Há restaurantes a servir tubarão como se fosse espadarte

Fotografia ilustrativa captada em 2019 na costa mediterrânica de Israel
Fotografia ilustrativa captada em 2019 na costa mediterrânica de Israel Direitos de autor AP Photo/Ariel Schali/ Arquivo
De  Francisco Marques
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CORRIGIDO: Espadarte em vez da tradução errada de "peixe-espada" do inglês "swordfish" A escassez à mesa das espécies nobres está a levar pescadores a comercializar ilegalmente os predadores marinhos, avisa o WWF

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O aviso surgiu esta quarta-feira pela bióloga marinha Simone Niedermüller, do Fundo Mundial da Natureza (WWF, na sigla original): "Os tubarões estão a preencher o vazio deixado por outros peixes comestíveis".

(O presente artigo foi atualizado para corrigir a tradução do inglês "swordfish" de "peixe-espada" para espadarte)

Niedermüller foi entrevistada pelo jornal britânico The Guardian para um artigo sobre uma fraude em curso provocada pela pesca excessiva no Mediterrâneo e explicou porque o tubarão está a chegar à mesa de restaurantes, sobretudo espanhóis e italianos, como se fosse espadarte.

Antigamente, os pescadores que apanhassem tubarões aquando andavam à caça de atum ou espadarte voltavam a libertar os animais no mar. Agora, com a escassez das espécies mais nobres, os tubarões estão a ser vistos como oportunidade para compensar as perdas de negócio e a agravar o estatuto de espécie quase ameaçada de extinção.

Mais de metade dos tubarões-azuis no Mediterrâneo estavam já em 2016 ameaçados de extinção devido à sobrepesca da espécie, alertava outro relatório do WWF.

"O que normalmente devolveriam ao mar, muitos pescadores estão agora a trazer para a lota, a promover e a vender. Muitas vezes ilegalmente e sem as devidas etiquetas", afirmou Niedermüller, alertando que também as comunidades de tubarões estão por si mesmas a diminuir devido à escassez de presas no mar.

A fraude do espadarte mediterrânico

O tubarão é uma espécie descrita neste artigo do Guardian como uma espécie barata facilmente preparada na cozinha de uma forma que a torna irreconhecível e por isso com acesso regular às aos restaurantes, às bancas e às mesas europeias.

"Muitos consumidores estarão alheios ao que estão de facto a comer", lê-se no artigo, que cita também a diretora científica da MedSharks, uma organização não-governamental italiana e membro da União Internacional da Conservação da Natureza, na afirmação de que "muitas pessoas comem tubarão de forma consciente".

"Ás vezes acontece porque o nome comum de uma espécie pode ser enganador", acrescenta Simona Clò, sendo dado o exemplo do tubarão-azul, conhecido como "verdesca" em Itália ou "tintureira" em Portugal.

Outras vezes, a carne de tubarão é adicionada a pratos onde várias espécies são misturadas, como as caldeiradas ou sopas, e onde dificilmente é identificada.

"No pior dos cenários, a carne de tubarão é comercializada de forma fraudulenta como se fosse uma espécie de peixe mais cara. Um negócio lucrativo. Um quilo de tubarão-azul pode ser vendido a um euro. O espadarte pode valer 12 vezes mais", conclui-se no artigo.

O biólogo marinho Pierluigi Carbonara, que trabalha com os pescadores de Monopoli e a secção do WWF em Puglia, sublinha que "as margens de lucro são enormes" com a venda de tubarão.

"Não sou economista, mas até uma criança iria perceber porque é que acontece", concretiza o biólogo.

Um estudo de 2017 do Centro de Pesquisa Conjunto da União Europeia, citado no artigo, indicava que quase todas as reservas de peixe comercial no Mediterrânea estavam a ser excessivamente exploradas e alertava que nos 50 anos anteriores a região já tinha perdido cerca de um terço dos peixes.

Vizinhos ibéricos ameaçam tubarões

A pesca de tubarão-azul em Espanha quase duplicou entre 2012 e 2016. Em Portugal, há 12 anos já era notícia a captura anual de cerca de 12 mil toneladas de tubarão.

No ano passado, a Greenpeace apontou a mira aos barcos de pesca de Espanha e Portugal devido à pesca de tubarão, sobretudo no Atlântico Norte.

A organização calculava a captura anual de 25 mil tubarões-mako ou anequim, considerado o tubarão mais rápido do mundo e já em perigo.

Em 2019, a Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico rejeitou uma proposta de "pesca zero" dirigida ao tubarão-mako, mas aprovou pela primeira vez limites à pesca do tubarão-azul.

Outras fontes • Guardian

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