Mulheres mal representadas na segurança e defesa, dizem embaixadores da NATO

Militar francesa, membro da tripulação do tanque principal de batalha Leclerc, participa em exercício com lançadores de foguetes HIMARS e MLRP num campo de tiro.
Militar francesa, membro da tripulação do tanque principal de batalha Leclerc, participa em exercício com lançadores de foguetes HIMARS e MLRP num campo de tiro. Direitos de autor AP Photo/Vadim Ghirda
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De  Lauren ChadwickPedro Sacadura
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Mulheres defendem diversidade de perspetivas e visões

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Apesar dos avanços em matéria de igualdade de género, as mulheres continuam em menor número do que os homens no que respeita a posições internacionais de segurança e defesa, revelaram embaixadores e especialistas à Euronews.

Isto é particularmente evidente quando se trata de tópicos difíceis de defesa, incluindo conversas sobre o Exército, um campo tradicionalmente dominado por homens.

“Estamos a progredir, mas alguns reflexos são difíceis de morrer e as mulheres continuam sub-representadas nas reuniões de alto nível em que participo”, sublinhou a embaixadora francesa junto da NATO, Muriel Domenach, em entrevista à Euronews.

“Sempre participei em reuniões em que havia muito poucas mulheres e quanto maior o nível e o grau de importância das chamadas questões de segurança dura, menos mulheres estão presentes”, acrescentou.

Domenach é uma das seis embaixadoras junto da NATO, uma aliança de segurança e defesa com 30 países participantes que assumiu uma nova importância com a guerra na Ucrânia.

A embaixadora lembrou que quando a Alemanha Ocidental se juntou à NATO em 1955 se assinou um acordo de embaixadores, todos do sexo masculino.

NATO
Assinatura do Protocolo de Adesão à NATO para a Alemanha Ocidental, 1955NATO

“Se olharmos para a assinatura do protocolo de adesão da Suécia e da Finlândia no início de julho passado, percebemos que havia seis mulheres em 30 aliados, ou seja, 20%.”

A ex-embaixadora do Canadá junto da NATO, Kerry Buck, que foi a única mulher do país a ocupar o cargo, disse à Euronews que muitos países importantes são agora representados por embaixadoras do sexo feminino, mas que numericamente a tendência permanece "bastante desequilibrada."

“Quando se é uma mulher embaixadora a representar um país, é-se vista por outros diplomatas como a representante do seu país. Então, da minha experiência, não vi nenhuma reação diferente por ser embaixadora canadiana, nenhum tratamento diferente”, disse Buck.

“Mas penso que há uma diferença no caminho até essas posições nos vários países.”

“Perspetivas diferentes trazem decisões diferentes”

“Ter uma diversidade diferente de vozes, experiências e conjuntos de habilidades é importante para melhores decisões, melhores políticas e melhor diplomacia”, disse Karin Johnston, investigadora sénior da organização Women in International Security e professora associada da American University.

“Uma diversidade de vozes traz diferentes perspetivas, diferentes formas de tomar decisões”, acrescentou.

“Se todos forem brancos e homens, todos podem chegar à mesma conclusão simplesmente porque todos pensam o mesmo.”

Uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas adotada em 2000 pediu o aumento da participação das mulheres nos esforços de segurança e de paz, reconhecendo que elas têm um papel importante a desempenhar na prevenção e resolução de conflitos.

A resolução também enfatizou “a importância da participação igualitária e do total envolvimento em todos os esforços para a manutenção e promoção da paz e da segurança.”

Johnston lembra que relatórios académicos e análises estatísticas mostraram a importância de diversas visões nas negociações de paz.

Uma análise estatística de um relatório de 2015 do International Peace Institute mostrou que a participação das mulheres nos processos de paz aumentou a probabilidade de um acordo duradouro.

De acordo com um relatório da ONU de 2021, no entanto, as mulheres foram em média “13% dos negociadores, 6% dos mediadores e 6% dos signatários nos principais processos de paz” entre 1992 e 2019.

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Sete em cada dez processos de paz não incluíram mulheres mediadoras ou signatárias.

A ex-embaixadora do Canadá junto da NATO, Kerry Buck, ressalva que a participação das mulheres não significa necessariamente que a discussão será radicalmente diferente, mas que as experiências das mulheres são diferentes das dos diplomatas do sexo masculino e que as suas vozes devem ser ouvidas.

“Ter vozes de mulheres com diferentes experiências envolvidas em discussões sobre paz, segurança e defesa é absolutamente vital.”

Virginia Mayo / POOL / AFP
Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, à direita, fala com a Representante Permanente de França na NATO, Muriel DomenachVirginia Mayo / POOL / AFP

Igualdade de género "distribuída de forma desigual"

Num resumo de política de 2021 Karin Johnston escreveu que apesar de a União Europeia (UE) ter feito progressos na estratégia de igualdade de género, as conquistas “foram distribuídas e implementadas de forma desigual”, particularmente nos campos da política externa e de segurança.

Um dos objetivos da estratégia de género da União Europeia é alcançar o equilíbrio de género na tomada de decisões e na política.

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Johnston diz que um dos maiores problemas é encontrar dados e informações sobre as mulheres nas missões militares e da UE.

A falta de números para mostrar o progresso foi uma das razões pelas quais a eurodeputada do Partido Verde alemão, Hannah Neumann, iniciou a campanha #Shecurity Index.

De acordo com o relatório de 2022, as mulheres continuam amplamente sub-representadas globalmente nas forças armadas e na polícia, com uma média de 154 anos necessários para alcançar a paridade de género nas forças armadas globais.

Apesar de as missões da ONU terem alcançado a paridade de género em 2021, acrescentou o relatório, a representação das mulheres nas missões da União Europeia é “significativamente menor.”

Em 2022, as mulheres representavam 26,2% do total de funcionários nas missões civis da UE. Apenas 23,1% dos cargos de embaixador foram ocupados por mulheres.

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“Manter as mulheres dentro"

Mas Johnston diz que “não depende apenas de trazer as mulheres. Significa mantê-las para que possam fazer a diferença e é disso que se trata a integração de género.”

Acrescenta que garantir que as mulheres possam ser promovidas e fornecer benefícios como a creche pode ajudar a garantir que estas permaneçam nessas funções.

Domenach lembrou que ainda existe uma visão de que esses setores não são para mulheres, o que leva menos mulheres a entrar nesses campos, além dos problemas de mobilidade dentro da diplomacia.

Mas mudou bastante desde que começou, referiu Domenach.

“Aqueles que nos recrutaram disseram-nos francamente que a diplomacia, a segurança e os assuntos de defesa não eram para mulheres, que não poderiam ter uma família e que teriam de escolher.”
Embaixadora Muriel Domenach

Acrescentou que o simples fato de substituir pessoas em licença de maternidade ou de paternidade é uma grande evolução desde que começou na diplomacia.

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“É importante ter mais diversidade porque é justo e porque é inteligente”, insistiu Domenach.

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