Parlamento Europeu debate excessos de lóbi dos "Ficheiros Uber"

Um ex-funcionário da Uber que se tornou denunciante descreveu o método de pressão política
Um ex-funcionário da Uber que se tornou denunciante descreveu o método de pressão política Direitos de autor Shuji Kajiyama/Copyright 2022 The AP
De  Vincenzo GenoveseIsabel Marques da Silva
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De acordo com os chamados ficheiros Uber, eurodeputados, funcionarios da CE e de governos nacionais ao mais alto nível eram os principais alvos de lóbi.

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Os direitos dos trabalhadores das plataformas digitais de serviços, tais como a Uber, a Glovo, a Deliveroo e outras, são um tema cada vez mais quente dado o papel que têm num setor económico em grande expansão.

Mais de 100 pessoas de diferentes sindicatos europeus criticaram, no exterior do Parlamento Europeu, em Bruxelas, o poder de lóbi dos proprietários das plataformas junto dos decisiores políticos.

"Em julho, os ficheiros sobre a Uber foram divulgados e mostram que têm estratégias para evitar cumprir as regras, que tiveram contactos com políticos e que estão a fazer pressão para travar a nova legislação", disse Ludovic Voet, secretário-geral da ETUC, uma confederação sindical europeia, em entrevista à euronews.

O protesto decorreu,  terça-feira, dia de uma audição parlamentar sobre a nova proposta de diretiva da Comissão Europeia (CE) para este setor, apresentada em dezembro.

O lóbi é uma prática legal, mas a Uber, por exemplo, aumentou o seu orçamento de 50 mil para 700 mil euros, em menos de uma década, para esse esforço.

"Usamos como armas os nossos condutores e clientes"

De acordo com os chamados ficheiros Uber, eurodeputados, funcionarios da CE e de governos nacionais ao mais alto nível eram os principais alvos de lóbi.

Mark Macgann, ex-chefe do departamento de lóbi da Uber, que se tornou denunciante, descreveu o método.

"Quando os políticos tentaram travar-nos, ou atrasar a nossa ação, visamos o próprio sistema democrático, alavancando o poder político dos consumidores, exercendo muita pressão pública sobre os funcionários eleitos que eram resistentes, afogando-os em milhões de petições dos utilizadores. Dissemos aos políticos que concordaríamos em parar o serviço controverso e ilegal UberPop se eles mudassem a lei da forma que queríamos. Usamos como armas os nossos condutores e clientes", disse Mark Macgann, na audição da Comissão Parlamentar de Emprego.

A investigação científica apresentada aos legisladores europeus não era totalmente independente.

"Quando eu estava na Uber, pagávamos aos académicos para utilizarerm dados enviesados para produzir estatísticas que favorecessem a posição de Uber. Os dados mostravam ganhos elevados porque não levavam em conta o tempo que os condutores esperavam entre uma viagem e outra", acrescentou Mark Macgann.

A OLAF (agência antifraude da União Europeia) também está a investigar o caso de Neelie Kroes, uma ex-comissária europeia que, alegadamente, fez lóbi em nome de Uber logo após deixar o cargo.

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