Exclusivo, Charles Michel: "A UE não é ingénua sobre laços Rússia-China"

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, tem sido dos maisores defensores de contínua ajuda à Ucrânia
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, tem sido dos maisores defensores de contínua ajuda à Ucrânia Direitos de autor Euronews
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De  Efi KoutsokostaIsabel Marques da Silva
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Presidente do Conselho Europeu em entrevista à euronews, na véspera da cimeira, que vai debruçar-se sobre a Ucrânia, a economia e a competitividade

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 A União Europeia (UE) não é ingénua quanto à aproximação diplomática entre a Rússia e a China, no pano de fundo da guerra da Ucrânia, disse, na quarta-feira, o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, numa entrevista exclusiva à euronews, na véspera da cimeira da UE, em Bruxelas. 

"Estamos absolutamente convencidos de que é importante que a China não apoie a Rússia. É importante que a China apoie o direito internacional, a estabilidade, através da Carta das Nações Unidas. Mas não sou ingénuo. Sei que existem laços estreitos entre a China e a Rússia", disse o presidente do Conselho Europeu.

Contudo, essa realidadea não deve impedir Bruxelas de dialogar com o governo de Pequim.

"Mas, por outro lado, penso que, nestas circunstâncias, é muito claro que precisamos de nos envolver com a China, não porque concordemos em tudo com a China, pelo contrário, mas porque precisamos de defender os nossos interesses e de defender os nossos princípios", acrescentou Michel.

(Não perca a entrevista em vídeo, na íntegra, no programa "Europe's Decision")

A euronews questionou Michel sobre o plano de paz de 10 pontos proposto pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, que apela à retirada total das tropas russas e à restauração das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia.

Essa proposta contrasta muito com o documento de 12 pontos recentemente apresentado pela China, onde a questão dos territórios ocupados está ausente.

O plano chinês refere-se aos princípios do direito internacional, mas evita usar os termos "guerra" ou "invasão", e usa antes "crise". É, ainda, pedido o levantamento das "sanções unilaterais" e há um apelo ao fim da "mentalidade da Guerra Fria", linguagem vista como uma crítica aos aliados ocidentais.

"Este plano de paz não é algo em que acreditemos", disse Michel sobre o documento do governo de Pequim. "Acreditamos na fórmula de paz proposta pelo Presidente Zelenskyy, que se baseia na Carta da ONU, no direito internacional e na abordagem multilateral", explicou.

Não há intenção de atacar a Rússia

O presidente do Conselho Europeu descreveu como "extremamente importante" o novo pacote de ajuda militar aprovado, esta semana, pelos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da UE. Trata-se de mil milhões de euros para pagar a aquisição conjunta de munições.

"Esta é uma decisão concreta para uma verdadeira defesa europeia. No passado, discutimos muito esta questão e para alguns líderes era um debate teórico. Agora, esta é a realidade. Era impossível imaginar tal decisão, algumas semanas antes do início da invasão em grande escala", disse Michel à euronews.

Sobre os limites da intervenção europeia, o presidente do Conselho Europeu clarificou que a UE estava legalmente autorizada a ajudar uma nação sob ataque.

"Não há dúvida de que não há intenção de atacar a Rússia. Há um agressor: a Rússia. Há vítimas. Estamos a apoiar o direito internacional porque sabemos que se não apoiarmos a Ucrânia, isso significa que o mundo será menos seguro no futuro", afirmou.

Prosperidade a longo prazo para a UE

A chamada cimeira da primavera vai debruçar-se sobre a situação na Ucrânia, mas também sobre a economia  e a competitividade na UE, passando ainda por um ponto de situação sobre a energia e a migração. 

"Estamos a enfrentar muitos desafios difíceis: as consequências da guerra, os preços da energia, o fornecimento de energia, a transição climática, a transição digital, e também a necessidade de a União Europeia (UE) investir na inovação, investir no nosso futuro, e garantir que defendemos a prosperidade europeia no futuro", disse Charles Michel.

Michel especificou que "nas últimas semanas temos trabalhado em conjunto com a Comissão Europeia a fim de tomar algumas medidas de curto prazo em termos de apoio às nossas empresas", mas que a estratégia de longo prazo não pode deixar de ser, também, uma prioridade.

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Questionado sobre uma possível crise bancária por causa das quedas do Silicon Valley Bank (EUA) e Credit Suisse  (Suíça) , o presidente do Conselho Europeu disse estar "confiante" face ao reforço feito pela UE nos dois últimos anos, neste setor. 

O tema vai ser particularmente analisado numa reunião dedicada ao euro, com a presença, também, dos líderes dos países que não  usam a moeda única, na sexta-feira.

"Trabalhámos muito com os peritos europeus a fim de reforçar o nosso sistema financeiro. Mas claro que, na sexta-feira de manhã, teremos uma troca de pontos de vista aprofundada com a presidente do Banco Central Europeu. Estamos a acompanhar o que está a acontecer na Suíça, nos Estados Unidos. Mas estou confiante de que temos os instrumentos certos para nos assegurarmos de que mantemos uma situação estável", disse Michel.

Na opinião do presidente, os últimos desenvolvimentos deveriam servir como um "argumento adicional" para fazer avançar as conversações sobre a União Bancária Europeia (UBE), que continua incompleta devido a divergências entre os Estados-membros.

Essa divergência prende-se, sobretudo, com o terceiro pilar da UBE, que é o sistema europeu de seguro de depósitos (EDIS). É um instrumento para, precisamente, impedir a corrida aos bancos como a que derrubou o Silicon Valley Bank.

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"Temos trabalhado muito na questão, mas talvez seja altura de acelerar", disse Michel. "E espero que seja possível dar um impulso político".

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