Água: investimento no setor hídrico pode transformar as economias?

No Ocidente, poucas são as pessoas que refletem sobre a economia da água. Os custos para os consumidores são relativamente baixos e as torneiras quase nunca secam, salvo proibições ocasionais durante os períodos mais secos.
No entanto, a escassez de água, outrora uma realidade longínqua, está cada vez mais presente no nosso dia a dia devido às alterações climáticas e ao nosso uso cada vez maior de água, especialmente na agricultura.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), 60% da população mundial poderá enfrentar problemas hídricos até 2050, com as famílias de baixos rendimentos a suportar o peso da crise da água. Em algumas áreas, a escassez de água poderia mesmo causar uma diminuição do crescimento económico, até 6% do PIB.
"As torneiras são mais importantes do que as armas"
Atualmente, mais dedois mil milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável nem a saneamento básico, fatores que criam um enorme obstáculo ao desenvolvimento. O investimento nestes recursos teria um impacto maciço ao nível da economia global.
As famílias gastariam menos tempo e dinheiro à procura de água, libertando mais recursos para a educação e para o trabalho, o que ajudaria a quebrar o ciclo da pobreza. Os resultados dos cuidados de saúde melhorariam e os custos diminuiriam.
O acesso universal à água e ao saneamento básico resultaria em mais de 17 mil milhões de euros em benefícios económicos, para além de uma diminuição óbvia do número de mortes, de acordo com o Water.org.
Estima-se que, em geral, cada dólar investido em água e saneamento proporciona um retorno económico de 4 dólares devido a menores custos na área da saúde, uma maior produtividade e menos mortes prematuras.
No entanto, a escassez de água ainda não está no centro do debate político, algo que tem de mudar, segundo o Presidente do Conselho Mundial da Água, Loic Fauchon.
“O tema da água tem de estar presente em todo o lado, incluindo na política. Esse é o nosso principal slogan. A água é política e é preciso dizer aos líderes políticos mundiais que parem de ignorar a água. As torneiras são mais importantes do que as armas", salientou, em entrevista à Euronews.
A solução do Qatar: Parcerias público-privadas
Embora a discussão sobre os recursos hídricos nos países ocidentais só tenha vindo a aumentar nos últimos anos, em regiões mais áridas, como é o caso do Qatar, há muito que este tema tem sido uma prioridade política de topo.
O Qatar, que durante muito tempo teve de lutar contra a escassez de água, está a focar-se na utilização de novas tecnologias para criar soluções hídricas sustentáveis. Como tal, associou-se à empresa espanhola de gestão de água, Águas de Valência, uma empresa premiada que é pioneira em sistemas de digitalização à escala global.
Para lutar contra o desperdício de água, exploram a maior estação de tratamento de água do país, a oeste da capital, Doha.
A água dos esgotospassa por múltiplas fases de tratamento de filtração biológica e higienização a alta pressão, antes que a água limpa possa ser utilizada para a agricultura e também para várias utilizações não-potáveis. Este processo é crucial para este país desértico, uma vez que cada gota é preciosa.
"Aqui no Qatar, quando chove, a quantidade de chuva é muito elevada num período de tempo muito curto. Portanto, temos de estar preparados, para durante esse tempo, tratar 100% da água", referiu Enrique Fernandez, responsável na empresa espanhola.
Em muitos países, a água dos esgotos é enviada de volta para o mar ou para os rios. À medida que o nosso clima se torna mais extremo e menos previsível, a reciclagem da água, como a que está a acontecer no Qatar, torna-se cada vez mais importante.