Vacinas continuam a ser a principal arma contra a Covid-19
Vacinas continuam a ser a principal arma contra a Covid-19 Direitos de autor AP Photo/Paul White, Arquivo

Vacinas contra a Covid-19: Imunização pode tornar-se anual e acompanhar a da gripe

De  Francisco MarquesTarima Marques Nistal
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Há cinco vacinas validadas para o certificado digital europeu. Perante as dúvidas com a nova variante de preocupação da OMS, eis o que precisa de saber

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O diretor-executivo da farmacêutica Moderna, responsável pela Spikevax, uma das vacinas mais eficazes contra a Covid-19, admite vir a ser necessária uma quarta dose de proteção contra a infeção pelo SARS-CoV-2 e, provavelmente, passe a ser uma vacina a ser tomada todos os anos como a da gripe.

Stephane Bancel não tem expetativas muito positivas perante os estudos em curso à eficácia das vacinas perante a atual vaga impulsionada pela variante de preocupação (VdP) Ómicron, considera que as vacinas possam perder eficácia apenas algumas semanas após a inoculação.

Ainda acredito que vamos precisa de um reforço [da vacina] no outono de 2022 e para além disso.
Stephane Bancel
CEO da Moderna

As declarações do responsável da Moderna foram proferidas numa conferências sobre cuidados de saúde promovida pela Goldman-Sachs depois do primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennet ter citado um estudo onde se sugere que uma quarta dose de vacina aumenta cinco vezes os anticorpos contra a Covid-19 uma semana após a inoculação.

A Moderna está atualmente a tentar desenvolver uma nova vacina tendo no alvo a Ómicron, a VdP que se tem revelado mais resistente às melhores propostas de imunização no mercados, como as cinco já validadas por exemplo na União Europeia.

A nova vacina anti-Ómicron da Moderna ainda deverá demorar mais de dois meses até estar pronta.

A nova fase de reforço de vacinas representa, por outro lado, um "booster" também nas receitas da farmacêutica, com a Thompson Reuters a estimar ganhos na ordem dos 1,7 mil milhões de euros no terceiro trimestre deste novo ano.

Cruzamento de vacinas: sim ou não?

Um estudo da Agência de Segurança na Saúde do Reino Unido (UKHSA) defende o cruzamento de vacinas no reforço das defesas dos já imunizados contra a Covid-19, isto é, a chamada vacinação heteróloga.

Os dados recolhidos sugerem que uma dose de reforço com a vacina Spikevax (Moderna) após um programa inicial completo de duas doses de Comirnaty (Pfizer/BioNTech), ambas de base mRNA, é mais eficaz na proteção contra a infeção pela mais recente variante de preocupação (VdP) da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A autoridade britânica da saúde notou um decréscimo acentuado da proteção contra a Ómicron só com a toma das duas primeiras doses, mas garante que o reforço com a Spikevax volta a colocar a eficácia nos 90% de proteção.

A maior parte dos países europeus já estão com o processo de reforço da vacinação em andamento, nomeadamente Portugal, e têm optado pelo cruzamento de vacinas. Alguns países sobretudo por uma questão de gestão dos lotes de vacinas disponíveis, outros de acordo com os estudos já existentes tendo no alvo a Ómicron.

Os números da pandemia são claros e a vacinação está a ter um resultado positivo na contenção da doença grave ou das mortes no quadro da Covid-19. É a principal causa da redução das hospitalizações apesar do elevado número de infeções registados a cada dia.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA) e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) emitiram uma recomendação conjunta também favorável ao uso "misturado e combinado" de vacinas aprovadas, "tanto para o início do processo como no reforço" da vacinação contra a Covid-19.

"A UE enfrenta atualmente um número crescente de infeções na pandemia de Covid-19 em curso, bem como um aumento nas taxas de hospitalização. As vacinas continuam a impedir que muitos milhões de cidadãos da UE adoeçam ou morram, e os números mostram que o número de hospitalizações e mortes continua a ser mais baixo nos Estados-Membros com as taxas de vacinação mais elevadas", salienta-se no comunicado.

