Cientistas encontram “vírus zombie” preso há 48.500 anos no permafrost

Temperaturas visivelmente mais altas no Ártico já estão a descongelar o permafrost na região. Estes solos são a camada permanentemente congelada abaixo da superfície da Terra
Temperaturas visivelmente mais altas no Ártico já estão a descongelar o permafrost na região. Estes solos são a camada permanentemente congelada abaixo da superfície da Terra Direitos de autor Canva
De  Natalie Huet
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O degelo dos solos permanentemente gelados [permafrost] tem acelerado com o aquecimento global

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Os chamados vírus “zombies”, que passaram até 48.500 anos congelados no solo, poderão despertar quando os solos permanentemente gelados [permafrost] derreterem por causa das alterações climáticas, alertam os cientistas.

As temperaturas visivelmente mais altas no Ártico já estão a descongelar estes solos na região. São a camada permanentemente congelada abaixo da superfície da Terra.

Os investigadores estão a tentar avaliar o nível de risco que as bactérias e os vírus presos no interior podem representar para os seres humanos - e estão a reavivar cuidadosamente alguns deles durante o processo.

“Felizmente, podemos esperar, de forma razoável, que uma epidemia provocada por uma bactéria patogénica pré-histórica reavivada possa ser rapidamente controlada com os antibióticos modernos à nossa disposição [...] ainda que as bactérias com genes resistentes aos antibióticos pareçam ser prevalecentes nos solos permanentemente gelados”, escreveram os autores de um estudo publicado em fevereiro na revista Viruses.

O mesmo estudo alerta que “a situação seria muito mais desastrosa no caso de doenças vegetais, animais ou humanas causadas pelo renascimento de um antigo vírus desconhecido” para o qual não haveria tratamento específico ou vacina imediatamente disponível.

O degelo do permafrost na Sibéria já foi associado a surtos de antraz em renas, já que os verões excecionalmente quentes causaram o ressurgimento de antigos esporos de antraz em cemitérios de animais.

Neste último estudo, o investigador francês Jean-Michel Claverie e a sua equipa relataram que conseguiram isolar e reavivar vários vírus antigos do permafrost, incluindo uma variante de vírus gigante (Pithovirus) encontrada numa amostra de permafrost de 27 mil anos contendo muito de lã de mamute.

A maioria dos vírus isolados era da família Pandoraviridae, uma família de vírus de ADN de fita dupla que infetam amebas - organismos muito pequenos e simples feitos de apenas uma célula.

Vírus desconhecidos ainda a serem descobertos

“Este estudo confirma a capacidade de vírus de grande ADN que infetam Acanthamoeba permanecerem infecciosos após mais de 48.500 anos passados no permafrost profundo”, escreveram os autores.

Por segurança, Claverie e a sua equipa têm-se concentrado em reavivar vírus pré-históricos que visam amebas unicelulares, em vez de animais ou humanos.

Outros cientistas na Rússia estão atualmente à caça de “paleovírus” diretamente em restos de mamutes, rinocerontes lanudos ou cavalos pré-históricos preservados no permafrost.

“Sem a necessidade de embarcar num projeto tão arriscado, acreditamos que nossos resultados com vírus que infetam Acanthamoeba podem ser extrapolados para muitos outros vírus de ADN capazes de infetar humanos ou animais”, escreveram Claverie e a sua equipa.

Alertaram ainda que é provável que vírus ainda desconhecidos sejam libertados à medida que o permafrost descongela.

“Quanto tempo é que esses vírus podem permanecer infecciosos uma vez expostos a condições externas (luz ultravioleta, oxigénio, calor) e qual a probabilidade de encontrar e infetar um hospedeiro adequado nesse intervalo, ainda é impossível estimar”, disseram os investigadores.

“Mas o risco tende a aumentar no contexto do aquecimento global, em que o degelo do permafrost continuará a acelerar e mais pessoas irão povoar o Ártico na sequência de empreendimentos industriais.”

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