Faltam pessoas no setor dos cuidados continuados na Europa

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A melhoria dos salários e das condições de trabalho dos cuidadores, formais e informais, é um dos grandes desafios da União Europeia.

O envelhecimento da população acarreta uma necessidade crescente de pessoas na área dos cuidados continuados

Em Banska Chtiavnitza, no leste da Eslováquia, foi criado um projeto-piloto comunitário para manter os idosos nas suas casas, durante o maior tempo possível. Lutzia Schneider trabalha como cuidadora e tem a sorte de poder cuidar da sua avó como parte das suas funções diárias. “O meu trabalho é ajudar a minha avó na limpeza, nas compras, a tomar duche", disse Lutzia Schneider.

A despesa pública em cuidados profissionais de longa duração é baixa, na Europa. Representou 1,7% do PIB em 2019. Muitas vezes é a própria família que cuida dos seus familiares idosos.

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Eva Lamperová vive sozinha e é ajudada pela neta, cuidadora profissional.Euronews

Desde que perdeu o seu marido, Eva Lamperová vive sozinha, a pequena pensão não lhe permite pagar todas as despesas, por isso recebe apoio financeiro da família e o apoio domiciliário fornecido pela neta. "Fico contente quando ela vem almoçar. Quando ela está aqui, sinto-me mais animada", contou Eva Lamperová , pensionista.

As projeções mostram que na Eslováquia, o número de pessoas que necessitam de cuidados de longa duração vai aumentar em mais de 50% até 2070, o dobro do aumento médio da União Europeia. A procura de cuidados na Europa vai aumentar devido ao aumento a idade média da população.

90% dos cuidadores profissionais são mulheres

Seis milhões de pessoas trabalham no setor dos cuidados continuados. Vão ser precisos mais 1,6 milhões de trabalhadores até 2050. Atualmente, uma parte significativa dos cuidados é realizada de forma informal e não remunerada sobretudo por mulheres. 52 milhões de europeus prestam cuidados a pessoas sem remuneração nem reconhecimento. 

Cerca de 90% dos profissionais do setor são mulheres. As más condições de trabalho de remuneração são um problema recorrente. A Estratégia Europeia de Prestação de Cuidados incita os estados membros a investir mais em cuidados continuados, a criar novos empregos e a melhroar a qualidade e acessibilidade dos cuidados. Até 2027, deverão ser investidos 6,7 mil milhões de euros em cuidados de saúde e cuidados de longa duração através do Fundo Social Europeu Plus (FSE+).

Mária Petrová vive sozinha e tem uma saúde frágil. Há um ano, inscreveu-se num centro de serviço social comunitário, apoiados pelo Fundo Social Europeu Plus*. A ambição do projeto é reunir os prestadores de serviços sociais e de saúde e os municípios para oferecer mais serviços aos idosos. Mária Petrová tem agora acesso a transporte e apoio domiciliário. "Preciso frequentemente de ir ao médico. O senhor Zorván leva-me ao hospital, espera por mim, e traz-me para casa", contou Mária Petrová.

Pavel Červienka gere o projeto no terreno em colaboração com os munícipios. "Tivemos a ideia de associar os municípios em microrregiões, para acumular mais fundos e ser capaz de prestar mais assistência. E para motivar as pessoas a começar a fazer trabalho social", explicou Pavel Červienka.

Para Alzbeta Zaušková, uma das assistentes sociais do projeto, trabalhar com idosos é uma vocação que deveria ser mais valorizada. "É um trabalho muito importante hoje em dia, deveria ser melhorado ao nível do tempo de trabalho e financeiramente", disse Alzbeta Zaušková.

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Ivailo Kalfin, diretor da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalhoeuronews

Estratégia europeia de prestação de cuidados

Face ao contexto atual, a União Europeia adoptou uma estratégia para melhorar as condições de trabalho dos prestadores de cuidados e permitir que as pessoas possam envelhecer com dignidade.

"Um dos maiores desafios é o acesso a serviços de cuidados de longa duração. Há muitas pessoas que não têm um acesso adequado a cuidados de longa duração. Mas o elefante na sala é a questão do pessoal e dos prestadores de cuidados. Há cada vez mais necessidade de prestadores de cuidados na Europa, devido ao envelhecimento da população e há cada vez menos prestadores de cuidados. Não temos jovens suficientes neste setor, o que é bastante preocupante em relação ao futuro, se nada for feito”, frisou Ivailo Kalfin, diretor da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho.

A melhoria dos salários e das condições de trabalho

A questão dos salários e das condições de trabalho são consideradas fundamentais para conseguir atrair mais pessoas para o setor dos cuidados de longa duração. "Obviamente é preciso falar dos salários porque os trabalhadores deste setor são mal pagos. Mas não se trata apenas dos salários. Há uma série de apoios adicionais que poderiam ser concedidos aos trabalhadores dos cuidados de saúde, por exemplo, apoio ao nível da saúde mental, porque são pessoas que trabalham em condições difíceis. A formação também é muito importante porque as evoluções tecnológicas pode ajudar, mas podem também ser um obstáculo. Por isso, é fundamental que essas pessoas se mantenham atualizadas. Estes trabalhadores podem ser chamados a qualquer altura, têm de estar sempre disponíveis, e precisam de ter tempo para descansar, relaxar, antes de voltar ao trabalho", disse o responsável.

Um trabalho feminino que não é pago nem reconhecido

Muitas pessoas cuidam dos seus familiares, na maioria mulheres, sem receber qualquer apoio.

"Os prestadores de cuidados informais, na maioria dos casos, são mulheres. As mulheres tendem a exercer funções menos remuneradas, e a ter empregos precários. É um estigma que se mantém há muitos anos. Muitas das pessoas que cuidam de idosos ou de pessoas com deficiência em casa. Não podem trabalhar fora de casa. Têm um rendimento muito baixo. Trabalham em casa e precisam de ter apoio do sistema social", sublinhou o especialista.

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