A EMA e o ECDC destacam as "evidências de estudos sobre vacinação heteróloga" (uso de vacinas diferentes), sugerindo que "a combinação de vacinas de vetor viral e vacinas de mRNA produz bons níveis de anticorpos contra o vírus da Covid-19 (SARS-CoV-2) e uma resposta de células T mais alta do que usar a mesma vacina (vacinação homóloga ) tanto no processo primário como no reforço".

"Os regimes heterólogos foram geralmente bem tolerados", garantem.

[Consulte aqui os efeitos colaterais e a eficácia das cinco vacinas autorizadas]

OMS defende vacinas

A Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que as vacinas anticovid atualmente no mercado parecem perder eficácia perante a Ómicron, mas sublinhou que "a vacinação completa é essencial na luta contra a Covid-19 e todas as variantes" do SARS-CoV-2 e reforça os apelos para que os países ricos ajudem os mais necessitados a completar os respetivos processos de vacinação..

A OMS assegura que a eficácia de proteção das vacinas se mantém, apela para todos se vacinarem devidamente e manterem "todas as medidas de proteção" recomendadas.

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A descoberta da mais recente variante de preocupação (VdP) e a rápida propagação pelo mundo levantou de imediato dúvidas em torno da eficácia das vacinas em uso, sobretudo das quatro primeiras aprovadas na União Europeia (UE), onde os casos têm vindo a aumentar rapidamente.

As hospitalizações têm sido sobretudo de pessoas não vacinadas, o que reforça a ideia de que as vacinas mantém a eficácia contra a doença grave ou morte devido ao SARS-CoV-2.

AP Photo/Oded Balilty
Vacinação de crianças avança na EuropaAP Photo/Oded Balilty

Os estudos têm-se sucedido de forma intensa. Um efetuado pela UKHSA alega que apenas duas doses da vacina anticovid Vaxzevria (Oxford/AstraZeneca) representam um nível de proteção muito mais baixo contra uma infeção assintomática pela Ómicron do que contra a VdP Delta, a dominante ao longo de 2021.

Um estudo mais recente, pela "Imperial College London", sugere que os internamentos com Covid-19 devido à Ómicron são 40% menos do que os provocados pela Delta, o que reforça a teoria de que a infeção provocada pela nova VdP é menos severa.

Mesmo para as pessoas não vacinadas e as não infetadas anteriormente, o risco de internamento revela-se 11% menor do que acontecia com a Delta.

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A investigação sugere ainda uma redução de 20% a 25% na simples ida ao hospital, mas o facto de o número de infeções diárias no Reino Unido ter ultrapassado a fasquia das 140 mil leva os especialistas a alertar para a saturação dos hospitais.

A OMS sublinha a importância de alargar a vacinação a mais países com maiores taxas de pessoas não vacinadas e apela para que essa seja a prioridade em vez da forte aposta em doses de reforço que se tem vindo a fazer em muitos países desenvolvidos.

A grande maioria das atuais infeções são resultado de infeções em pessoas não vacinadas.
Alejandro Cravioto
Especialista em vacinas da OMS

Numa atualização à eficácia da vacina Janssen (Johnson & Johnson), de toma única, a OMS reiterou os 67% de proteção contra a hospitalização devido a um quadro de Covid-19 e de 77% contra uma infeção grave. A eficácia contra a nova VdP Ómicron está ainda curso.

União Europeia reforça certificado

O Certificado Digital Covid que a União Europeia implementou no início de julho para facilitar a circulação segura de pessoas pelo espaço comum europeu e dar um impulso ao turismo nos "27" em pleno verão está de novo a ganhar força e, em França, até se transformou a nível nacional num certificado de vacinação.

Os cidadãos europeus também podem pedir uma versão em papel do Certificado Digital, que funciona através de um código QR.

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Neste certificado são apresentadas as informações pessoas sobre as vacina tomadas pelo portador, sobre o resultado negativo de um teste anticovid, se dentro do prazo de validade, ou um certificado de recuperação da Covid-19.

O certificado é reconhecido pelos 27 Estados membros da UE e ainda por Suíça, Liechtenstein, Islândia e Noruega.

Os países com maior resistência à vacinação contra a Covid-19 têm vindo a reforçar unilateralmente a importância do certificado para impulsionar a imunização e tentar travar os casos de doença grave provocados pela Ómicron.

Alguns países, como a Áustria já a partir de fevereiro, até estão a decidir tornar a vacinação obrigatória e outros, como a Alemanha, ponderam seguir os mesmos passos.

