Beppe Grillo: o cómico mais popular da política italiana

Beppe Grillo: o cómico mais popular da política italiana
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- Alberto de Filippis, euronews:

Em 24 e 25 de Fevereiro a Itália vai a votos mas desta vez há poucos comícios nas praças. Muitos políticos, por medo de protestos violentos, evitam as multidões. Beppe Grillo, líder e porta-voz do Movimento 5 Estrelas, não receia nada. Faz campanha numa autocaravana e enche todos os comícios. A euronews acompanhou-o em Itália, nomeadamente na volta â Sicília.

A Sicília tem sido o feudo eleitoral de Berlusconi. Nas últimas eleções regionais, Grillo ganhou 15 deputados. Um enorme e inesperado sucesso. Mas Beppe Grillo consegirá ser primeiro-ministro?

BP – Não sou candidato. Nunca pensei ir para o Parlamento, não está na minha natureza. Essa gente, os políticos, são ladrões. Assaltam o país e não podem sequer imaginar que alguém, mesmo um comediante como eu possa fazer algo pelos outros sem ser em troca de uma contrapartida financeira.

A política custa dinheiro. Como fará o Movimento de Beppe Grillo se chegar ao parlamento?

BG – Primeiro, vamos eliminar os fundos eleitorais. Vamos cortar o cordão umbilical da economia. Não vamos tocar nos 100 milhões de euros que nos cabe enquanto partido se entramos no Parlamento. 15 deputados nossos no parlamento siciliano diminuiram 70 por cento do próprio salário. Mesmo assim ganham cerca de 2400 euros por mês. Abriram uma conta para a região através da qual atribuem microcréditos às pequenas e muito pequenas empresas sicilianas: agricultura, pesca, comércio. É um crédito de sobrevivência, um crédito de dignidade.

Mas como imagina Grillo esta democracia direta e líquida?

BG – Queremos dar instrumentos aos cidadãos. Eles devem ter a última palavra. Queremos propôr um referendo, sem o quorum até agora exigido de 50%+1. Queremos possibilitar que a asssinatura de 50 mil pessoas seja suficiente para discutir qualquer lei no Parlamento. Atualmente, a Constituição não o permite. Para nós, são os cidadãos que devem dizer sim ou não sobre uma autoestrada, uma via de velocípedes, um hospital ou uma grande obra pública. Precisam tornar-se Estado. Termine-se com os intermediários dos cidadãos.

55% do eleitorado de Grillo é feminino. É o único partido a conseguir isso. Por ter sido considerado um bobo da corte pelos Media italianos, quis dizer o seguinte sobre a euronews:

BG – Esta é a euronews, este é um telejornal em 12 línguas europeias. Esgtão a mostrar-nos em todo o mundo. E somos tratados como doidos pela Rete3, Canale5 ou Rete4 que não têm informação objetiva.

Grillo é considerado populista e não tem problemas em admiti-lo e fazer com que os apoiantes o gritem bem alto.
Mas como funciona e como é visto o seu movimento na Europa?

BG -“Este movimento amedronta Bruxelas. Queremos discutir novamente cada tratado, cada decisão europeia, as intervenções militares na Líbia, no Afeganistão ou no Mali. Queremos discutir as quotas de pesca e da agricultura, a dívida. Estamos estrangulados pela dívida: pagamos 100 mil milhões de euros em juros de 2200 mil milhões de dívida soberana. Precisamos encontrar uma solução, uma solução que não tenho mas que será discutida. A Europa era uma bela coisa tal como foi criada pelos fundadores. Mas tornou-se diferente.Temos economistas no movimento e vamos procurar saídas, porque a dívida está a comer as nossas vidas. Não há dinheiro mas há esperança. Tornou-se diferente. A Alemanha? Não vai assim tão bem quanto as pessoas pensam. Os europeus têm pago a reunificação , mas agora começam os verdadeiros problemas. Porque no Ocidente há crise.”.

Beppe Grillo compreende que ha tratados internacionais com países extraeuropeus como a China, mesmbros da Organização Mundial de Comércio?

BP – A China quando entrou na OMC assinou 21 pontos. não respeitaram nem um. Alguém falou com os chineses? Não respeitam contratos e espera-se que eu respeite os deles? Esperem lá. Onde é que está escrito? Angela Merkel foi à China vender Títulos do Tesouro italiano e não Títulos do Tesouro alemão. Os chineses compraram os créditos sabendo que não valiam nada. Porquê? Porque o governo italiano ajudou-os a investir em Itália sob uma legislação fiscal muito atraente.

E o que pensa Beppe Grillo sobre a União Europeia e respetivos Tratados económicos e políticos?

BP – Quero a minha soberania de volta. A minha soberania alimentar. A distribuição de alimentos é feita pelas empresas francesas. Vêm aqui vender leite francês e queijo francês. Aqui? Em Itália? Chega. Quero proteção. Tentem vender aço chinês aos Estados Unidos. É impossível. E há democracia, não é bem a União Soviética. Aqui, na Sicília, os pescadores são obrigados a usar uma rede de malha larga, imposta pela União Europeia. Como a rede é inútil os pescadores arranjam redes ilegais para sobreviverem e acabam por afetar o ambiente. Não podem pescar atum mas os japoneses podem. E eles chegam aqui com pesqueiros gigantescos.

Populista ou não, o movimento de Beppe Grillo pode ser uma verdadeira surpresa nestas eleições. Muitos dos seus candidatos não têm experiência política mas o corpo eleitoral italiano, minado pela corrupção ou pela pura ineficácia para estar a possibilitar a oportunidade a este comediante.

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