A solidariedade da União Europeia face aos refugiados ucranianos

Os ucranianos têm o direito de trabalhar na UE até 3 anos - mas quão difícil é encontrar um emprego? Real Economy segue as histórias de duas mulheres à procura de trabalho.
A euronews foi até Viena, para acompanhar refugiados ucranianos que procuram emprego. O que significa este afluxo de refugiados para a mão-de-obra e para a economia da Europa?
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Quais são os principais obstáculos à procura de emprego para os refugiados ucranianos?
Desde o início da guerra da Rússia na Ucrânia, mais de 7 milhões de ucranianos fugiram do seu país, embora se estime que 2 milhões tenham regressado a casa.
A maioria são mulheres e crianças. Têm o direito de viver e trabalhar na UE até 3 anos, mas enfrentam várias dificuldades para encontrar emprego: nem sempre falam a língua, precisam de cuidar das crianças, as suas qualificações podem não ser reconhecidas e podem estar a sofrer de traumas graves.
Como é que a UE está a ajudar os refugiados ucranianos a encontrar trabalho?
A UE está a ajudar as pessoas que chegam da Ucrânia a adquirirem as competências necessárias para entrarem no mercado de trabalho da UE, oferecendo cursos de línguas e formação. Publicou diretrizes em língua ucraniana para os recém-chegados sobre como aceder ao mercado de trabalho.
A Comissão Europeia está a fornecer aos países orientações sobre como ajudar os empregadores da UE a compreender e a reconhecer as competências e qualificações ucranianas.
Traduziu o Europass para ucraniano - no qual os utilizadores criam um CV para utilização em toda a Europa:
Está também a ser lançado um "centro de talentos da UE" para fazer corresponder as competências dos refugiados ucranianos a ofertas de emprego.
Qual é o papel da rede dos Serviços Públicos de Emprego da UE?
A Rede dos Serviços Públicos de Emprego (SPE) da UE inclui os 27 países da UE, Noruega, Islândia e Lichtenstein e a Comissão Europeia e permite aos Serviços Públicos de Emprego de cada país a partilha das melhores práticas e a troca de ideias e experiências.
A Rede Europeia dos SPE expressou publicamente a sua solidariedade para com os ucranianos e o seu empenho em apoiar aqueles que fogem à guerra. Os Estados Membros têm partilhado entre si as suas experiências de anteriores crises de refugiados.
Na Áustria, pouco mais de 40 mil refugiados ucranianos decidiram ficar com os filhos. Uma autorização de residência temporária permite-lhes viver e trabalhar no país na Áustria.
Direção sul do país, na região da Caríntia, conhecida pelas suas paisagens. Natalia trabalha num hotel. Na Ucrânia era esteticista. Quando chegou a um centro de refugiados, a direção do hotel ofereceu-lhe alojamento e um emprego.
A indústria do turismo na Áustria está em plena expansão. Desde 2019 o número de vagas de emprego no setor hoteleiro duplicou, com muitos empregadores a não conseguirem encontrar pessoal. Para a gerente, Alexandra, oferecer quartos gratuitos e postos de trabalho vagos aos refugiados ucranianos, durante a época de verão, foi uma decisão óbvia.
Natalia fala algumas palavras de inglês, o que lhe permite comunicar com os colegas. Mas gerir o seu horário de trabalho sazonal, e cuidar da sua filha de 5 anos, nem sempre é fácil.
Na Áustria, outros setores como a saúde e as TI também precisam de pessoas qualificadas. Mas mesmo que metade dos refugiados ucranianos aqui registados tenham um diploma universitário é-lhes difícil aceder imediatamente a estes postos de trabalho.
De regresso a Viena, com outra refugiada ucraniana, Ganna, mãe de 3 filhos, e uma professora alemã. Juntei-me a ela no caminho para um centro de emprego para refugiados.
Ganna gostaria de trabalhar como professora de alemão para ajudar outros refugiados que não falam a língua. Mas o seu diploma não é reconhecido na Áustria.
Os funcionários do centro de emprego estão a ajudar Ganna com este processo.
Entretanto, Ganna, tal como outros refugiados registados na Áustria, recebe um salário mínimo e um seguro de saúde.
Como pode a Europa enfrentar o desafio de integrar com êxito os refugiados ucranianos? Coloco a questão a Sandra Leitner, uma especialista em movimentos migratórios.
Naomi Lloyd encontrou-se com o chefe da Rede Europeia de Serviços Públicos de Emprego, Johannes Kopf, em Viena.
A rede PES da UE inclui todos os 27 países da UE, Noruega, Islândia e Lichtenstein e a Comissão Europeia e permite-lhes partilhar as melhores práticas e trocar ideias e experiências.
A rede desempenha um papel fundamental na adequação das competências dos recém-chegados ucranianos às necessidades do mercado de trabalho e expressou publicamente a sua solidariedade com os ucranianos e o seu empenho em apoiar os que fogem da guerra.
Naomi Lloyd, Euronews: É o Diretor-Geral do Serviço Público de Emprego Austríaco. É também o chefe da rede europeia. Como está a lidar com este afluxo de refugiados ucranianos a nível europeu?
Johannes Kopf, Diretor-Geral do Serviço Público de Emprego Austríaco: O tema surgiu poucos dias após o início desta terrível guerra, onde os nossos colegas polacos informaram a rede que os primeiros ucranianos iriam aparecer e precisar de ajuda. E isto levou realmente a uma grande onda de solidariedade no seio dos serviços públicos de emprego em toda a Europa. Há alguns Estados: Suécia, Alemanha, Áustria também, claro, que ganharam muita experiência na crise dos refugiados de 2015/16. Por exemplo, organizam o processo de reconhecimento de competências ou de como fazer o mapa individual de capacidades na língua materna.
Naomi Lloyd, Euronews: Como não é certo quanto tempo é que esta guerra vai durar, os ucranianos querem voltar para casa. Assim sendo, como é que os integram na força de trabalho na Europa?
Johannes Kopf, Diretor-Geral do Serviço Público de Emprego Austríaco: Neste momento, a maior parte das pessoas que vêm, são mulheres com filhos pequenos e têm necessidades diferentes, é claro. O mais importante é a necessidade de cuidados infantis. A Áustria tem de organizar lugares suficientes nas escolas, no infantário... E o passo seguinte é a entrada no mercado de trabalho. É claro que há vagas e empresas que estão realmente à procura de pessoal qualificado e que têm agora a esperança de encontrar, por exemplo, especialistas em Tecnologias da Informação da Ucrânia. Claro que sim. Mas eu não gosto muito de misturar temas de asilo ou refugiados com as necessidades do mercado de trabalho. E sim, é melhor integrar todas estas pessoas do que simplesmente pagar-lhes prestações sociais. Mas primeiro e é o mais importante: é uma questão humanitária.