Vacinas para viajar na Europa

Nem todas as vacinas já em utilização no mundo contra a Covid-19 são reconhecidas pela UE para figurar no Certificado Digital europeu.

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As pessoas que receberam as vacinas Comirnaty (Pfizer/BioNTech), Spikevax (Moderna), Vaxzevria (AstraZeneca) e Janssen (Johnson & Johnson) poderão obter o certificado digital da UE pela vacinação. Em breve, também a Nuvaxovid (Novavax) estará a uso e válida para integrar o certificado.

AP Photo/Armando França
Novo centro de vacinação contra a Covid-19 em LisboaAP Photo/Armando França

Para entrar nos países da União Europeia e circular pelo território dos "27", os viajantes devem estar vacinados com uma destas cinco vacinas. Em alguns países, como Portugal por via aérea ou marítima, é também exigido agora um teste negativo, à entrada no país

Efeitos colaterais e eficácia das vacinas

Novavax (Nuvaxovid)

EFEITOS SECUNDÁRIOS Os principais foram de gravidade ligeira ou moderada e passaram após alguns dias da vacinação. Incluem dores de cabeça, náuseas ou vómitos, dores musculares e nas articulações, sensibilidade ou alguma dor no local da injeção, cansaço e mal-estar. De acordo com os estudos, afetaram uma em cada 10 pessoas vacinadas.

EFICÁCIA Os dois estudos realizados, no México e nos Estados Unidos, envolveram mais de 45 mil pessoas e revelaram uma eficácia a rondar os 90%.

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Pfizer/BioNTech (Comirnaty)

EFEITOS SECUNDÁRIOS: Os principais efeitos secundários associados à vacina Comirnaty foram dor e inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, dores musculares e articulares, calafrios, febre e diarreia. Os efeitos foram geralmente leves ou moderados e melhoraram alguns dias depois da aplicação da vacina.

EFICÁCIA O ensaio principal mostrou 95% de eficácia

Moderna (Spikevax)

EFEITOS SECUNDÁRIOS: Os principais efeitos secundários associados à vacina Spikevax foram dor e inchaço no local da injeção, cansaço, calafrios, febre, gânglios linfáticos inchados ou sensíveis sob o braço, dor de cabeça, dores musculares e articulares, náuseas e vómitos. Os efeitos são geralmente leves ou moderados e melhoraram alguns dias depois da aplicação da vacina.

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EFICÁCIA O ensaio principal mostrou 94.1% de eficácia

AstraZeneca (Vaxzevria)

EFEITOS SECUNDÁRIOS: Quando feita uma comparação entre a primeira e segunda dose mostram que a segunda possui efeitos mais leves e relatados com menos frequência. As pessoas que recebem a Vaxzevria podem sentir mais do que um efeito secundário ao mesmo tempo. Os principais foram sensibilidade, dor e hematomas no local da injeção, dor de cabeça, cansaço, dores musculares, sensação geral de mal-estar, calafrios, febre, dor nas articulações e náusea.

EFICÁCIA O ensaio principal mostrou 60% de eficácia

Johnson & Johnson (Janssen)

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EFEITOS SECUNDÁRIOS: Os principais efeitos secundários associados à vacina foram dor no local da injeção, dor de cabeça, cansaço, dores musculares e náuseas. Os efeitos são geralmente leves ou moderados e melhoraram 1 ou 2 dias após a vacinação.

EFICÁCIA O ensaio principal mostrou 67% de eficácia

Qual a duração da proteção dada pelas vacinas?

Ainda não se sabe a duração exata. As pessoas vacinadas durante o teste clínico das vacinas vão continuar a ser acompanhadas durante 2 anos -- exceto pela vacina AstraZeneca (Vaxzevria), que teve uma revisão ao fim de 1 ano -- a fim de juntar mais informações sobre a durabilidade da proteção.

O que já se notou foi uma pequena redução da eficácia ao longo do tempo, o que impulsionou as autoridades a avançar para doses de reforço ou terceiras doses, no caso das vacinas de duas doses.

A aparição da VdP Ómicron também está a pressionar os países para acentuarem os níveis de vacinação. Alguns estão inclusive a torna-la obrigatória, seja para trabalhar como em Itália, seja de uma forma geral como na Áustria.

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