de água mas há receios que o problema se repita.

euronews
Lavinia Andrei, presidente da fundação Terra Mileniul III.euronews

O potencial do setor eólico na Roménia

A euronews esteve em Agighiol, perto de uma zona onde estão instalados vários parques eólicos, nomeadamente um conjunto de equipamentos da empresa italiana de energia ENEL.

A energia representa um mercado bilionário. Para que haja investimento, é necessário um enquadramento legal estável. Há alguns anos, a Roménia apoiou o desenvolvimento das energias renováveis graças aos chamados “certificados verdes”. Mas o programa acabou e o investimento parou. Ficaram apenas algumas grandes empresas.

“Aproveitar a energia eólica implica utilizar uma tecnologia nova, moderna e de ponta, o que me agradou, foi um desafio profissional. Além disso, para a comunidade local, este tipo de tecnologia é muito importante porque as pessoas sentem-se mais próximas da Europa, sentem que fazem parte do mapa europeu", afirmou Sorin Zamfir, supervisor do parque eólico de Dobrogea.

De acordo com o responsável, o potencial de energia eólica na Roménia ainda não foi totalmente explorado. É possível instalar mais turbinas.

“As fontes de energia clássicas são limitadas e poluentes. A energia eólica é barata e eficiente. Nesta área, temos um grande potencial para a construção de parques eólicos. E não só aqui. A Roménia pode desenvolver essa tecnologia para responder a todas as necessidades dos consumidores“, acrescentou o responsável. 

euronews
Sorin Zamfir, supervisor do parque eólico de Dobrogeaeuronews

Setor da energia solar pede mais apoio

A Roménia é um país com sol e a energia solar pode desempenhar um papel importante na transição energética. A euronews visitou o Parque Solar de Mavrodin. A pequena cooperativa, principal fornecedor de energia 100% renovável na Roménia, tem planos de ambiciosos.

Andrei Bucur, membro do conselho da cooperativa, afirma que é possível instalar painéis solares em telhados numa área de um milhão e meio de metros quadrados. Mas a falta de apoio do governo e as deficiências da rede de transporte de energia são um obstáculo.

"A Roménia é um país abençoado porque temos muito sol e muito vento nalgumas áreas. Podemos no mínimo duplicar a produção de renováveis na Roménia. Para podermos instalar uma central fotovoltaica temos de a ligar à rede. Não faz sentido investir numa central fotovoltaica, se não for possível ligá-la à rede”, referiu Andrei Bucur.

euronews
Andrei Bucur, membro do conselho da cooperativa de energia solar Mavrodineuronews

O impacto da classificação da Comissão Europeia

No terreno, o debate sobre o modelo energético da Europa está longe de estar encerrado. Para os trabalhadores da central romena, a energia nuclear não deve ser excluída.

“O primeiro elemento é o nuclear. É a base. É uma energia que está sempre disponível quando precisamos dela. Depois, as renováveis. Temos renováveis na Roménia, devemos mantê-las e investir ainda mais nessa área. Mas as renováveis não estão sempre disponíveis. Essa disponibilidade é compensada pelo nuclear”, disse à euronews Costin Antonie, trabalhador da central de energia nuclear de Cernavoda.

Para Costin Antonie, é importante debater as questões das alterações climáticas e da transição energética com os mais jovens e por isso aborda o assunto com a filha de 12 anos.

“Bianca, sabes por que é que o nuclear é importante? Porque, como sabemos, há alterações climáticas, a temperatura está a aumentar, a cada ano que passa, e é preciso tomar medidas. A energia nuclear na Roménia, à qual dediquei a minha vida, é por assim dizer, uma energia limpa", afirmou Costin Antonie.

A Comissão Europeia aguarda as conclusões de vários estudos independentes para estabelecer uma classificação das fontes de energia. Uma decisão que deverá desempenhar um papel importante nas decisões de investimento no setor energético na próxima década.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

A questão central das eleições alemãs é a transição energética

O potencial energético das profundezas da terra

França depois dos atentados de 2015