UE quer que Pequim partilhe responsabilidade de restaurar a paz

Líderes da União Europeia reuniram-se com líderes chineses pela primeira vez desde 2020
Líderes da União Europeia reuniram-se com líderes chineses pela primeira vez desde 2020 Direitos de autor Olivier Matthys/Copyright 2022 The Associated Press. All rights reserved
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De  Pedro Sacadura
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Com a guerra na Ucrânia como pando de fundo, Bruxelas pediu a Pequim compromisso ativo com estabilidade durante a cimeira UE-China e para não subverter sanções nem apoiar regime russo. A China, por outro lado, voltou a criticar as sanções ocidentais

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A China deve mostrar, de forma ativa, o compromisso em restabelecer a paz mundial e na Ucrânia, disseram os líderes da União Europeia (UE) a Pequim. Com a invasão russa da Ucrânia em curso, olhar para o lado e manter uma postura equidistante também não é uma opção, acrescentaram.

O mantra ecoou na aguardada 23ª cimeira entre a União Europeia e a China desta sexta-feira, que decorreu por videoconferência.

Os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen e Charles Michel, reuniram-se com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e com o presidente Xi Jinping, pela primeira vez desde 2020. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, também participou do encontro.

"A China tem uma influência sobre a Rússia e, por isso, esperamos que a China assuma a sua responsabilidade para acabar com a guerra na Ucrânia e que a Rússia volte às soluções de negociações pacíficas. Esperamos que a China - não apoiando as sanções - faça pelo menos tudo para não interferir de qualquer forma no conflito", sublinhou, numa conferência de imprensa conjunta com Charles Michel, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, descrevendo as conversas de hoje como um diálogo "aberto" e "franco", apesar das poucas garantias obtidas do lado oposto em relação à não-interferência.

Bruxelas reiterou avisos à China, que tem adotado um postura ambivalente, apelando a Pequim para se afastar de ajudar a Rússia a contornar as pesadas sanções impostas pelo bloco ou de fornecer ajuda militar.

Até porque nesse caso a neutralidade chinesa ficaria em causa e isso, ressalvou Ursulavon der Leyen, poderia ter um impacto imprevisível para a "reputação da China na Europa."

"Nenhum cidadão europeu entenderia qualquer apoio à capacidade de a Rússia fazer a guerra", acrescentou.

Os dois blocos entendem, em todo o caso, que a estabilidade é prioritária e que não é do interesse de ninguém agravar os problemas atuais, nem políticos nem económicos.

"Como potências mundiais que são, a UE e a China devem trabalhar em conjunto para acabar com a guerra russa na Ucrânia o mais rápido possível. Temos uma responsabilidade comum de manter a paz e a estabilidade, e um mundo seguro e sustentável. As normas internacionais e os princípios devem ser respeitados. Contamos com o apoio da China para ajudar a alcançar um cessar-fogo duradouro, para parar a guerra injustificável e gerir a dramática crise humanitária que se gerou", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

Durante o encontro, enfatizou-se, igualmente, o estatuto da China como membro permanente no Conselho de Segurança da ONU e a responsabilidade de respeitar a lei internacional e a proteção da soberania da Ucrânia.

A presidente da Comissão Europeia também lembrou que na cimeira "ficou claro que este não é apenas um momento decisivo para o continente [europeu], mas é também um momento decisivo para a relação [da UE] com o resto do mundo”, assim como “para a ordem global baseada em regras” pois “nada ficará como era antes da guerra.”

Certo é que o encontro de hoje deixou evidente, uma vez mais, as visões opostas das duas partes.

O presidente chinês, Xi Jinping, pediu ao bloco para se focar em por termo à turbulência mundial. Após o encontro, Pequim divulgou uma declaração na qual apelou à amizade entre a Europa e a China, mencionando a Ucrânia apenas uma vez, mas sem referir a Rússia.

Igualmente presente na cimeira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, criticou as sanções ocidentais e apontou baterias aos Estados Unidos, acusando de inflamar parcialmente a guerra na Ucrânia, por causa da expansão da NATO a leste. Também integram a Aliança Atlântica 21 dos 27 Estados-membros da União Europeia.

Que futuro para as relações comerciais UE-China?

O comércio com a União Europeia - um importante mercado para a China - também foi discutido. Todos os dias, disse Ursula von der Leyen, "a China e a UE transacionam quase dois mil milhões de euros de bens e serviços”, enquanto o comércio entre a China e a Rússia "é de apenas 330 milhões de euros por dia."

Em dezembro de 2020, a China e a UE acertaram um Acordo Compreensivo de Investimento (CAI no acrónimo em inglês), ao fim de sete anos e depois de mais de 30 rondas de penosas negociações. Nunca foi ratificado e por esse motivo não entrou em vigor.

Pequim tem interesse na ligação comercial como o bloco, sendo um importante destino de Investimento Direto Estrangeiro das empresas chinesas. Mas o acordo está congelado, depois de a China retaliar sanções europeias - que tiveram a questão dos direitos humanos como pano de fundo - com contra sanções destinadas a eurodeputados.

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A fricção mantém-se e o futuro das relações comerciais é uma incógnita, dependendo sempre, no entanto, de se encontrarem soluções equilibradas para os dois lados.

Se já não era fácil, com a tensão crescente por causa da guerra na Ucrânia, as coisas poderão tornar-se ainda mais difíceis, lembrou, em entrevista à Euronews, Ricardo Borges de Castro, Diretor Associado e Chefe da Europa no programa Mundial do think tank Centro de Política Europeia.

“Uma grande lição a tirar da guerra atual é que ter nos negócios dependências de países que não partilham os mesmos valores, pode ter um custo enorme. Penso que a lição que muitos europeus podem tirar – opinião pública e líderes – é que talvez precisemos repensar as nossas relações com a China e até mesmo questionar essa ideia de a China ser um parceiro, concorrente e rival ao mesmo tempo."

Neste momento, há outro problema entre as duas partes por resolver: o braço-de-ferro entre a China e a Lituânia por causa da abertura de uma representação diplomática de Taiwan em Vilnius.

Bruxelas acusa a China de bloquear a entrada de produtos lituanos no seu mercado. O mesmo aplica-se a produtos de outros Estados-membros com componentes made in Lituânia, o que está a afetar exportações de vários países europeus do bloco, incluindo a Alemanha.

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Por causa das práticas comerciais que considera discriminatórias, a União Europeia avançou com uma queixa contra a China na Organização Mundial do Comércio. As relações entre os dois lados já tinham azedado, mas podem agravar-se, mantendo-se dossiers por afinar.

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