O verdadeiro e o falso na crise dos migrantes

O verdadeiro e o falso na crise dos migrantes
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De  Dulce Dias com CHRIS HARRIS
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A classe política dos principais países confrontados com a chegada de migrantes em massa, não se coíbe de fazer afirmações muitas vezes falaciosas. Analisemos as mais comuns.

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A crise migratória sem precedentes, com a qual a Europa está a ser confrontada, divide a opinião pública – e a política também.

A classe política dos principais países confrontados com a chegada de migrantes em massa, não se coíbe de fazer afirmações sobre os refugiados – afirmações, muitas vezes falaciosas.

Analisemos as mais comuns.

  1. Orban: na sua maioria são migrantes económicos

Na sua maioria, são imigrantes económicos e não refugiados

Esta é uma das afirmações preferidas do primeiro-ministro húngaro.

Viktor Orbán diz que a grande maioria dos refugiados são, na realidade, imigrantes económicos, uma afirmação que encontra eco em Robert Fico, o seu homólogo eslovaco.

No entanto, segundo os dados da Amnistia Internacional, das 244.000 pessoas que chegaram, este ano, por mar, às ilhas gregas, 90% é originária da Síria, do Afeganistão e do Iraque – países cuja situação representa verdadeiras razões para o asilo.

A porta-voz da ONG para os Refugiados, Iverna McGowan, explica: “São dados que podemos lançar à cara dos que dizem tratar-se de imigração económica. Estamos, claramente, com uma crise de refugiados entre mãos.

Não temos qualquer prova desse fluxo de imigração económica. Temos investigadores no terreno, cidadãos de toda a Europa, que estão em contacto com essas pessoas, que ouviram as estórias dessas pessoas e que perceberam que se trata, realmente, de gente que está a fugir da guerra.

“Haverá, entre elas, pessoas que são migrantes económicos? Obviamente que haverá mas isso não significa que, antes de mais, se tenha de adotar procedimentos exaustivos que permitam estabelecer qual o caso de quem.”

Ouça a entrevista (em inglês) de Iverna McGowan, porta-voz da Amnistia Internacional 2. O EI envia terroristas?

O Estado Islâmico está a enviar terroristas entre os migrantes

Nigel Farage já proferiu este tipo de afirmação várias vezes.

Depois de alegadas informações, veiculadas pela imprensa britânica, sobre a infiltração de jihadistas no seio dos migrantes, o líder do UKIP, o Partido Independentista do Reino Unido, reagiu imediatamente.

Farage afirmou ao Channel 4 News: “Quando o EI diz que vai usar o fluxo de migrantes para inundar o continente com 5.000 ou 500.000 ativistas jihadistas, ou ainda mais, temos de ter muito cuidados com esses jihadistas, [quando se trata da política de asilo da União Europeia].”

Charlie Winter, investigador sobre jihadismo na Quilliam Foundation, garante que não há quaisquer provas dessas alegações e está convencido de que o autoproclamado Estado Islâmico tem outras prioridades.

E acrescenta: “Embora seja uma ideia assustadora a de que jihadistas possam estar infiltrados no meio dos refugiados que atravessam as fronteiras, seria uma abordagem demasiado arriscada caso tivessem ordens específicas para realizar operações específicas. Seria imprudente e não me parece, necessariamente, a maneira mais lógica.”

A principal preocupação do líder do Estado Islâmico, atualmente, é manter o controlo dos territórios que domina no Iraque e na Síria e garantir que não vai perder terreno face às diferentes forças que o atacam.

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Embora, [do ponto de vista do EI], a realização de atentados no Ocidente, de forma assustadora, notória e infame, seja benéfica, estes ataques não precisam de ser preparados a partir dos mais altos níveis do EI.

Uma opinião corroborada por Iverna McGowan, da Amnistia Internacional: “Grande parte dos que fogem da Síria estão, igualmente, a fugir do Estado Islâmico, de outros grupos armadas e, obviamente, do próprio regime sírio.” 3. Vučić: ‘os subsídios atraem imigrantes’

A maioria dos requerentes de asilo vem para a Europa para viver de subsídios

Segundo o primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vučić, os subsídios pagos aos requerentes de asilo são responsáveis pelo afluxo de migrantes à própria Sérvia.

É verdade que os requerentes de asilo recebem subsídios enquanto esperam que os processos sejam tratados. Mas vejamos o valor desses subsídios:

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Na Alemanha, um requerente adulto recebe, semanalmente, 88,50€, em França 85,87€, 56,50€ na Suécia, 47,05€ no Reino Unido, 42,56€ na Holanda e 3,75€ na Hungria.

Serão estes valore suficientes para influenciar os pedidos de asilo?

Os dados do Eurostat, de janeiro a março de 2015, mostram que a Alemanha foi, de facto, o país que mais pedidos recebeu (73.120).

Mas, entre os países acima citados, a Hungria foi o segundo a receber mais pedidos (32.810) apesar de pagar apenas um subsídio de 3,75€!!!

Seguem-se a França (14,775), a Suécia (11,415), o Reino Unido (7,330) e, por fim, a Holanda (2,420).

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Iverna McGowan, da Amnistia Internacional, explica:

“Vemos que a grande maioria destas pessoas está mesmo a fugir da guerra e da pobreza. Basta pensar na rudeza da viagem, no número de mortos, na perda de dignidade, para perceber quais são, realmente, os verdadeiros fatores [que os levam a sair dos seus países].

Não se trata de um passeio até à Europa. É uma viagem extremamente difícil. E temos de pôr fim a isso, oferecendo um acesso legal e seguro a quem precisa de proteção”.

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