Portugal e Espanha querem vender energia renovável à Europa mas é preciso passar por França

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De  Elza GONCALVESEuronews
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Península Ibérica espera tirar partido da intenção da UE de reduzir dependência do bloco face às importações de combustíveis fósseis da Rússia. Mas, para vender energia à Europa, Portugal e Espanha precisam de passar por França.

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O plano da União Europeia para reduzir a dependência face à energia russa pode ser visto como uma oportunidade histórica para Portugal e Espanha.

A Península Ibérica é líder em energias renováveis - solar, hídrica e eólica - mas o nível de interligação energética entre os dois países e o resto da Europa é baixo.

“Portugal e Espanha pedem, há muito tempo, uma maior e melhor interligação com o resto da Europa, em especial no que diz respeito à energia elétrica. Penso que ambos os países sentem um certo grau de frustração porque, até ao presente, não tiveram a resposta que desejam," afirmou Pierre Tardieu, diretor de Políticas da Associação Europeia de Energia Eólica, Wind Europe.

Um ponto de vista partilhado pela Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN). "A Península Ibérica está muito menos interligada com o resto do sistema europeu do que os restantes países da UE, o que impede o acesso nas mesmas condições aos benefícios das interligações elétricas e impede que o total potencial das energias renováveis seja um benefício para o mercado único europeu", disse à euronews Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN.

Para chegar à Europa Central é preciso passar por França

Para chegar aos mercados europeus, Portugal e Espanha precisam de infraestrutura que terá que passar pela França.

O processo de integração da Península Ibérica no mercado interno da energia foi lançado após a cimeira realizada em Espanha em março de 2015, quando os dois países e a França decidiram construir infraestruturas para integrar a Península Ibérica na rede energética europeia.

Com vista à criação de um mercado energético mais competitivo, em 2018 os três países concordaram em chegar a 15% de capacidade de interligação elétrica entre a Península Ibérica e França, até 2030, através de diversos projetos.

UE investe 578 milhões de euros em projeto no Golfo da Biscaia

Na sequência da II Cimeira para as Interligações Energéticas, a Comissão Europeia aprovou uma verba de 578 milhões de euros para a construção de uma nova ligação elétrica subaquática entre Espanha e França, através do Golfo da Biscaia.

“Portugal e Espanha têm um potencial extraordinário de produção de eletricidade. E é principalmente a eletricidade que vai permitir o processo de descarbonização", disse Pierre Tardieu. "Quanto mais interligados estiverem os mercados europeus, mais resiliente será o sistema energético," acrescentou o responsável.

Espanha desiludida com cooperação francesa

Inicialmente previsto para 2025, o projeto foi adiado e está agora previsto para 2027. As autoridades espanholas não escondem o seu descontentamento.

"Temos muitas afinidades e sinergias com a França (...) mas é muito díficil avançar em matéria de interligações energéticas", afirmou Teresa Ribera, ministra do Ambiente de Espanha, durante uma conferência em março.

Setor das renováveis em Portugal pede aceleração do processo

Em declarações à euronews, o presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), Pedro Amaral Jorge, sublinhou que os atuais projetos de interligação entre a Península Ibérica e França são insuficientes para atingir a meta dos 15%. 

"O desenvolvimento de novas interligações deve continuar com a maior celeridade possível, nomeadamente a interligação submarina sob o Golfo da Biscaia, a interligação norte com Portugal entre a Galiza e a região do Minho em Portugal e os projetos Navarra-Landes e Aragão-Pirenéus-Atlânticos", detalhou o responsável.

O plano de Bruxelas para reduzir dependência da energia russa

O plano da União Europeia para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis da Rússia exorta as partes envolvidas a acelerarem os atuais projetos de interligação energética entre França e a Espanha.

Segundo Bruxelas, a energia eólica e solar devem desempenhar um papel de relevo na transição energética da Europa. Portugal e Espanha podem argumentar que não esperaram pelo plano da Comissão Europeia para avançar nesse sentido. 

Portugal anunciou que pretende aumentar para 80% o peso das energias renováveis na produção de eletricidade até 2026, antecipando em quatro anos a meta anteriormente estabelecida. Pela sua parte, Espanha apresentou planos para ser líder nas eólicas flutuantes.

Rede elétrica: "a espinha dorsal do sistema energético"

De acordo com o novo plano de transição energética da **União Europeia,**será necessário um investimento adicional no sistema elétrico europeu de 29 mil milhões de euros.

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“Isso significa que a rede elétrica será a espinha dorsal do sistema energético. Quando tivermos uma Europa bem interligada com a Península Ibérica, bem como com o sudeste europeu e o Báltico, a Europa poderá tirar partido do potencial formidável da energia eólica marítima no mar do Norte, da energia eólica terrestre na Península Ibérica, e da energia solar no sudeste da Europa”, sublinhou Pierre Tardieu.

O papel da França

No final de maio, o presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou um novo governo. Politicamente, poderá ser o momento ideal para avançar na área da cooperação energética europeia. A nova primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, é diretamente responsável pelas políticas de Transição Ecológica e Energia.

A euronews contactou o governo francês para obter um comentário sobre as intenções francesas em matéria de inteligações energéticas com Portugal e Espanha mas não obteve resposta.

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