Casamento infantil: a triste realidade de uma boda a cada 7 segundos

Casamento infantil: a triste realidade de uma boda a cada 7 segundos
De  Dulce Dias com ONU, Save the Children
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As meninas oriundas de zonas de guerra ou refugiadas por causa dos conflitos são particularmente vulneráveis - mas não são as únicas

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Durante o tempo que vai levar a ler este parágrafo, já uma menina de menos de 15 anos foi obrigada a casar-se. Segundo a ONG Save The children, a cada 7 segundos, uma rapariga de menos de 15 anos é forçada ao matrimónio – na maior parte dos casos, com um homem muito mais velho.

A girl under 15 becomes a child bride every 7 seconds.
A shocking new report on #DayoftheGirl: https://t.co/sSralepoqwpic.twitter.com/WCqOMJMWJO

— Refinery29 UK (@Refinery29UK) October 11, 2016

As meninas oriundas de zonas de guerra ou refugiadas por causa dos conflitos são particularmente vulneráveis – mas não são as únicas. Países como o Afeganistão, o Iémen ou a Somália são particularmente apontados do dedo pela ONG mas outros que não estão em guerra, como a Índia, também praticam o casamento infantil.

Sahar*, 14 anos, grávida de dois meses

Sahar casou-se há um ano, no Líbano. Hoje tem 14 anos e está grávida de dois meses. Do dia do casamento recorda: “Tinha-o imaginado um dia de festa – mas foi miserável. Sentia-me mal, estava muito triste”.

Sahar é oriunda da Síria mas a guerra levou-a a fugir para o Líbano e foi, oficialmente, com o objetivo de a proteger que o pai a forçou a casar-se aos 13 anos.

Infelizmente, esta história não é única. Em 2013, uma em cada quatro adolescentes sírias entre os 15 e os 17 anos refugiadas na Jordânia estava casada, segundo um relatório da ONG Save the Children (em inglês).

Um relatório publicado propositadamente neste 11 de outubro, primeiro Dia Internacional das Meninas, decretado pela ONU para fazer avançar a condição feminina no mundo.

Uma condição que começa pela educação – algo que, normalmente é negado às meninas que são forçadas ao casamento.

Khadra* fugiu do marido aos 16 anos

Khadra queria ser médica. Aos 15 anos, quando estava no secundário, o pai casou-a com um homem com o dobro da idade dela. Obviamente, Khadra abandonou os estudos e, ao final de um ano de maus tratos físicos conseguiu fugir do marido. Foi então que soube que estava grávida.

A uma gravidez complicada seguiu-se um parto de cesariana e Khadra esteve três dias sem recuperar a consciência.

Com um filho nos braços, voltar para os bancos da escola já não era uma opção.

“O casamento infantil é o início de um ciclo de desvantagens que nega às meninas os direitos básicos de aprenderem, de se desenvolverem e de serem simplesmente crianças”, explica Helle Thorning-Schmidt.

Girls like Stela have dreams to fulfill. They shouldn't be stopped by child marriage. https://t.co/CFv3Zii7hc#dayofthegirlpic.twitter.com/5PSCfmfeUi

— UN Women (@UN_Women) October 11, 2016

A directora da Save the Children continua: “As raparigas que se casam demasiado jovens têm mais probabilidade de serem confrontadas à violência doméstica, aos abusos e às violações. Engravidam e estão expostas a doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a sida. Como geram crianças antes de o corpo estar completamente preparado para a maternidade, enfrentam consequências devastadoras para a própria saúde e a dos respetivos bebés.”

700.000.000 de casamentos infantis

Entre as mulheres adultas de hoje, a ONU calcula que 400 milhões de mulheres entre 20 e 49 anos já foram casadas ou tiveram uma união informal quando eram meninas.

Ao todo, atualmente, há cerca de 700 mulheres e raparigas que foram forçadas ao casamento infantil, um número que, segundo a UNICEF, alcançará os 950 milhões em 2030, se nada for feito para contrariar a tendência.

Inverter a tendência

Cinco grande factores – casamento precoce, nível de educação, gravidez adolescente, mortalidade materna e proporção de mulheres nos respetivos parlamentos – contribuem para o desenvolvimento ou não das raparigas, que contabilizam, actualmente, 1100 milhões de seres humanos.

São esses fatores que a Save the Children destaca no indíce de oportunidades das raparigas, que comporta 144 países e no qual Portugal aparece muito bem posicionado em 8.° lugar, à frente de pa’ises como a Suiça, a Alemanha ou a França. O primeiro lugar é ocupado pela Suécia.

* Sahar e Khadra são nomes fictivos, para proteger a identidade das duas meninas

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