Baku promove diálogo intercultural em Fórum Mundial

Baku promove diálogo intercultural em Fórum Mundial
De  João Paulo GodinhoOlaf Bruns
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A capital do Azerbaijão acolheu a quinta edição do evento destinado a passar uma mensagem de tolerância e perdão numa era marcada pelos radicalismos.

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Os extremismos violentos tornaram-se uma característica comum dos noticiários, muitas vezes com alegadas motivações religiosas. A desconfiança e até o ódio estão a difundir-se por entre comunidades de todo o mundo. O Fórum Mundial sobre Diálogo Intercultural em Baku, no Azerbaijão, tenta explorar como promover a paz simplesmente pela via do diálogo.

Foi na capital azeri que mais de 500 membros de organizações internacionais, organizações não-governamentais (ONGs), líderes religiosos e investigadores reuniram-se para a 5ª edição da conferência, organizada pelo Presidente do país, Ilham Aliyev.

"O principal objetivo deste fórum é demonstrar que boa vontade mútua pode tornar o mundo mais seguro, mais previsível e que o diálogo é a melhor maneira de resolver as coisas", explicou à euronews o líder do Azerbaijão.

Sri Lanka ou a necessidade de dar espaço ao diálogo

Um exemplo do risco de propagação de extremismos radicais é o Sri Lanka, um país com quatro grupos étnicos e religiosos distintos e com cicatrizes violentas do passado... e do presente. Neluni Tillekeratne integra o 'Sri Lanka Unites', um movimento que aproxima jovens de diferentes comunidades. O ponto de partida para este trabalho surgiu num estudo que revelou que 70% dos cingaleses não têm amigos noutra comunidade.

“Se não tem um amigo fora do seu grupo étnico, vai tomar uma decisão de magoar alguém baseada em quê? Em coisas que ouviu, baseadas em preconceitos ou em suposições”, afirmou a responsável do 'Sri Lanka Unites'.

Questionada sobre como é que se desenrola o processo de aproximação entre pessoas historicamente separadas pelo ódio, Neluni Tillekeratne vincou que o tempo e o diálogo são elementos essenciais para a construção de uma relação.

“Se nós os dois fôssemos de dois grupos étnicos que lutavam entre si... Mas somos jovens, por isso, são os nossos pais que têm estado em confronto e durante toda a vida era suposto que nos odiássemos", começou por contar Neluni, acrescentando: "No entanto, um dia encontramo-nos numa conferência e somos forçados a estar juntos numa equipa. No início, os primeiros dois dias serão muito constrangedores... mas pelo quarto ou quinto dia teremos de falar sobre as realidades vividas pelos nossos pais, as nossas inseguranças, os nossos medos. Tu tens medo de mim, eu tenho medo de ti... mas espera, eu posso travar isto aqui. Se eu puder prometer-te que vou fazer o que for preciso para te proteger e tu me prometeres que vais fazer o que for preciso para me proteger, então, tu e eu ficaremos bem a partir daí.”

Os recentes ataques no Sri Lanka, que provocaram a morte a mais de 300 pessoas, relançaram a questão étnica e religiosa no país e são um novo desafio para o movimento de Neluni Tillekeratne.

“Os estudantes do 'Sri Lanka Unites' já acolheram a mensagem de não-violência, abraçaram uma mensagem de união e começaram a entrar nas redes sociais para dizer aos amigos e família: ‘OK, nós sabemos que era um grupo islâmico, mas também sabemos que temos bastante amigos muçulmanos de todas as partes do país para estarmos convencidos do facto de que eles não iriam apoiar isto'. Somos budistas, somos cingaleses, somos cristãos - mas vamos vincar o facto de que também a comunidade muçulmana ainda é do Sri Lanka”, observou.

Viver entre a violência e o perdão na Nigéria

O pastor nigeriano James Wuye, do Centro de Mediação Interreligiosa da Nigéria, foi um dos participantes no Fórum Mundial sobre Diálogo Intercultural que passou pela experiência do ódio - não apenas intelectualmente, mas também pelo próprio corpo – e que o conseguiu superar. Desde então, adotou o perdão como solução para os problemas, transformando essa mensagem num modo de vida.

“Como pode ver, perdi esta mão há cerca de 25 anos, quando lutava contra os muçulmanos na minha comunidade. Perdi-a enquanto estava a tentar proteger a igreja. Fui treinado para ceder à narrativa negativa sobre odiar o outro”.

Das pessoas aos países, James Wuye lembrou que a máxima 'olho por olho, dente por dente' não traz benefícios e que só o perdão consegue mudanças reais no mundo.

“Se abdicar do ódio, será perdoado também. É muito difícil, mas quando se tenta, é um remédio para a paz e a alegria eternas. Se as nações não se perdoarem, as nações vão destruir-se. Em algum ponto vamos ter de parar”.

Diálogo, tolerância e perdão para superar ódios e conflitos profundamente enraizados entre indivíduos, comunidades e países – assim é o Fórum Mundial sobre Diálogo Intercultural, em Baku.

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