Como ganhar a luta contra as bactérias multirresistentes?

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Os antibióticos salvam vidas desde a descoberta da penicilina. Mas o consumo exagerado está a levar a doenças que não têm cura. Vamos ver porquê...

Durante uma viagem à Grécia, Joke sofreu um AVC. A situação piorou quando, no hospital, os médicos informaram o marido, Gerard, de que ela tinha contraído uma infeção que complicaria o processo de convalescença.

“Quando foi hospitalizada, descobriram que era portadora de uma bactéria resistente aos antibióticos. Ela e outros quatro pacientes infetados na mesma altura tiveram de ficar em quarentena. Foi muito difícil. Os amigos e a família não tinham autorização para a visitar. As pessoas tinham de medo de se aproximar dela”, afirma Gerard.

As bactérias multirresistentes podem ser fatais, sobretudo quando afetam pessoas com um sistema imunitário debilitado. Como é que surgem? É a questão em torno da qual se debruça o EVOTAR, um projeto científico europeu. O coordenador Willem van Schaik explica que “são bactérias que podem provocar infeções urinárias, septicemia… Representam um risco muito elevado para o paciente. Se as bactérias forem mesmo resistentes aos antibióticos, não há muitos tratamentos que os médicos possam aplicar.”

O problema das chamadas super-bactérias tem-se agravado sobretudo nos países do sul da Europa, onde o consumo indevido de medicamentos é mais flagrante. Segundo Marc Bonten, da Universidade de Utrecht, “é um fenómeno tão alargado que necessita de uma intervenção em várias frentes. Primeiro, o uso dos antibióticos tem de ser mais limitado; segundo, são necessárias melhores condições de higiene nos hospitais; terceiro, é preciso criar novos antibióticos, porque estas bactérias não vão desaparecer.”

Alguns micro-organismos terão desenvolvido resistências há milhões de anos, outros recentemente. Os cientistas tentam identificar o mecanismo de disseminação. “A resistência surge na natureza. Nós estamos a tentar perceber como é que os genes resistentes das bactérias que vivem na terra ou na água passam para as bactérias que provocam doenças nos seres humanos. É algo que ainda não conseguimos explicar. Se viermos a entender esse processo, podemos combater a multiplicação da resistência aos antibióticos”, realça van Schaik.

Quando um paciente toma um antibiótico, a ação do medicamento cumpre eficazmente o seu papel até os resíduos chegarem ao cólon. Aí, os seus efeitos acabam por matar desnecessariamente bactérias protetoras. Pierre-Alain Bandinelli, da companhia biotecnológica Da Volterra, sublinha que “a população de bactérias do cólon é muito importante. Aliás, há mais bactérias no cólon do que células em todo o corpo humano. Se as matarmos, os resíduos dos antibióticos vão alterar completamente a flora comensal.”

Uma solução possível é ingerir, em simultâneo com os antibióticos, umas mini-cápsulas que neutralizam os efeitos dos resíduos, ao libertar uma espécie de absorvente uma vez atingido o cólon. “É um efeito de esponja – é algo que podemos tomar juntamente com o antibiótico, para capturar os resíduos no cólon, antes que o excesso altere a flora”, diz Bandinelli.

O novo medicamento já foi aprovado em dois testes clínicos e em breve será administrado em pacientes.

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