Componentes ocidentais encontrados em drones iranianos

A Rússia começou a armazenar material antes da invasão, quando o comércio com a Europa e os EUA estava, na sua maioria, livre de entrave
A Rússia começou a armazenar material antes da invasão, quando o comércio com a Europa e os EUA estava, na sua maioria, livre de entrave Direitos de autor Conflict Armament Research.
De  Jorge LiboreiroIsabel Marques da Silva
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O último pacote de Bruxelas aplica uma proibição das exportações de drones fabricados na UE com destino à Rússia, Irão ou a qualquer outro país suspeito de ajudar a máquina de guerra de Vladimir Putin.

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Os drones de fabrico iraniano utilizados pelo exército russo para atacar as infra-estruturas essenciais da Ucrânia e mergulhar o país devastado pela guerra na escuridão são feitos "quase exclusivamente" de componentes fabricados por empresas sediadas na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, de acordo com um relatório da entidade Investigação Armamento em Conflito.

A organização, sediada no Reino Unido, monitoriza a utilização de armas ilegais em conflitos, que põem em causa o regime de sanções das Nações Unidas contra o Irão, e defende que a União Europeia e os seus aliados devem colmatar as lacunas existentes.

Depois de várias viagens à Ucrânia, a equipa conseguiu recolher e analisar dois modelos dos drones armadilhados - o Shahed-131 e o Shahed-136 -, que se auto-destruem quando atingem o alvo, bem com o Mohajer-6, um drone tático e de combate.

Os três veículos aéreos não tripulados mostraram múltiplas semelhanças com outros drones de fabrico iraniano que tinham sido analisados no Médio Oriente, entre 2017 e 2022, levando os investigadores a concluir que os drones utilizados pela Rússia para travar a guerra contra a Ucrânia tinham sido montados no Irão.

A euronews falou com Damien Spleeters, diretor-djunto de Operações da entidade, a fim de descobrir como estes componentes altamente sensíveis de origem ocidental chegam ao Irão.

"Encontrámos componentes de diferentes países europeus", disse Spleeters, referindo-se aos sistemas e motores de navegação por satélite.

"Normalmente, os fabricantes têm muito pouco controlo sobre onde os seus produtos vão parar. Portanto, estamos a tentar identificar canais de distribuição que podem ser problemáticos no sentido em que foram utilizados pela Rússia ou pelo Irão para adquirir esses componentes", acrescentou.

Difícil controlo

Spleeters explicou que enquanto alguns dos componentes ocidentais encontrados nos drones de fabrico iraniano deveriam ser controlados sob as atuais sanções, outros eram simples artigos comerciais que podiam ser adquiridos livremente.

"Nem tudo é controlável. Seria irrealista pensar que podemos controlar todos os modelos de componentes que podem ser utilizados. Mas, certamente, o rastreio, a manutenção de registos, a visibilidade na cadeia de fornecimento pode ser melhorada. Isso pode levar a melhores esforços de diligência", disse.

A Rússia também explorou esta disponibilidade e começou a armazenar material antes da invasão, quando o comércio com a Europa e os EUA estava, na sua maioria, livre de entraves.

Não é claro quanto tempo este inventário irá durar. Alguns dos mísseis de cruzeiro recentemente construídos na Rússia e utilizados para atacar Kyiv continham componentes ocidentais, advertiu Spleeters.

"Acho que não nos devemos enganar: (a Rússia) sabia que as sanções viriam e sabia que seria talvez mais difícil adquirir o material de que necessitam para continuar a fabricar armas", disse ele.

Sem fim à vista para a guerra da Ucrânia, a União Europeia e os seus parceiros estão a tentar colmatar as lacunas e reforçar as suas sanções contra o Kremlin.

O último pacote de Bruxelas aplica uma proibição das exportações de drones fabricados na UE com destino à Rússia, Irão ou a qualquer outro país suspeito de ajudar a máquina de guerra de Vladimir Putin.

"É crucial que as sanções e os mecanismos de sanções se baseiem em provas. Isso significa que se se quiser impedir efetivamente a Rússia de adquirir os componentes de que necessitam para fabricar armas, é preciso saber primeiro quais os componentes que estão efetivamente a utilizar, que componentes necessitam para continuar a fabricar essas armas e como conseguiram adquiri-las", disse Spleeters à wuronews.

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