A saída das tropas americanas do país é um golpe para a NATO, mas será que esta é uma oportunidade para mais integração europeia em matéria de defesa?
Os desenvolvimentos no Afeganistão voltaram a servir de alerta para a União Europeia sobre a importância de uma força militar comunitária de intervenção rápida.
A iniciativa da chamada Bússola Estratégica, que pretende definir orientações e objetivos em matéria de segurança e defesa, é precisamente um dos pratos fortes do encontro informal de dois dias dos ministros da Defesa da União Europeia, a partir desta quinta-feira em Kranj, na Eslovénia.
Poderá a "derrota" do Ocidente e da NATO ser vista como uma janela de oportunidade para a autonomia estratégica europeia?
Fabrice Pothier, diretor de estratégia da Rasmussen Global tem outro entendimento: "Penso que esta é mais uma janela da realidade, que [mostra que] a Europa ainda não tem nem vontade política nem capacidades reais, especialmente em termos de transporte aéreo, vigilância, inteligência, logística ou de forças de proteção para fazer o tipo de trabalho que as forças dos EUA estavam a fazer no Afeganistão. A verdadeira questão é perceber se isso realmente vai produzir uma mudança do jogo e se vamos ver especialmente os alemães - que continuam a ser um Estado decisivo na Europa em termos de defesa - a estar muito mais dispostos a colocar dinheiro, em primeiro lugar, e, em segundo, a desenvolver a cultura estratégica, estando dispostos a correr riscos, a enviar forças alemãs."
Pothier lembra que a discussão se coloca sempre depois de vários fracassos da União Europeia. A verdadeira prova de fogo, sublinha, será no Sahel: "Podem criar-se títulos, fazer-se anúncios, mas a verdadeira prova de fogo é o Sahel. [Perceber] se os europeus, especialmente os franceses, vão conseguir aguentar-se no Sahel. Porque assim que vi a notícia sobre o Afeganistão pensei no Sahel. No momento em que França se retirar do Sahel teremos uma série de países que com certeza entrarão em colapso e serão dominados por grupos criminosos, terroristas e então haverá realmente um problema muito perto da Europa.”
A Bússola Estratégica será, previsivelmente, aprovada em 2022. É pelo menos esse o objetivo. Mas as divisões entre os Estados-membros em matéria de integração da defesa europeia persistem.
Alguns temem uma quebra do vínculo com Washington ou que a política de defesa fique refém de interesses nacionais.