Bulgária: doentes crónicos com dificuldades em comprar medicamentos

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Bulgária: doentes crónicos com dificuldades em comprar medicamentos
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De  Julian GOMEZ
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Baixos salários associados aos elevados custos com medicamentos levam muitos doentes, com diabetes ou hipertensão, por exemplo, a ter de escolher entre o que tratar primeiro. Uma realidade preocupante que não se vive de igual forma em toda a União Europeia.

Na União Europeia, o acesso à medicina e aos medicamentos acontece a diferentes velocidades. O peso financeiro também não está distribuído de igual forma.

Mariana Alexandrova, de 53 anos, vive em Sófia, a capital da Bulgária. Sofre de diabetes Tipo-2 e o coração está bastante frágil.

"Tomo três tipos de medicamentos para o coração, dois tipos para a diabetes e quatro outros tipos de medicamentos para tratar as outras doenças”, sublinhou, em entrevista à Euronews, Mariana.

As contas médicas podem chegar a cerca de cem euros por mês, num país em que o salário médio mensal é menos de mil euros.

Mariana diz que, apesar da grande carga financeira, ainda consegue pagar todos os tratamentos, mas enquanto presidente da Associação Búlgara de Diabetes e Pré-Diabetes lembra que nem todos são privilegiados: "os doentes reformados, ou recebem apoios ou têm um salário muito baixo. Muitas vezes optam por tratar apenas uma ou duas doenças das três ou quatro de que sofrem. Muitas vezes, escolhem os medicamentos mais baratos para a diabetes e um ou dois remédios para a hipertensão. Mas todos os outros medicamentos para o pé diabético, visão, rins, estômago ou doenças neurológicas são simplesmente ignorados."

Problema à escala nacional

O problema está generalizado na Bulgária, onde 19% dos entrevistados num estudo recente disseram que não podem pagar todos os medicamentos de que precisam.

Os doentes que sofrem de diabetes e/ou doenças cardiovasculares parecem ser particularmente afetados.

No Hospital Nacional de Cardiologia, o chefe de departamento clínico de cardiologia, Borislav Georgiev, diz que o custo dos medicamentos está, de fato, a pôr vidas em risco: "o problema é que, se não se implementar a terapia certa, o doente não obterá bons resultados de recuperação. Teremos uma recorrência da sintomatologia esteno-aórtica, teremos complicações, ataques cardíacos repetidos, desenvolvimento de arterioesclerose em outras partes do corpo, por exemplo, as pernas, com doença arterial periférica, derrames e assim por diante."

Os níveis específicos de reembolso do Seguro Nacional de Saúde explicam parcialmente a situação, e só o governo búlgaro pode agir em relação a isso.

Mas medidas potenciais a nível da União Europeia também podem ajudar a melhorar as coisas, aqui como em todos os Estados-membros.

Em nome de medicamentos mais acessíveis, a Comissão Europeia propôs aumentar a concorrência e tornar os medicamentos genéricos e biossimilares disponíveis mais rapidamente.

Um caminho que vale a pena seguir, diz Arkadi Sharkov, assessor do ministério Búlgaro da Saúde.

“A preempção e substituição genérica são políticas que funcionam bem em países com leis antitrust de qualidade e bem desenvolvidas. Por isso, na Bulgária, para avançar para este tipo de ação, é preciso também rever a chamada integração vertical, ou seja, a interligação entre fabricante, grossista e farmácia, de forma a evitar vantagem de monopólio quando se tratar da dispensa de medicamentos pelo farmacêutico", lembrou, em entrevista à Euronews Arkadi Sharkov.

Mas o uso de genéricos na Bulgária já está mais difundido do que em outros Estados-membros maiores e mais ricos.

A Comissão Europeia também está, por isso, a propor o uso de mais medicamentos não patenteados reaproveitados para novas terapias. A esperança é que uma maior disponibilidade de terapias alternativas contribua para baixar os preços.

Mais transparência no financiamento público para desenvolver medicamentos também pode ajudar a torná-los mais acessíveis, sustenta Bruxelas.

Sejam quais forem, as soluções são urgentes, porque o tempo está a esgotar-se para alguns doentes, explica Mariana Alexandrova.

“Uma das minhas conhecidas diabéticas tem 53 anos. Atualmente, ela só pode pagar uma fração dos remédios para a hipertensão e os mais baratos para a diabetes. Ela também tem quatro ou cinco complicações crónicas que não trata. Simplesmente não consegue comprar os remédios de que precisa. Só espera que não fique muito mais complicado."

Para Mariana, confiar na sorte é tudo menos o caminho certo a seguir.

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