As novas competências dos médicos de família canadianos

O Smart Care foi conhecer um projeto em Halifax, no Canadá, que está a dar aos médicos de família ferramentas para reduzir drasticamente os tempos de espera de pacientes que sofram de problemas como a artrite.
Sam Hickcox é um médico que participa num projeto destinado a diminuir exponencialmente o tempo de espera para os doentes com artrite. Ele é um dos profissionais de Medicina Geral e Familiar que recebem formação para efetuar controlos de rotina aos pacientes, diminuindo o número de consultas em Reumatologia.
“A formação foi muito informal. Basicamente o que fiz foi acompanhar os reumatologistas que trabalham aqui na clínica e fui adquirindo competências que me permitem seguir os doentes autonomamente”, explica-nos.
O Dr. Hickcox integra o projeto juntamente com uma equipa de enfermeiros e fisioterapeutas, ampliando a disponibilidade e o espetro do tratamento para estes pacientes específicos. “Normalmente, o paciente vem à clínica ter uma consulta com o reumatologista e o enfermeiro. Agora, seis meses mais tarde, pode ser acolhido por mim, por um fisioterapeuta e um enfermeiro. São as duas práticas que vamos alternando”, afirma.
Today on #worldpopulationday let’s highlight the burden of #arthritis pain & disability that we face everyday. pic.twitter.com/YocvaMn6kS
— Arthritis Society (@ArthritisSoc) 11 juillet 2016
Este projeto pode parecer muito localizado, uma vez que não há reumatologistas suficientes nesta zona. Mas, a verdade é que a estória repete-se um pouco por todo o lado: listas de espera intermináveis e falta de pessoal especializado. Será que esta abordagem pode mudar as coisas?
Pode – é o que afirma Randi Monroe, do Centro de Reabilitação e Artrite da Nova Escócia, uma das responsáveis pela implementação desta iniciativa. “A Organização Mundial de Saúde diz que ‘o futuro é colaborar’. A população está cada vez mais envelhecida e necessita de mais cuidados”, salienta.
A atribuição de novas competências aos médicos de família pode ser uma parte significativa neste esforço de colaboração. “Entreajudamo-nos. Um de nós pode juntar uma informação sobre o paciente, outro pode acrescentar mais dados. A colaboração assenta num objetivo comum e é o doente que decide esse objetivo. Nós ajudamos a percorrer o caminho”, diz Monroe.
Halifax situa-se na região canadiana da Nova Escócia, onde o número de reformados tem aumentado consideravelmente. Dotar os médicos de família com capacidades para acompanhar os doentes que padeçam de artrite significa alargar a disponibilidade dos reumatologistas para atender novos pacientes. Muitos vêem a iniciativa como um passo gigantesco no diagnóstico da artrite reumatóide.
Susan Tilley-Russell, diretora da The Arthritis Society Atlantic Region, sublinha que “é uma corrida contra o tempo. A partir do momento em que há sintomas, as pessoas têm de três a seis meses antes que os danos sejam permanentes. Neste projeto, os reumatologistas podem dedicar-se mais aos diagnósticos precoces e os médicos de família acompanham os doentes já estabilizados.”
A clínica do Dr. Hickcox demorou dois anos a ajustar a planificação das consultas às novas competências adquiridas pelo médico. Mas a espera parece ter valido a pena. “Um médico de família tem uma visão muito alargada sobre como detetar problemas crónicos num paciente, como gerir um diagnóstico numa perspetiva mais holística, como colaborar com outros médicos de família e comunicar de forma a estender essa colaboração à comunidade. Do nosso ponto de vista, é um modelo melhor em termos de cuidados de saúde”, considera.