Mexicanos não perdoam rapto de estudantes e exigem que os devolvam vivos

Mexicanos não perdoam rapto de estudantes e exigem que os devolvam vivos
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De  Euronews
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A gota que fez transbordar a revolta dos mexicanos., que classificam o governo de assassino e exigem o regresso dos estudantes, mas vivos. Querem saber a verdade sobre rapto dos 43 jovens da escola rural de Ayotzinapa, no pobre Estado de Guerrero, no dia 26 de setembro, numa rua de Iguala. As carrinhas que transportavam os estudantes foram atacadas pela polícia local. Seis morreram imediatamente e 25 ficaram feridos. Dos 54, 14 fugiram, e 43 sobreviventes foram raptados e entregues a membros do cartel dos Guerreros Unidos, para os fazer desaparecer, segundo os investigadores.
As autoridades judiciais federais acusam o presidente da Câmara de Iguala e a mulher da autoria moral do massacre, com base nas declarações de perto de três dezenas de polícias já detidos, além de funcionários governamentais e narcotraficantes do carte Guerreros Unidos.

Jesús Murillo Karam, Procurador-Geral do México:

“Os mesmos detidos declaram que a ordem para enfrentar as pessoas chega por rádio da Central e é-lhes dito que vem da parte de A5, a senha que se utiliza para identificar o presidente de Iguala”

Dois mil polícias federais e militares foram destacados para Iguala, onde procuram os estudantes desaparecidos. As confissões dos 56 detidos já levaram à deteção de uma dezena de valas comuns nas montanhas dos Guerreros. Mas não há sinais dos estudantes.

No dia 20 de outubro, o padre Alejandro Solalinde, ativista pelos Direitos Humanos, declarou na televisão que uma testemunha afirmou que estavam todos mortos.

“Disse-me que viu alguns desses jovens, uns que estavam feridos, e outros que já tinham morrido, não me disse quantos, a serem enterrados juntos. Colocaram-lhes lenha por cima, regaram-nos com gasóleo e queimaram-nos. “

O povo quere-os vivos, levaram-nos vivos e assim devem regressar a casa. O grito passou fronteiras. Em frente ao consulado do México, no Rio de Janeiro, repete-se a exigência até à exaustão.

A escritora Elena Poniatowska, conhecida como símbolo da luta pelo reaparecimento dos estudantes raptados, recebeu a euronews em sua casa, no México. O discurso que proferiu na Praça do Zócalo, na capital, em 26 de outubro, um mês depois do rapto dos estudantes, comoveu os mexicanos.
Prémio da Literatura Miguel de Cervantes 2013, o mais importante da língua espanhola, Poniatowska é uma figura chave da defesa dos Direitos Humanos no méxico.
Explica o que se passa com clareza e indignação:

- São 43 jovens muito pobres, de famílias sem recursos, do campo.
Nas fotos, observei que dormiam em quartos muito pobres, nessa escola normal para formação de professores, com sacos cama por terra, sem móveis, com cartões no chão, sem colchões, num completo abandono….
Para estagiarem, precisam mendigar com um recipiente, para que as pessoas ajudem financeiramente, que contribuam com algumas moedas para poderem fazer o estágio.
São muito jovens, com muitas esperanças em mudar de vida, por isso é terrível que os tratem como lixo, só porque são pobres, não é?

A escritora mexicana, Elena Poniatowska, denuncia a relação entre os estudantes e o sistema de corrupção estabelecido pelas autoridades locais. O que nos descreve é muito grave:

- Obrigaram os jovens a entrar num autocarro porque, segundo a mulher de José Luis Abarca, o presidente da câmara de Iguala, em Ayotzinapa, eles iam interromper uma festa-comício que ela tinha organizado – ela é que mandava, tinha um poder ilegítimo. Por isso foram levados de autocarro e depois em em camiões e ninguém soube mais nada sobre eles. Na verdade, é um crime de Estado porque alguns jovens fugiram a tempo da perseguição policial ou da perseguição dos grupos locais – que penso serem governamentais – esconderam-se atrás das árvores e puderam, depois, testemunhar.

Conhecida opelo livro “A noite de Tlatelolco”, sobre o massacre os estudantes da Praça das Três Culturas, em 1968, Elena Poniatowska, com 82 anos de idade, continua envolvida na luta pela justiça e defesa do Estado de direito no México.

Elena Poniatowska – É um crime contra a humanidade , pois não é possível que o desaparecimento de 43 jovens fique impune, tinham o futuro pela frente, toda a vida por diante, que da noite para o dia os pais os procurem sem obter nenhuma notícia. Mas para nós, mexicanos, é uma infâmia, uma perda remarcável, uma perda significativa para todo o país. O nosso país afunda-se com isto.

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