UE: a caminho da COP27 enquanto países mudam do gás para o carvão

O consumo de carvão da UE aumentou 10% nos primeiros seis meses de 2022, segundo a Agência Internacional de Energia.
O consumo de carvão da UE aumentou 10% nos primeiros seis meses de 2022, segundo a Agência Internacional de Energia. Direitos de autor Martin Meissner/Copyright 2022 The AP. All rights reserved.
De  Jorge LiboreiroPedro Sacadura
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Na cimeira do clima que vai decorrer no Egito o bloco deverá deixar alertas e fazer apelos a outros países, numa altura em que enfrenta a pressão da crise energética

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Os líderes da União Europeia (UE) preparam-se para participar na COP27, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas que este ano decorre em Sharm el-Sheikh, no Egito.

A ambição é clara: travar a fundo as alterações climáticas e limitar o aquecimento global a um aumento de 1,5 graus Celsius acima dos valores pré-industriais, uma aspiração teórica que se tornou cada vez mais distante da realidade prática.

Não existe "nenhum caminho confiável para 1,5°C", concluiu um relatório ambiental da ONU no mês passado.

Há muito que a UE é considerada um defensor confiável da transição verde, adotando políticas de longo alcance e transpondo a meta de neutralidade climática para 2050 para lei. O bloco comunitário tornou-se uma espécie de laboratório experimental para a legislação climática, com outros países a procurar ver o que funciona ou não funciona.

Na conferência do ano passado, que decorreu na Escócia, a UE liderou os esforços para reduzir as emissões de metano, proteger as florestas tropicais e apoiar a descarbonização da África do Sul. Mas as coisas mudaram desde Glasgow.

Os líderes europeus viajam para Sharm El-Sheikh, no Egito, a meio de uma grave crise de energia que ameaça paralisar a indústria e as famílias sob pressão financeira.

Perante a ameaça de apagões e racionamentos generalizados, vários países fizeram da segurança do abastecimento a principal prioridade, mesmo que isso tenha um elevado custo económico e ambiental.

Com o abandono gradual do gás russo barato, alguns Estados-membros foram forçados a recorrer ao carvão, o combustível fóssil mais poluente.

Alemanha, Itália, Países Baixos, Grécia e Hungria anunciaram planos para estender a vida útil das centrais a carvão, para reabrir as que foram fechadas ou levantar o limite às horas para queimar carvão.

A Áustria, que celebrou o encerramento da última central a carvão em 2020, também propôs reativar o seu sistema para lidar com a escassez de emergência. A ideia foi bloqueada no verão pela oposição.

A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que o consumo de carvão da UE aumentou 10% nos primeiros seis meses de 2022, impulsionado principalmente pela procura de eletricidade, e prevê que continuará a aumentar à medida que o inverno se aproxima.

“Esperamos que o consumo de carvão também aumente no segundo semestre do ano, impulsionado pela necessidade de economizar gás para o inverno perante a incerteza sobre os fluxos russos”, disse a agência na sua atualização de mercado de julho, divulgada antes do encerramento indefinido do gasoduto Nord Stream 1.

"A Alemanha será responsável pelo maior consumo adicional", acrescentou a AIE.

Globalmente, a AIE prevê que o consumo de carvão atinja 8 mil milhões de toneladas, revertendo uma tendência de queda e igualando o recorde histórico estabelecido em 2013. A Europa será responsável por cerca de 5% da queima de carvão.

"Precisamos recuperar"

Este aumento inesperado na queima de carvão parece contradizer as prioridades declaradas da UE para a COP27, que incluem apelar a outros países a "fechar o capítulo inabalável sobre carvão através de uma redução gradual e do fim dos subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis."

Os países em desenvolvimento acusam, com frequência, o Ocidente de hipocrisia e egoísmo quando se trata de ação verde, argumentando que os países ricos têm um papel maior a desempenhar, dada sua responsabilidade histórica na libertação de emissões de gases com efeito de estufa e no aquecimento do planeta durante as revoluções industriais passadas.

A polémica questão das reparações climáticas, das compensações financeiras pelos danos irreversíveis causados ​​pelas alterações climáticas, está enraizada nessa mesma disparidade.

A Comissão Europeia, que liderou leis climáticas de nível mundial, alega que a situação se deve à instrumentalização do fornecimento de energia pela  Rússia e estima que a mudança do gás para o carvão possa durar até três invernos.

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Isso levará a um aumento nas emissões de gases com efeito de estufa no curto prazo, mas será compensado por uma implantação acelerada de energia verde caseira, através de painéis solares e parques eólicos, sublinha o executivo comunitário.

O bloco ainda está legalmente obrigado a reduzir as emissões em pelo menos 55% até o final da década.

"O que isso significa é que precisaremos recuperar o atraso na segunda metade da década para qualquer impacto que os próximos dois invernos possam ter nas nossas emissões, se houver algum, através do uso extra de carvão que precisamos no curto prazo", referiu um porta-voz da Comissão Europeia esta quinta-feira, em resposta a uma pergunta da Euronews.

"Mas penso que essa é uma situação que a maioria dos nossos parceiros internacionais entende. Eles entendem a situação em que estamos neste momento e que a Europa continuará a ser um líder global em termos de eliminação gradual do carvão em todo o mundo e em termos de aumentar as ambições."

A Comissão Europeia divulgou um novo plano, apelidado de REPower EU, que pretende mobilizar até 300 mil milhões de euros em empréstimos e subvenções para se atingir a independência total dos combustíveis fósseis russos antes do final da década.

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Os planos também pretendem reduzir a notória burocracia da tecnologia verde e expandir as metas da UE para as energias renováveis para 2030, de 40% para 45% de toda a energia total produzida.

O REPower EU ainda está em discussão e ainda não foram libertadas verbas.

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